Indígena vacinado contra Covid-19 no AM: “Temos que dar o exemplo”
Reportagem do Metrópoles acompanha ação sanitária em Tabatinga, no Amazonas. Lá, 35 mil pessoas serão vacinadas durante campanha
atualizado
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Enviados especiais a Tabatinga (AM) – Mesmo com o impacto de notícias falsas e até mesmo desconhecimento do processo de elaboração e aprovação de uma vacina, indígenas da aldeia Umariaçu, em Tabatinga, município amazonense distante 1,1 mil quilômetros de Manaus, comemoraram o início da campanha de vacinação contra a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.
O técnico de enfermagem Tarcis Marques (foto em destaque), de 34 anos, foi o primeiro profissional de saúde a ser vacinado na região do Alto Rio Solimões. Emocionado, ele estimulou que os conterrâneos recebam a dose e se protejam contra a doença.
“Estou dando o exemplo para a minha população. O povo estava em pânico por causa da vacina. As pessoas precisam se prevenir dessa doença, que é fatal. Falam que a vacina faz mal, mas como profissional de saúde estou dando o exemplo”, salientou, minutos após receber a primeira dose do imunobiológico.
Tarcis contou que antes do início da campanha, que se estenderá por dias, os profissionais do posto de saúde estavam fazendo um trabalho de conscientização. “Conversamos sobre a importância da prevenção. Eu já tive Covid-19. Senti falta de ar, fraqueza, dor de cabeça e ainda bem que não precisei de hospitalização”, comentou.
Ele fez um apelo: “Metade das pessoas tem medo de tomar a vacina. Falaram que a vacina iria matar, mas eu estou mostrando que isso não irá acontecer”, frisou.
No primeiro dia de campanha na região, o indígena Jeferson Cruz Pinto, de 18 anos, recebeu a dose da vacina. Tímido, ele disse que a imunização é importante para a preservação da saúde. “Estou muito feliz”, resumiu ao deixar o posto de vacinação.
No Alto Rio Solimões, Isabel Cezário, de 68 anos, foi a primeira pessoa a receber a dose da proteção. A indígena da etnia Ticuna disse que a chegada da proteção traz esperança para a comunidade.
Meta de 90%
A expectativa da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) do Ministério da Saúde é de que ao menos 90% da população indígena seja vacinada. A campanha prevê a imunização de 430 mil pessoas, incluindo nativos e profissionais de saúde que vivem em aldeias.
O coordenador da Sesai na operação em Tabatinga, Alexandre Nogueira, explica que o programa de imunização do Brasil é reconhecido internacionalmente e que o país tem uma cobertura muito significativa. “Temos excelência também na vacinação indígena”, frisa.
Mesmo com as dificuldades de notícias falsas e boatos sobre a eficácia e segurança da vacina, ele acredita que a campanha será bem sucedida. “Estamos trabalhando para levar informação de qualidade e precisa à população para que ela possa ser vacinada”, comenta.
Somente na região do Alto Solimões vivem 70 mil indígenas. São três etnias — Ticuna, Kocama e Kaixana. Esse é considerado o segundo maior distrito indígena do Brasil. Em todo o país, 430 mil indígenas serão imunizados.
Segundo dados do Comitê Nacional de Vida e Memória Indígena, desde o início da pandemia 40.125 indígenas adoeceram por Covid-19. Desses, 528 morreram. No Alto Rio Solimões são 2.026 casos confirmados e 37 mortes, de acordo com boletim da Sesai.
A campanha na região ocorre após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberar o uso de duas vacinas no país no último domingo (17/1). A imunização não é obrigatória. Para receber a dose, o indígena precisa ter mais de 18 anos.
A imunização de povos indígenas ocorre simultaneamente nos 34 distritos indígenas que abrangem 11 unidades da federação. Somente para Tabatinga, o governo enviou mil doses da vacina.
*Os repórteres viajaram a convite do Ministério da Defesa.