Influencer fala da morte de filha por serial killer: “10 anos de dor”
Em 2 de agosto de 2014, Ana Lídia de Sousa Gomes, de apenas 14 anos, foi assassinada em um ponto de ônibus pelo serial killer de Goiânia
atualizado
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O dia 2 de agosto deixou de ser uma data comum e possivelmente feliz para a digital influencer Ada Marselha, desde 2014. Nesse dia, há 10 anos, a filha dela, Ana Lídia de Sousa Gomes, de 14 anos, foi assassinada pelo homem que ficou conhecido como serial killer de Goiânia.
O tempo passou, mas a memória segue viva sobre o que aconteceu naquele dia. Era um sábado e Ada se recorda que a filha estava em um ponto de ônibus, à luz do dia, onde pegaria a condução para encontrá-la na Feira da Lua. Sozinha, a menina foi surpreendida pela aproximação de um motociclista, que parou, sacou a arma, fez os disparos e fugiu.
“Ele matou por matar”, diz a mãe, que hoje se sente mais forte diante da perda, mas passou por maus momentos e teve a vida revirada, nesse período. O assassino é Tiago Henrique Gomes da Rocha, hoje com 36 anos, e preso desde outubro de 2014 no Núcleo de Custódia do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia.
Ana Lídia foi a última vítima dele antes de ser preso e a que fez a polícia ter certeza de que havia um serial killer na capital goiana naquele ano. Além dela, só em 2014, Tiago havia matado outras 15 mulheres. Ele foi acusado, ao todo, por 39 assassinatos – os demais foram cometidos em anos anteriores.
“[A morte dela] é uma coisa que a gente nunca esquece. Sempre lembro, mas hoje em dia sou forte e busco muita confiança em Deus para me manter forte. Jamais imaginaria que isso aconteceria com a gente. Eu ficava apreensiva, porque tinha aquele burburinho todo de serial killer na cidade, mas jamais pensava que fosse acontecer tão próximo. É o tipo de coisa que quando bate na sua porta, o susto é muito grande. Realmente, é difícil de aceitar”, afirma Ada.
“Disseram que havia ocorrido um acidente”
A mãe foi a última pessoa com quem a filha falou por telefone, antes do assassinato. Assim que o socorro chegou, e ela já morta no ponto de ônibus, os militares do Corpo de Bombeiros pegaram o celular da adolescente e religaram para o último número registrado. Ada atendeu, disse que era a mãe de Ana Lídia e os bombeiros pediram que ela se deslocasse para o local, pois havia ocorrido “um acidente”.
A influencer conta que foi tudo tão rápido, entre a última ligação com a filha e o assassinato, que não deu tempo nem de estranhar uma possível demora dela para chegar ao local onde estava sendo aguardada. “Foi coisa de 30, 40 minutos, no máximo. Estava dentro do previsto”, diz Ada.
A imagem encontrada por ela no ponto de ônibus, no entanto, estava longe de ser um acidente, como haviam amenizado os bombeiros por telefone. O local já estava todo isolado, ninguém podia se aproximar e a influencer viu, de longe, o corpo da filha no chão, com todos os pertences (mochila e celular) ao lado. Nada foi roubado.
“Até hoje, não sai da minha mente a sinalização do local, a imagem que vi quando cheguei lá. A fita de sinalização estava numa distância grande do ponto onde estava o corpo dela e ninguém podia se aproximar. Até hoje, quando vejo essa fita amarela, fico mal e sinto um estranhamento imediato. Lembro que não sabia o que pensar na hora sobre o que teria ocorrido, porque ela estava com todos os pertences, não foi roubada. O pessoal que estava no local começou a mencionar que poderia ser o serial killer”, relata a mãe.
“Me culpei por muitos anos”
Os primeiros anos após a morte de Ana Lídia não foram nada fáceis para Ada. A influencer diz ter se culpado pelo ocorrido e remoeu esse sentimento por, pelo menos, dois anos. À época, ela trabalhava como gerente em uma loja de roupas e acabou perdendo o emprego. “Pedi demissão, porque não consegui voltar de imediato”, conta.
Vários questionamentos surgiram, após a perda da filha. “Por muito tempo, me culpei e não aceitei. Fiquei me perguntando porque não fui buscá-la aquele dia. Passaram mil coisas na minha cabeça. Todo 2 de agosto, eu me recordo e fico lembrando das cenas. Esteja onde eu estiver, posso estar viajando, que eu lembro do horário, de tudo”, diz.
Ada encontrou amparo para se reerguer na religião e no tratamento psicológico. No primeiro momento, nutriu certa revolta com Deus, mas depois foi a igrejas católicas, evangélicas e a centros espíritas, onde recebeu cartas psicografadas da filha.
De cinco anos para cá, a vida mudou completamente. A ex-gerente de lojas e vendedora ao lado da irmã numa banca de roupas na Feira da Lua, em Goiânia, virou digital influencer e diz viver, hoje, o sonho que era de Ana Lídia. “Ela gostava muito dessas coisas, amava moda, era o sonho dela”, afirma.
Quem era o serial killer de Goiânia
O assassino confesso, Tiago Henrique Gomes da Rocha, já passou por todos os júris e acumulou uma pena final que ultrapassa os 700 anos de prisão. O homem que aterrorizou Goiânia em 2014 e virou notícia internacional trabalhava como vigilante em um hospital infantil e passava, facilmente, ileso por qualquer suspeita.
A maneira como ele agia era sempre a mesma: de moto, sem tirar o capacete, ele saía armado pelas ruas da cidade em busca das vítimas, em diferentes locais e horários. Tiago matou em pontos de ônibus, bares, lanchonete, ruas e avenidas abertas, desafiando a polícia goiana.
Ele disse, em depoimento, que não havia um motivo específico contra as vítimas, apenas uma “vontade forte de matar”. No decorrer dos julgamentos, foi submetido a uma análise psiquiátrica, que o diagnosticou com Transtorno de Personalidade Antissocial. A defesa tentou usar o laudo para abrandar as penas atribuídas a ele, mas o Superior Tribunal de Justiça (STJ) não acatou o pedido.
Ada Marselha, mãe de Ana Lídia, diz ter apagado da memória qualquer imagem ou sentimento relacionado a Tiago. Ela também não conseguiu comparecer ao julgamento do caso da filha, ocorrido em 2015. O que fica mesmo, segundo ela, é a sensação de que a jovem estava indo ao seu encontro, “mas não chegou”.