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Ilha de Brocoió, o elefante branco que poderia ajudar na crise do Rio

Palácio de Brocoió, que vale cerca de R$ 45 milhões, sofre com a deterioração e a inércia do governo em planejar propostas para o espaço

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Palácio de Brocoió, na Baía de Guanabara, RJ
1 de 1 Palácio de Brocoió, na Baía de Guanabara, RJ - Foto: Aline Massuca/Metrópoles

Rio de Janeiro – Atolado em denúncias de corrupção e praticamente quebrado financeiramente, o Rio de Janeiro também sofre com a falta de planejamento e a inércia em relação a projetos para um de seus patrimônios mais valiosos: o Palácio de Brocoió.

A imponente construção de arquitetura normanda, da década de 1930, fica localizada na Ilha de Brocoió, um espaço de cerca de 200 mil m², na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro.

Ao lado do Palácio Guanabara, sede do governo, e do Palácio das Laranjeiras, residência oficial do governador, Brocoió é um verdadeiro elefante branco do estado do Rio de Janeiro.

No governo de Sérgio Cabral (MDB), foi feita uma reforma que custou mais de R$ 1 milhão aos cofres públicos. Sob o comando do governador seguinte, Luiz Fernando Pezão, também do MDB, havia a ideia de tornar o casarão uma escola de hotelaria. Nada aconteceu. Com a prisão de Pezão, Francisco Dornelles (PP) assumiu o estado e decidiu vender o local.

Durante dois anos, a ilha ficou à venda pelo valor de R$ 45 milhões, mas nenhum comprador se interessou.

“Problemas de conservação do Palácio e elementos espalhados pela ilha que deveriam estar sendo preservados estão se deteriorando. O lixo, muito presente naquela região da Baía de Guanabara, dificulta essa venda”, analisa Rogério Villas Boas, corretor de imóveis tombados há cerca de 25 anos. “Hoje, se o governo tentasse vender por R$ 8 milhões, já não seria fácil encontrar um comprador”, conclui.

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Palácio de Brocoió foi construído por Octávio Guinle, fundador do Copacabana Palace
Ilha de Brocoió com o Palácio de Brocoió ao fundo
Palácio de Brocoió já recebeu figuras como o ator Errol Flynn
Carlos Larceda chegou a morar no Palácio de Brocoió quando foi governador da Guanabara
Ilha de Brocoió, na Baía de Guanabara, RJ
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Palácio de Brocoió, na Baía de Guanabara, RJ

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Palácio de Brocoió foi construído por Octávio Guinle, fundador do Copacabana Palace

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Atualmente, a manutenção da Ilha de Brocoió custa aos cofres do estado do Rio aproximadamente R$ 96 mil por ano (cerca de R$ 8 mil por mês). Três servidores fazem a manutenção básica do local, como corte da grama e poda de árvores. Esse é o maior custo (cerca de R$ 78 mil ao ano), seguido por insumos e equipamentos para jardim, que custam cerca de R$ 12 mil ao ano.

Já o palácio não recebe manutenção há anos, e precisa de nova restauração. A piscina está danificada, o telhado necessita de remendos, vidraças estão quebradas, azulejos dos banheiros destruídos, torneiras de bronze precisando de restauro, entre outros.

“A ilha não está abandonada. O palácio precisa de uma restauração, não só uma reforma. O órgão, por exemplo, não está funcionando e precisa de conserto”, conta Geisa Hartmann, superintendente de Restauro da Casa Civil do governo do estado, referindo-se ao órgão alemão, feito sob encomenda, que tocava sozinho em noites de gala no Palácio de Brocoió.

O atual governo do estado do Rio de Janeiro não pensa em vender a Ilha de Brocoió. Mas também não tem nenhuma iniciativa concreta para o destino do espaço. Discute-se muito sobre projetos que levarão turismo ao local, mas, para isso, precisaria de investimento – o que esbarra na crise.

“É claro que a venda do patrimônio ou algum projeto que gere emprego e renda ajudaria nessa fase financeira ruim que o estado está passando. Há ideia de receber turistas, de fazer uma escola de hotelaria, mas tudo muito complicado, porque precisa de verba para iniciar isso. Com a pandemia, então, tudo ficou mais difícil”, afirma uma fonte do governo estadual.

Para a população da Ilha de Paquetá, vizinha, a apenas 300 metros de distância, uma possível proposta de levar turistas para a Ilha de Brocoió poderia ser uma oportunidade de renda local.

“Ia ajudar não só os comerciantes de Paquetá, com um fluxo grande de turismo, como também ia gerar emprego. Seria interessante, caso tenha algum projeto, colocar os próprios ilhéus para trabalhar dentro da ilha. Gera renda para o morador, gera renda para o comerciante. Ia ser sensacional”, diz Elias Junior, dono de uma confeitaria e morador da Ilha de Paquetá.

Um pouco de história

Com materiais importados da França e de Portugal, a Ilha de Brocoió foi urbanizada na década de 1930 pelo seu antigo proprietário o empresário Octávio Guinle, conhecido por ser o fundador do famoso hotel Copacabana Palace e de pertencer a uma família rica e tradicional do Rio de Janeiro.

Guinle uniu duas pequenas ilhas, mandou aterrar e chamou o arquiteto francês Joseph Gire para construir um palácio estilo normando no coração de aproximadamente 200 mil m².

Entre 1932 e 1944, Octávio Guinle recebeu em Brocoió importantes figuras do cenário nacional e até internacional, como o presidente Getúlio Vargas, o ator australiano Errol Flynn e até a esposa do general Chiang Kai-shek, que foi presidente da China entre os anos de 1928 e 1949, que usou a ilha para se recuperar de uma estafa.

Em 1944, a prefeitura do então Distrito Federal comprou a ilha e o palácio, tornando o espaço patrimônio público. Quatro anos depois, a administração passou para o governo estadual do Rio de Janeiro. Em 1965, o Palácio de Brocoió foi tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac).

O luxuoso e imponente espaço dispõe de três salas, varanda, hall com pé direito duplo, seis quartos, cinco banheiros, copa, cozinha, despensa, três quartos de empregados e banheiros de praia, além de sótão, porão e alguns espaço externos como abrigo para lanchas, píer, viveiro de peixes e lagos.

De 1960 a 1975, Brocoió hospedou alguns governadores do então estado da Guanabara. Carlos Lacerda, que governou o Rio entre 1960 a 1965, residiu no palácio durante grande parte do seu mandato.

Os últimos governadores do Rio de Janeiro que estiveram no local foram Rosinha e Anthony Garotinho, em 2005.

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