Para mostrar como acontecem o aliciamento e a travessia de traficantes e vítimas dentro e fora do país, o Metrópoles foi à Bolívia, ao Peru e à Venezuela. Acessou o solo estrangeiro pela porta da frente, mas também percorreu rios, vias clandestinas e trilhas abertas em meio à mata, principais acessos do crime organizado na América do Sul.
Indiciado por tráfico humano obrigava vítimas a tatuarem sobrenome dele
Pai e filho foram indiciados pela Polícia Federal no âmbito da Operação Sedução, deflagrada em outubro do ano passado
atualizado
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A Polícia Federal concluiu o inquérito da Operação Sedução, deflagrada em outubro de 2020, para apurar o crime de tráfico internacional de pessoas para fins de exploração sexual.
Ao final da investigação, dois homens (pai e filho) foram indiciados por tráfico de pessoas, cárcere privado, estupro, tortura, lesão corporal e redução a condição análoga à de escravo, conforme a conduta individual praticada.
No inquérito policial, há relatos de que as vítimas eram obrigadas a tatuar o sobrenome do principal investigado nas costas, evitando que as mulheres aliciadas se desligassem dele e promovendo sua “marca” para os usuários de sites pornográficos adultos. Essa prática se identificou como sendo comum aos produtores internacionais deste tipo de conteúdo.
A Operação Sedução teve início em setembro de 2020, após uma vítima brasileira ter escapado do agressor e se refugiado na Embaixada do Brasil em Minsk, na Bielorrússia.
A vítima, à época com 18 anos, natural de Lajeado e com residência em Porto Alegre, vinha sofrendo abusos psicológicos e físicos de cunho sexual pelo investigado, sendo obrigada a se expor em práticas sexuais transmitidas ao vivo através da internet.
Após diligências e representação judicial, foi cumprido um mandado de busca e apreensão em Porto Alegre. A operação também resultou na prisão do principal investigado, em Minsk, após sua inclusão na lista “difusão vermelha” da Interpol. Em fevereiro deste ano, o investigado foi extraditado para o Brasil e, desde então, permanece preso preventivamente em Porto Alegre.
Reportagem especial do Metrópoles publicada no dia 8 de agosto deste ano mostra como funciona o tráfico humano em algumas áreas de divisa com outros países.
O mercado é bilionário e o lucro proveniente dele está perto de ultrapassar o do tráfico de drogas e armas. No mundo, o tráfico de pessoas movimenta mais de US$ 32 bilhões por ano, segundo o escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC). As vítimas são utilizadas em exploração sexual, trabalho escravo ou inseridas no mercado ilegal de compra e venda de órgãos e tecidos.