Abraji repudia ataque de vice-PGR Lindôra Araújo a Guilherme Amado
Colunista do Metrópoles revelou caso de empresários bolsonaristas que defenderam golpe de Estado caso Bolsonaro não vença eleição
atualizado
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A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) se pronunciou, através de nota, na noite desta sexta-feira (9/9), contra o ataque direcionado pela vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, ao colunista do Metrópoles Guilherme Amado (foto em destaque). A PGR pediu que o Supremo Tribunal Federal (STF) anule e tranque investigações contra oito empresários apoiadores de Jair Bolsonaro (PL), acusados de defender um golpe de Estado.
Na manifestação de Lindôra, ela definiu o trabalho de Guilherme Amado como “leviano”. “O supramencionado desabafo do Exmo. Ministro seria suficiente para um olhar mais aprofundado acerca da veracidade da pretensa existência de uma conspiração criminosa de empresários e das terríveis consequências desse leviano ato jornalístico que deu ensejo à instauração de uma investigação e à decretação de diversas medidas cautelares”, diz a vice-PGR.
O pedido foi negado pelo ministro Alexandre de Moraes, que argumentou que a PGR perdeu o prazo: “O agravo é manifestamente intempestivo, pois foi protocolado somente em 9/9/2022, após 18 dias da intimação, quando já esgotado o prazo de cinco dias previstos no regimento do STF”.
Amado é conselheiro fiscal da Abraji. Ele revelou em 17 de agosto as mensagens trocadas em grupo de WhatsApp formado por empresários como Luciano Hang, dono da Havan; Afrânio Barreira, do Grupo Coco Bambu; José Isaac Peres, dono da rede de shoppings Multiplan; José Koury, dono do Barra World Shopping, no Rio de Janeiro; Ivan Wrobel, da construtora W3 Engenharia; e Marco Aurélio Raymundo, o Morongo, dono da marca de surfwear Mormaii.
A defesa explícita de um golpe, feita por alguns integrantes do grupo, se soma a uma postura comum a quase todos: ataques sistemáticos ao Supremo Tribunal Federal (STF), ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a quaisquer pessoas ou instituições que se oponham ao presidente Bolsonaro.
“É lamentável que uma procuradora da República faça uso do cargo para, em uma manifestação oficial perante a Suprema Corte do país, atacar um jornalista, sobretudo no período eleitoral, em que a imprensa é ainda mais necessária para garantir a lisura do processo democrático”, destaca a Abraji.
Leia a íntegra da nota:
“Nesta sexta-feira (09.set.2022), em manifestação enviada ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), a vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, defendeu o arquivamento da investigação que apura mensagens compartilhadas por empresários aliados ao presidente Jair Bolsonaro. Nas conversas reveladas pelo jornalista Guilherme Amado, do Metrópoles, alguns deles pregam uma ruptura democrática, caso o presidente não seja reeleito.
Na petição, a ocupante do segundo cargo mais alto do Ministério Público Federal (MPF) não se limitou a criticar o ministro ou a pedir a anulação do caso. Araújo chamou de “leviano” o trabalho jornalístico de Guilherme Amado:
“O supramencionado desabafo do Exmo. Ministro seria suficiente para um olhar mais aprofundado acerca da veracidade da pretensa existência de uma conspiração criminosa de empresários e das terríveis consequências desse leviano ato jornalístico que deu ensejo à instauração de uma investigação e à decretação de diversas medidas cautelares …”
O trecho acima recupera um episódio de 2020 envolvendo o ministro Alexandre de Moraes e o colunista. A estratégia é insinuar que o jornalista teria um padrão de divulgar mentiras. Quando ainda trabalhava na Revista Época, Guilherme Amado errou ao informar que o ministro teria contraído covid-19. Como manda o bom jornalismo, tão logo identificado o erro, ele corrigiu o erro de maneira transparente e se desculpou.
Em janeiro de 2021, a Abraji já havia se manifestado sobre um ofício enviado ao STF pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, pedindo que Guilherme Amado entregasse os documentos que revelaram que órgãos federais estariam atuando para ajudar a defesa do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente. Entregar os documentos identificaria a fonte de Amado, o que contraria a Constituição e o direito de sigilo de fonte. A Abraji condenou a tentativa de intimidação.
Depois do recurso apresentado por Lindôra Araújo, o ministro Alexandre de Moraes decidiu negar o pedido da PGR que tentava anular o bloqueio de contas de empresários bolsonaristas.
É lamentável que uma procuradora da República faça uso do cargo para, em uma manifestação oficial perante a Suprema Corte do país, atacar um jornalista, sobretudo no período eleitoral, em que a imprensa é ainda mais necessária para garantir a lisura do processo democrático.
A Abraji se solidariza com Guilherme Amado, que é conselheiro fiscal da associação, e repudia tentativas como a que ele sofreu de autoridades públicas que tentam intimidar a imprensa e o trabalho jornalístico, essenciais para qualquer democracia.
Diretoria da Abraji, 9 de setembro de 2022″.