Filhos de idosa morta em acidente com ônibus perderam pai há um ano
Filha de passageira contou ao Metrópoles que soube da morte da mãe assim que os bombeiros encontraram o corpo dela perto da rodovia em Goiás
atualizado
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Goiânia – Uma família que mora em Goiás sofreu, dentro do período de um ano, dois duros golpes. O pai, que vivia em Minas Gerais, morreu de Covid-19 há 12 meses. À época, a aposentada Aparecida Ribeiro, de 63 anos, também contraiu a doença e quase faleceu. Sobrevivente da pandemia, ela não teve a mesma sorte na madrugada de sexta-feira (24/12). Ela se tornou uma das seis vítimas fatais de acidente de ônibus na BR-153, em Aparecida de Goiânia, região metropolitana da capital.
O corpo da idosa, que vinha de Uberaba (MG) para Goiânia, foi localizado no leito do Córrego Santo Antônio, que passa sob a rodovia, na manhã desta manhã de Natal (25/12), pelos bombeiros. Ela vinha sendo procurada pelos familiares desde a madrugada do acidente. A esperança de encontrá-la com vida, infelizmente se esvaiu.
A idosa é descrita pelas filhas como pessoa maravilhosa, alegre e divertida, que ajudava quem podia. Elas conversaram com o Metrópoles enquanto aguardavam a liberação do corpo no Instituto Médico Legal de Aparecida neste sábado. Uma das preocupações era como iriam contar sobre o ocorrido aos netos de 3 e 4 anos de Aparecida, que a aguardavam para o Natal e que a chamam de “coisa linda”.
“A vida dela era os netos. Agora temos que dar essa notícia pra eles, que a vovó não vai voltar mais… Que nunca mais eles vão ver a vovó”, lamentou uma das filhas de Aparecida, a a auxiliar administrativa Wylla Mara Ribeiro da Silva, de 29 anos.
Peregrinação
Aparecida Ribeiro não constava na lista inicial de mortos nem de feridos do acidente. Desde então, a família, que tem origem em Uberaba e mora em Senador Canedo (GO), peregrinou por hospitais e até no IML atrás de informações.
O corpo de Aparecida estava no exato local onde o ônibus caiu no leito do Córrego Santo Antônio, após bater em dois veículos na pista e desabar por uma ribanceira de 10 metros. De acordo com os bombeiros, a água do local é muito turva, o que dificultou a localização. O corpo estava a apenas 1 m de profundidade.
A família está arrasada. A aposentada havia encaminhado uma mensagem pelo celular por volta de 1h46 e avisado que estava passando pelo município de Hidrolândia. Minutos depois, o ônibus sofreu o acidente.
Tristeza
A filha contou que, depois de uma intensa peregrinação e buscas por informações sobre o paradeiro de Aparecida Ribeiro durante toda a sexta, voltou ao local do acidente na manhã deste sábado. Ela disse que chegou ao trecho da BR-153 exatamente no momento em que o corpo havia acabado de ser encontrado.
“Assim que a gente chegou perto do barranco, os bombeiros estavam conversando e nos deram sinal dizendo que tinham acabado de encontrar minha mãe submersa. Tinha algumas malas em cima dela”, contou Wylla.
A filha acredita que, na hora do acidente, a mãe teria sido jogada para fora do veículo, que teria prensado a idosa no leito do córrego. “A areia a cobriu toda, por isso, os bombeiros não encontraram o corpo antes”, disse Wylla.
No entanto, os bombeiros avaliam que o corpo da idosa também pode ter se deslocado, junto com malas e objetos, para o leito do córrego quando o ônibus começou a ser retirado da água. Ela teria ficado presa no fundo em meio à areia e os objetos.
As buscas pela desaparecida ocorreram durante parte de sexta e se estenderam em uma área que vai até 40 metros abaixo do ponto do acidente.
Revolta
A família da aposentada está revoltada e disse que vai recorrer à Justiça contra o estado por possível falta de sinalização e iluminação adequadas na pista. “A responsabilidade é do estado. Ouvi história de que [a rodovia] estava sendo sinalizada na hora do acidente, sem nenhuma luz. A culpa é do estado, que vão ter que responder por isso. Minha mãe e mais cinco pessoas perderam a vida por causa disso”, afirmou Wylla.
O condutor da viatura de trabalho da Triunfo Concebra, que administra o trecho da via, contou aos policiais que só viu o ônibus se aproximando a uns 300 metros de distância. Segundo ele, o ônibus não teria respeitado a sinalização sobre um desvio na altura do KM 508. O ônibus bateu no veículo e em um caminhão antes de despencar por uma ribanceira e cair no córrego.
A Polícia Civil também investiga outras possíveis causa do acidente, como falha no freio do ônibus e más condições da pista, que chegou a ficar interditada nos dois sentidos durante algumas horas após o episódio.
Os mortos
Todos os mortos no acidente foram identificados pelo Instituto Médico Legal de Aparecida de Goiânia. São eles:
Aparecida Ribeiro, de 63 anos. É de Uberaba (MG), mas a família mora em Senador Canedo (GO);
O casal Maria Eunice Silva, de 67 anos, e Lourival José, de 74 anos. Eles eram de São Paulo;
Fabiana Tonussi Quirino Xavier, de 44 anos. Esposa de um militar, era moradora do Distrito Federal;
José Joaquim Macedo dos Santos, de 74 anos. Era morador do Gama (DF);
Ronaldo Reis, de 26 anos. Era natural do Piauí;
Acidente
O veículo da Real Expresso saiu de São Paulo (SP) com destino a Brasília (DF) e bateu, por volta das 2h, em um caminhão e uma viatura da concessionária que administra o trecho da BR-153. O ônibus despencou por uma ribanceira de 10m, parando somente no leito do Córrego Santo Antônio.
O local é próximo ao ponto em que o piso da rodovia erodiu no último domingo (19/12), após fortes chuvas. Por conta da cratera, metade da pista tinha sido bloqueada e um desvio foi feito no lugar.
O Metrópoles acompanhou o trabalho da equipe de resgate para içar o ônibus e retirá-lo da água. Os dois sentidos da BR-153 ficaram bloqueados para a operação de retirada do veículo do local. O trânsito só foi liberado no início da tarde.
A empresa responsável pelo ônibus e pela viagem disse que o acidente será investigado. “As causas do acidente serão apuradas em procedimento interno da empresa como também pelas investigações oficiais, e estamos trabalhando em conjunto com as Polícias Rodoviária e Civil para que tudo seja, o quanto antes, esclarecido”, informou a empresa Real Expresso.