Hospital de campanha será construído em RR para atender Yanomamis
Secretário de Saúde indígena defendeu que trata-se de “situação de guerra”. Ele estima que mais de 1 mil pacientes tenham sido resgatados
atualizado
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O secretário de Saúde Indígena, Weibe Tapeba, classificou como uma “operação de guerra” o atendimento que tem sido feito pelo Ministério da Saúde a indígenas que precisam de socorro urgente no território Yanomami, em Roraima. A crise humanitária fez o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e três ministros visitarem Boa Vista, no sábado (21/1).
Tapeba afirmou, nesta terça-feira (24/1), que um hospital de campanha está sendo construído na capital do estado para conseguir atender à demanda de mais de 700 pacientes abrigados na Casa de Apoio à Saúde Indígena (Casai). Ele está na região de Surucucu e acompanha de perto a operação contra a crise sanitária no local.
“Um hospital de campanha está sendo erguido hoje em Boa Vista. Eu fui na base aérea, onde os profissionais da Força Nacional de Saúde estão chegando. Temos mais de 7o0 pacientes na casa de apoio indígena e queremos desafogar aquele espaço, porque são condições insalubres”, explicou Tapeba, em coletiva de imprensa.
Em razão da grave precarização das condições de vida dos povos Yanomami, também em decorrência do garimpo ilegal, a população vive crise sanitária. Além de a atividade provocar assassinatos dos indígenas, nos últimos meses, foram registradas diversas mortes por desnutrição.
A exploração do garimpo ilegal traz a incidência de doenças infecciosas. A falta de assistência em saúde também contribui para o quadro.
No último fim de semana, a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, resgatou 16 indígenas Yanomamis – maioria crianças extremamente desnutridas – com apoio da Força Aérea Brasileira e do Exército. O secretário estima que mais de 1 mil pacientes tenham sido retirados na região.
“Nós acreditamos que mais de 1 mil indígenas foram nesses últimos dias resgatados do território para não morrer, né? […] Nós acreditamos que há inclusive uma subnotificação muito grande [de doenças]”, completou.
O chefe da Sesai ressaltou que a pasta pretende montar pelo menos um hospital de campanha dentro do território. A ideia é que a unidade seja construída em Surucucu, região considerada o centro da Terra Indígena.
“Queremos aperfeiçoar o atendimento de saúde indígena dentro do próprio território, levando estrutura mínima com materiais e profissionais, tentar recuperar o esquema de vacinação que foi fragilizado naquela região e, a partir daí, coordenar e efetivar uma ação com o povo Yanomami”.
Crise sanitária
A situação no território é considerada grave pelo Ministério da Saúde. Após visita técnica no fim da semana passada, o governo federal decretou Estado de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (Espin) na região.
Crianças Yanomamis foram encontradas desnutridas na TI. Além disso, há idosos e crianças com malária, infecção respiratória aguda e outros agravos.
“Quando se fala de operação de guerra não é exagero, é a todo momento pousando e decolando aeronaves trazendo e levando pacientes graves”, afirmou Tapeba.
Na segunda-feira (22/1), o Ministério da Saúde abriu inscrições para voluntários na Força Nacional do SUS. Pelo menos 19 mil profissionais de saúde se inscreveram para atuar no local.
Avanço do garimpo
Segundo o titular da Sesai, alguns dos principais desafios encontrados pelos representantes do Ministério da Saúde a complexidade logística e questões de segurança, em razão da invasão do garimpo ilegal em parte das áreas indígenas.
Ele relatou que durante as visitas ao território, conseguiu desembarcar em duas aldeias com ajuda da Força Aérea Brasileira (FAB), em função do controle dos garimpeiros.
“O garimpo invadiu as aldeias e essas comunidades estão à mercê do crime organizado. Eu não falo garimpeiros, eu falo crime organizado, porque são muitas pessoas armadas coagindo e não se intimidam com a presença da Força Aérea Brasileira”, completou Tapeba.
Para tratar do problema, Tapeba afirmou que estão sendo elaboradas ações interministeriais, com a Polícia Federal e com a Força Nacional, “para garantir que os garimpeiros que forem retirados da região não retornem ao local”.