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Influenciadores do garimpo divulgam no TikTok rotina em busca de ouro

Vídeos com a rotina no garimpo se proliferam no TikTok, enquanto governo federal tenta conter o avanço da atividade

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Imagem colorida mostra ilustração a respeito da presença de consteúdos sobre o garimpo no Tiktok - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida mostra ilustração a respeito da presença de consteúdos sobre o garimpo no Tiktok - Metrópoles - Foto: Gui Prímola/Metrópoles

No TikTok, garimpeiros têm ganhado projeção como influenciadores digitais. A rotina em busca de ouro e outros minérios é resumida em vídeos curtos que angariam milhares de curtidas e centenas de milhares de visualizações. O Metrópoles constatou diversos perfis que se proliferam com a promoção da atividade — alguns deles assumem atuar na ilegalidade.

Vídeos de pepitas de ouro e de maços recheados de dinheiro são entremeados por imagens da rotina de extração de minérios do solo, com uso de equipamentos como dragas, tratores e embarcações. A reportagem encontrou vídeos que se referem a estados como Pará, Rondônia e Mato Grosso.

Fontes ligadas ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) ouvidas pelo Metrópoles apontam que grande parte dos vídeos retrata a prática de garimpo ilegal, que é crime no Brasil.

Em parte das publicações é possível observar o uso de cadinho, um equipamento utilizado no garimpo ilegal para separar o ouro do mercúrio. O mercúrio é um metal que pode ser encontrado em rios e solos. O uso do minério é permitido apenas em indústrias, desde que seja regulamentada pela Agência Nacional de Mineração (ANM).

Em uma dos vídeos de um usuário que se identifica como Paulo Henryck Duarte, de 29 anos, os garimpeiros são surpreendidos pela presença de agentes do Ibama, que chegam em um helicóptero. Em outro registro, do mesmo perfil, ele se filma em meio a campos de escavação.

À reportagem, Paulo Henryck reconheceu que a atividade é ilegal: “Garimpo não é legalizado”. Ele afirmou já ter sido pego pela fiscalização e ter tido os documentos retidos, mas disse que não recebeu qualquer multa. Na atividade desde 2014, o garimpeiro diz que atua em áreas de Roraima, Mato Grosso, Pará e Rondônia. “Entrei [no garimpo] porque gosto de trabalhar”, explica.

Confira alguns vídeos:

A reportagem entrou em contato com todos os usuários que aparecem no vídeo e com a plataforma TikTok, mas não houve retorno até o momento. O Metrópoles ainda questionou a Polícia Federal, a ANM e o Ibama sobre a situação, que não responderam. O espaço segue aberto.

#garimpeironãoébandido

“O pai e a mãe dizia: ‘Estuda meu filho pra ser um doutor’. E eu entendia pra ser operador. Olha onde é que eu tô”, diz um trecho de uma música utilizada pelos garimpeiros ilegais para mostrar o trabalho realizado dentro da área de extração de minério.

A defesa da atividade, ainda que em contrariedade à lei, é elemento comum entre as postagens. Diversas delas acompanham tags como #garimpeironãoébandido.

A lavra ou extração de recursos minerais, como o ouro, sem autorização, permissão, concessão ou licença tem pena de seis meses a um ano, e multa. O crime está na Lei nº 9.605 de 12 de Fevereiro de 1998, referente a crimes ambientais.

Cruzada contra garimpo ilegal

A proliferação das postagens ocorre em paralelo à cruzada do governo federal contra o garimpo ilegal. Logo nos primeiros dias do início da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o governo precisou lidar com uma crise relacionada ao garimpo no território indígena Yanomami, em Roraima.

Desde então, o tom adotado pelo governo é de combate às ações ilegais, principalmente na Amazônia. No início deste ano, Lula disse que o governo não pode perder a guerra contra o garimpo e o desmatamento.

“A gente vai decidir tratar a questão de Roraima, questão indígena, dos Yanomami, como uma questão de Estado. A gente vai ter que fazer um esforço ainda maior, utilizar todo o poder que a máquina pública pode ter, porque não é possível que a gente possa perder uma guerra para garimpo ilegal, para madeireiro ilegal, para pessoas que estão fazendo coisas contra o que a lei determina”, afirmou o petista.

O garimpo ilegal traz consequências severas para o meio ambiente, como a sedimentação dos rios, contaminação da superfície por mercúrio e erosão do solo. A atividade conta com o uso de equipamentos de grande porte, por exemplo dragas, balsas e escavadeiras hidráulicas, e para que essas máquinas cheguem até o local de extração os criminosos desmatam as florestas adjacentes, o que também é considerado crime.

Garimpo ilegal no Brasil

A área tomada pelo garimpo ilegal no Brasil teve uma alta de 35 mil hectares em 2022, em comparação com o ano anterior. Os últimos dados divulgados pela plataforma MapBiomas, revelam ainda que a Amazônia concentra quase que a totalidade da mineração irregular no país, cerca de 92%.

Segundo o MapBiomas, a atividade de garimpo ilegal se concentra, principalmente, em terras protegidas, como o Parque Nacionail do Jamanxin, do Rio Novo e da Amazônia, no Pará; na Estação Ecológica uami Japurá, no Amazonas, e na terra indígena Yanomami, em Roraima.

Em 2022, mais de 25 mil hectares em terras indígenas foram tomados pelo garimpo ilegal.

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