Idosos são penalizados por escalada dos preços em planos de saúde
Idosos com 60 anos ou mais representam 38,4% da parcela que gasta mais de 40% da renda com convênios médicos, diz estudo
atualizado
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Rio de Janeiro – Regina Souza, de 64 anos, vive com a renda da aposentadoria e banca planos de saúde para ela e seu marido, Antonio Luis, também de 64. Por mês, mais de 70% do ganho da ex-auxiliar administrativa é direcionado ao pagamento do convênio, o que dificulta manter as outras contas da casa.
“Meu marido não conseguiu se aposentar devido a problemas de saúde. Tenho que equilibrar os gastos da alimentação, às vezes falta [dinheiro] para o remédio”, conta a idosa ao Metrópoles.
Um estudo recente aponta que planos de saúde fazem com que um percentual significativo dos idosos assuma faturas salgadas. Ou seja, um gasto que os obriga a abrir mão de outras despesas essenciais, como habitação, alimentação e lazer.
“É muito difícil, não tenho nada. Mas a gente enfrenta problemas de saúde. Tenho problemas na válvula cardíaca, então faço acompanhamento médico todo mês”, explica a aposentada. “Meu marido também precisa disso. Ele sofre de diabetes, é hipertenso e traz quatro stents no coração.”
O levantamento mostrou que, do total de pessoas que paga por planos de saúde no Brasil, idosos com 60 anos ou mais representam 38,4% da parcela que gasta mais de 40% da renda com os convênios.
Gastos superiores a 40% são observados em 665,8 mil pessoas com 59 anos ou mais e que pagam planos de saúde. A análise foi feita a partir de dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do IBGE, entre as faixas etárias de 19 e 79 anos ou mais.
Em entrevista ao Metrópoles, o pesquisador Ricardo Moraes, um dos autores da análise da UFRJ, em parceria com o IBGE, Fiocruz e ANS, afirma que os gastos com planos de saúde crescem mais do que o aumento da renda da população.
“Isso é um dos fatores que levam as pessoas a um comprometimento tão alto da renda. Existem regras que limitam quanto a mensalidade de pessoas mais velhas pode ser mais alta que a de pessoas com faixas menores de idade. Mas a capacidade financeira dos usuários não cresce tanto ao longo da vida quanto o preço dos convênios, que pode ser até seis vezes maior, a depender da idade”, explica.
Reajuste
Segundo projeções da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge), os reajustes para este ano deve ser próximo a 16,3%, superando o recorde de 13,57% registrado em 2016. No ano passado, os planos individuais tiveram um desconto de 8,19%, devido à redução da demanda de uso dos serviços médicos oferecidos em 2020.
Esse reajuste preocupa dona Regina, que já está no limite de gastos com a saúde: “Meu plano de saúde deve chegar a uns R$ 4.700, não tenho mais como manter. Não sei como vai ficar o futuro, é incerto, e a gente depende de médico, de tratamento, isso é desesperador. Mas eu não tenho alternativa”, afirma.
Ricardo Moraes avalia esse cenário como complexo. “Você pode ter uma pessoa sendo expulsa do sistema privado por incapacidade de pagamento e essa pessoa vai para o SUS, que não está conseguindo crescer, devido ao teto de gastos. A situação fica complicada para a pessoa que, possivelmente, passou a vida inteira gastando com saúde e para o sistema de saúde como um todo. A saúde pública acaba sobrecarregada e a privada perde os clientes”, explica.
O que diz a Abramge
A Abramge enviou nota à reportagem informando “que o reajuste dos planos de saúde individuais é estipulado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), com base em uma fórmula definida na regulação e em dados públicos disponíveis, levando em consideração, dentre outros fatores, a variação das despesas médico-hospitalares dos dois últimos anos”.
Segundo a associação, de acordo com o publicado no portal da ANS, estima-se que o percentual a ser aplicado em 2022 seja próximo a 16,3%. “Caso isso se confirme, o biênio 2021/2022 terá um reajuste médio anual de cerca de 2,7%, o que seria um dos menores da história dos planos de saúde individuais e familiares”, diz a nota, lembrando que os planos de saúde foram o único setor regulado com reajuste negativo em 2021, de -8,19%.
“Agora, em 2021, as despesas superaram e muito as de 2020, como resultado da elevada taxa de ocupação hospitalar ocasionada por dois principais motivos: a retomada dos atendimentos adiados no ano anterior e a segunda onda da Covid-19, muito maior do que a primeira”, aponta o comunicado, citando também inflação mundial de insumos e a alta exponencial do dólar.
Por fim, na nota, a Abramge “esclarece que, após o cálculo e a publicação do índice pelo órgão regulador, o reajuste dos planos individuais e familiares são aplicados conforme o aniversário de contrato”.