Influencer que imitou filha com paralisia é investigado por 5 crimes
Influencer Igor Viana, de 24 anos, é suspeito de maus-tratos contra a própria filha, de apenas 2 anos, que tem paralisia cerebral
atualizado
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Goiânia – Os influencers Igor de Oliveira Viana, de 24 anos, e Ana Vitória Alves dos Santos, conhecida como Ana de Santi, de 22, são investigados pela Polícia Civil de Goiás, por crimes contra a filha, de apenas 2 anos, que tem paralisia cerebral. Os três moram em Anápolis, a cerca de 55 km da capital goiana.
De acordo com a delegada que investiga o caso, Aline Lopes, Igor é investigado por pelo menos cinco crimes. Já a mãe é investigada por um deles e, pelos outros quatro, deve responder na modalidade de omissão.
Vejas os crimes:
- Maus-tratos;
- Causar constrangimento à criança;
- Incitar discriminação contra a pessoa com deficiência;
- Estelionato;
- Desvio de proventos da pessoa com deficiência.
“Tudo que acontecia com a criança, a exposição, o desvio, aconteceu enquanto morava com a mãe também. Então, ainda que ela não seja autora direta, se ficar comprovado que ela não atuou para impedir o que o pai vinha fazendo, ela também pode ser responsabilizada pelos mesmos crimes, mas na forma omissiva”, afirmou a delegada ao G1.
Maus-tratos dos influencers
De acordo com a Polícia Civil, a investigação por esse crime surgiu a partir de denúncias de que a menina não estaria sendo bem cuidada, que estaria sendo negligenciada e que a casa em que ela estava não tinha condições de higiene. A apuração do caso começou no dia 20 de junho.
Segundo o Código Penal, as penas previstas pelo crime de maus-tratos a crianças são de detenção de 2 meses a 1 ano ou multa nos sem agravantes. Já caso haja lesão corporal grave, a previsão é de prisão de 1 a 4 anos.
Constrangimento à criança
O crime de causar constrangimento à criança passou a ser investigado após a publicação de vídeos nas redes sociais feitas pelo próprio Igor. Na internet, além de compartilhar a rotina da filha, ele também debochava da criança em alguns momentos.
Em um dos vídeos divulgados por Igor, ele chega a chamar a filha de inútil após pedir que ela vá ao mercado.
Em áudio enviado ao G1, Igor Viana confirmou que faz vídeos ironizando a filha por ela ter paralisia cerebral. Ele diz que a menina é “superchata” e que “a vontade, às vezes, é de largar [a criança] na porta do orfanato”.
“Eu não imaginava que uma criança que tem 10% do cérebro funcionando fosse tão chata e pudesse me dar tanto problema. A vontade, às vezes, é de largar na porta do orfanato e deixar alguém se virar, alguém tomar conta”, disse Igor.
Segundo o Código Penal, a pena prevista para o crime de submeter a criança a vexame ou constrangimento é de detenção de seis meses a dois anos.
Incitar discriminação contra a pessoa com deficiência
Segundo a delegada, as falas problemáticas de Igor que teriam causado constrangimento à filha, também teriam incitado discriminação contra a pessoa com deficiência.
“Ela é uma menina com deficiência. Quando ele faz essas ditas “brincadeiras” contra ela, ele está discriminando e incitando a discriminação às pessoas com deficiência. Está ali causando constrangimento não só a ela, mas a todas as crianças com deficiência”, explicou a delegada”, detalhou a delegada.
De acordo com a Lei Brasileira da Inclusão (LBI), praticar ou incitar discriminação de uma pessoa por sua deficiência prevê pena de 1 a 3 meses de reclusão e multa. A pena pode ser aumentada em 1/3 caso a vítima se encontre sob cuidados de quem praticou o crime.
Além disso, caso os crime sejam cometidos por meios de comunicação ou publicações, as penas podem ser de 2 a 5 anos de prisão e multa.
Estelionato
De acordo com a Polícia Civil, há denúncias de que Igor Viana pedia doações para o tratamento da filha, no entanto, ele já tinha conseguido bens. Conforme a investigadora, há indícios de que ele usava o dinheiro com outras coisas.
O influencer alegou que não cometeu os crimes contra a filha, mas chamou os seguidores de “trouxas” por acharem que doações em dinheiro feitas para a menina seriam usadas apenas para benefício dela.
“Minha filha não tem Pix, então se eles foram trouxas, a culpa não é minha. Eu não sou obrigado a usar o dinheiro que eles mandam especificamente com a minha filha. Eu também tenho necessidades a serem supridas. Também sou um ser humano”, falou Igor.
A pena prevista para o estelionato comum é de 1 a 5 anos de prisão.
Desvio de proventos da pessoa com deficiência
Junto ao crime de estelionato, Igor é investigado pelo crime de desvio de proventos da pessoa com deficiência, já que a menina tem paralisia cerebral. Este é o único crime em que a mãe da menina não é investigada na forma de omissão.
Conforme a delegada Aline Lopes, os influenciadores enganaram os seguidores, receberam o dinheiro que seria para a criança, e gastaram com outra coisa, eles estariam desviando e se apropriando do dinheiro, usando-o em benefício próprio. Há suspeitas de que a mãe tenha feito uma cirurgia plástica com o dinheiro arrecadado.
Ainda de acordo com a delegada, nenhum dos dois, nem o pai e nem a mãe, possuem qualquer fonte de renda, a não ser a produção de conteúdo na internet. E o conteúdo deles na internet é 90% em volta da filha, da exploração da imagem da filha, da deficiência da filha.
De acordo com a Lei Brasileira da Inclusão (LBI), se apropriar ou desviar bens de uma pessoa com deficiência prevê pena de 1 a 4 anos de prisão e multa.
Esclarecimentos
Em nota, a defesa de Ana Vitória disse que ela é inocente, mas que, por se tratar de inquérito policial que tramita sob sigilo, a defesa e os envolvidos estão impedidos de prestar informações mais detalhadas sobre a investigação.
O advogado de defesa Daniel Louredo Cardoso informou também que a mãe da menina já se apresentou a Delegacia de Proteção à Criança e Adolescente (DPCA) para prestar todos os esclarecimentos que o caso requer.
Já a defesa de Igor informou que ele está à disposição da Autoridade Policial, e que ele deve se apresentar de forma espontânea junto a delegacia de proteção à criança e adolescente — DPCA, para prestar todos os esclarecimentos que o caso requer, cooperando com toda investigação.