Inflação em 2024: como petistas avaliam o risco de estouro da meta
Meta de inflação de 3% é definida pelo Conselho Monetário Nacional. A partir de 2025, sistemática será meta contínua, e não ano-calendário
atualizado
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Expoentes do Partido dos Trabalhadores (PT) têm começado a reagir ao aumento da inflação neste ano e ao risco de estouro (ou seja, descumprimento) da meta de 3% em 2024. Estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que reúne o Ministério da Fazenda, o Ministério do Planejamento e Orçamento e o Banco Central (BC), a meta de inflação deste ano é de 3%, com variação de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, podendo oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).
Os mais de 100 analistas do mercado financeiro consultados pelo Banco Central esperam que a inflação estoure o teto da meta e aumentaram, nesta semana, a estimativa do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Eles esperam que o índice que mede a inflação oficial do país encerre o ano em 4,84%. O próprio BC também já admitiu o descumprimento da meta de inflação em 2024.
Para 2025, a projeção do mercado para o IPCA subiu de 4,40% para 4,59% — o que significa que os analistas financeiros estimam que o índice deve estourar o teto de 4,5% da meta inflacionária pelo segundo ano consecutivo.
Em 2023, a inflação foi de 4,62%, 1,37 ponto percentual (p.p.) acima da meta para a inflação de 3,25%. Embora elevada, ela continuou dentro do intervalo de tolerância estabelecido pelo CMN.
O que dizem os petistas
A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, foi uma das vozes mais críticas à meta. Em 2023, antes da mudança na sistemática da meta de inflação (entenda mais sobre isso abaixo), Gleisi defendeu que o CMN mudasse o centro da meta, que ela disse ter sido fixado “irrealisticamente” antes do atual governo Lula. O próprio presidente da República defendia uma revisão da meta de inflação para cima, mas acabou convencido pelos ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento).
Recentemente, pelas redes sociais, Gleisi colocou em dúvida o que chamou de “projeções pessimistas da inflação para pressionar os juros”. Já em discurso na abertura do seminário nacional do PT, na última quinta-feira (5/12), em Brasília, ela questionou:
“Se for para deixar que os preços dos combustíveis, da energia e dos serviços públicos essenciais sejam definidos com base no lucro de empresas privadas ou privatizadas, para que serviria o PT?”.
Dias depois, no sábado (7/12), resolução do diretório nacional do PT trouxe que “é preciso combater a alta dos preços dos alimentos, que refletem os efeitos da crise climática sobre a cadeia produtiva”.
Outro expoente do PT, o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, defendeu que a inflação não seja controlada apenas com alta da taxa de juros e restrição ao crédito. Em evento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no Rio de Janeiro em agosto, Marinho considerou que há outras formas de controlar o aumento de preços, como a ampliação da produção.
“O Banco Central precisa aprender que, combater inflação, não tem só um jeito, que é o jeito de restrição de crédito e de aumento de juros. Controla-se inflação também com oferta, com mais produção, mais capacidade aquisitiva da classe trabalhadora do país. Porque há espaço para isso. Nós vimos nos governos Lula 1 e 2, que controlamos a inflação com mais produção”, afirmou o auxiliar do presidente Lula.
Na semana passada, o ex-ministro da Fazenda de governos petistas (entre os anos de 2006 e 2014) Guido Mantega classificou a meta de inflação de “errada”. “O Brasil não consegue ter uma inflação de 3% em condições normais, só se estiver em estagnação ou se despencassem todos os preços das commodities” disse ele em entrevista ao UOL, classificando a meta atual de “um problema”.
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Nesse sentido, Mantega e outros petistas e nomes ligados à esquerda começam a defender uma mudança no atual patamar da meta, por considerá-la de difícil cumprimento. Essa defesa, porém, ainda tem sido feita de forma tímida e circunscrita aos bastidores. Há, na equipe econômica, uma avaliação, às vezes representada na forma de torcida, para que a inflação fique dentro da meta, próxima ao limite superior.
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IPCA de novembro
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga nesta terça-feira (9/12) o IPCA do mês de novembro. Os preços subiram 0,56% em outubro — o que representa alta de 0,12 ponto percentual (p.p.) em comparação a setembro (0,44%). Com isso, o Brasil teve inflação acumulada de 4,76% nos 12 meses — 0,26 ponto percentual acima do teto da meta para 2024. No ano, o IPCA acumulado é de 3,88%.
A inflação de novembro deve desacelerar em relação a outubro, tendo como principais contribuições os preços de energia elétrica, devido à mudança para a bandeira amarela, e do grupo de saúde e cuidados pessoais, em razão dos descontos de Black Friday. No entanto, em contrapartida, economistas e consultorias esperam que os grupos de alimentação no domicílio e despesas pessoais amorteçam a queda.
Em caso de descumprimento da meta, o BC precisa divulgar uma carta aberta ao ministro da Fazenda explicando as razões para o estouro. Isso porque a autoridade monetária é que faz o controle da inflação, através da taxa básica de juros (Selic), definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) a cada 45 dias. A nova Selic será anunciada nesta quarta-feira (11/12).
Meta contínua
Em meados deste ano, houve mudança na sistemática da meta de inflação, que passou de ano-calendário para meta contínua, sendo definida com três anos de antecedência. Essa sistemática, porém, só será efetivamente adotada a partir do próximo ano.
De 1999 até 2024, a meta se refere à inflação do ano-calendário. Entre 1999 e 2018, o CMN definia em junho a meta para a inflação de dois anos-calendário à frente e, entre 2019 e 2023, para três anos-calendário à frente.
A partir de janeiro de 2025, visando se adequar às melhores práticas e à experiência internacional, a meta se refere à inflação acumulada em doze meses, apurada mês a mês, conhecida como “meta contínua”. Por exemplo, em janeiro de 2025, a inflação acumulada em doze meses é comparada com a meta e seu intervalo de tolerância. Em fevereiro seguinte, o mesmo procedimento, e assim por diante. Assim, a verificação se desloca ao longo do tempo, não ficando mais restrito ao mês de dezembro de cada ano.
Se a inflação ficar fora do intervalo de tolerância por seis meses consecutivos, é considerado descumprimento da meta. A utilização desse período evita a caracterização de descumprimento em situações de variações temporárias na inflação. Esse é o caso, por exemplo, de um choque em preços de alimentos que faça com que a inflação fique fora do intervalo de tolerância por apenas alguns meses.