Indústria de seringas desconhece plano de vacinação do governo, diz setor
Fabricantes ainda não foram informados sobre a imunização, para preparar estoque. Compras do governo estão suspensas por alta nos preços
atualizado
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São Paulo – Apesar de o presidente Jair Bolsonaro afirmar que os municípios têm seringas suficientes para a vacinação, uma nova licitação para compra do material está em preparação pelo governo federal – os fabricantes do equipamento, porém, ainda não foram informados sobre o ritmo do plano de imunização do governo, para a preparação de estoque.
Em entrevista ao Metrópoles, o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde (Abimed), Fernando Silveira Filho, disse que é essencial que o setor saiba “com clareza quando se inicia o processo de imunização e a demanda necessária para cada etapa dessa campanha”.
Na quarta-feira (6/1), após fracasso na compra de seringas, Bolsonaro afirmou que suspendeu a compra do item até que os “preços voltem à normalidade”. O governo tentou comprar 331,2 milhões de seringas, mas só conseguiu 7,9 milhões. A indústria reclamou que o governo pretendia pagar um preço abaixo do que é praticado no mercado.
Devido ao descompasso, o setor aguarda que o governo anuncie, em breve, uma nova licitação, segundo o presidente da Abimed. Para ele, a nova aquisição deveria ocorrer, daqui para frente, em sintonia com a programação de vacinação, que o setor e o país ainda desconhecem.
“À medida que você vai tendo disponibilidade das vacinas, você vai fazendo as campanhas de vacinação ou vai dando continuidade à campanha dentro de um cronograma. Essa é a expectativa agora”, diz.
Na avaliação dele, um risco de abastecimento pode ser considerado “caso não haja um planejamento para a campanha”. Silveira Filho, no entanto, demonstra otimismo. “Acho que isso não vai acontecer. Vai se fazer uma adequação do que existe de disponibilidade e capacidade instalada no país versus o que o governo vai poder considerar de eventuais importações”, acredita.
Desde dezembro, quando São Paulo anunciou calendário de vacinação com início para janeiro, o governo federal é pressionado para acelerar o cronograma nacional. Inicialmente, o Ministério da Saúde previu iniciar o plano de imunização em março, com duração de até 16 meses, mas os dados ainda não foram apresentados ao setor, para preparo de estoque.
O presidente da Abimed diz que não é possível a entidade confirmar se os municípios têm seringas suficientes, como disse o chefe do Executivo do país. Isso porque geralmente quem gerencia essa compra é o governo federal, já que o plano de imunização brasileiro é nacional.
Impacto no setor
Assim como ocorreu em outros setores da economia, a pandemia também causou impacto na indústria de equipamentos para a saúde. Embora a aceleração na produção de máscaras e luvas indique o contrário, o presidente da Abimed afirma que a maioria dos procedimentos relativos a acompanhamento de tratamento, exames e cirurgias eletivas foi suspensa.
“Foi postergado primeiro pelo impacto da pandemia em si, e depois pelo receio das pessoas em voltar a ir a hospitais e consultórios médicos. Isso deixou o saldo bastante ruim, bastante negativo, em termo de atividade de negócio”, avalia.
Para este ano, havia expectativa de retomada, mas a previsão foi abalada com o retorno da alta no número de casos e mortes pela Covid-19.
“Existia a perspectiva de que o primeiro semestre ainda seria muito difícil, porque ainda estaria sob impacto da pandemia, com alguma possibilidade de melhora para o segundo semestre, mas agora, em face da volta acelerada do número de contaminações e a questão do processo de vacinação, tudo isso faz com que 2021 não seja muito melhor ou diferente de 2020. Pelo menos essa é a tendência que se desenha hoje.”