Homossexuais driblam o preconceito e lideram templos e igrejas
Gays e lésbicas assumem a liderança de igrejas evangélicas e de grandes templos de candomblé e umbanda no Brasil
atualizado
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Levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2019 mostra que o Brasil tem 1,8 milhão de pessoas que se declaram homossexuais e 1,1 milhão que dizem ser bissexuais.
Pesquisa Datafolha realizada em 2020 trouxe um mapa das preferências religiosas dos brasileiros. Segundo o levantamento, 50% são católicos, 31% evangélicos, e 2%, da umbanda, candomblé ou outras religiões afro-brasileiras. O Metrópoles conversou com líderes religiosos LGBTI+ que driblam o preconceito diário e lideram grandes templos e igrejas pelo país.
Chlisman Toniazzo, 30 anos, é pastor da igreja evangélica Arena Apostólica Church. Ele nasceu em um lar cristão e frequentou a consagração Assembleia de Deus desde pequeno. Toniazzo relata que passou por vários processos de “cura e libertação” indo a extremos para se livrar de “sentimentos homossexuais” que eram condenados pelo templo conservador que ele frequentava.
“A igreja em que eu congregava, ao saber dessa minha autoaceitação, me excluiu do corpo de membros da comunidade. A partir daí, fui taxado de endemoniado, desviado e todos os termos pejorativos que possam existir para um homossexual dentro da igreja evangélica conservadora. Então, decidi me afastar do mundo evangélico”, declarou Toniazzo.
Após a polêmica envolvendo a fala da pastora gospel Bruna Karla, o pastor afirmou “entre me apegar ao discurso homofóbico de uma evangélica que descontextualizada, prefiro me apegar com confiança no Evangelho eterno de Jesus”.
Em entrevista, Karla Karla declarou que só iria ao casamento de um amigo gay caso ele estivesse se casando com uma mulher.
De acordo com Toniazzo, a religião deu uma “vocação” pra sua vida, além de funcionar como uma ferramenta importante para alcançar pessoas que também foram alvos de preconceito e procuraram uma suposta “cura” para sua homossexualidade.
Marcelo Costa Nunes, de 47 anos, conhecido como Pai Marcelo, nasceu em um lar onde foi incentivado a estudar todas as religiões e aos 25 anos decidiu abrir o Templo Xangô Quatro Luas de umbanda em Vicente Pires, cidade satélite de Brasília. Ele se assumiu como homossexual aos 15 anos e contou que sua sexualidade foi abraçada por todos os seus familiares.
Nunes relata que a umbanda ainda é uma religião patriarcal. Contudo, ele tenta mostrar para os membros do templo que os homens não precisam ter uma masculinidade tóxica para estarem inseridos dentro do templo.
“Então dentro do terreiro eu faço dinâmicas com os homens onde eu coloco todos eles de saia eu passo batom em todos eles, sejam casados ou não. A gente coloca eles pra dançar uns com os outros, né? Não é incentivando a homossexualidade, mas é incentivando uma masculinidade sadia, uma masculinidade não tóxica”, relatou.
Preconceito
Em 2021, 316 pessoas LGBTI+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transsexuais, Intersexuais e outros) foram violentadas e mortas no Brasil, segundo um levantamento do Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+.
Além de sofrer preconceito por causa da sua sexualidade, Pai Marcelo teve que enfrentar ameaças e obstáculos impostos por conta de sua religião. “Quando eu fui para Vicente Pires, o meu portão tinha sete tiros. Evangélicos fizeram abaixo assinado pra tirar a gente dali. Eu já ouvi que a religião de viado tem religião de prostituta, que é religião de gente à toa, que é religião de feitiçaria.”
Para a ialorixá, sacerdotisa de um do candomblé, Monna Janaina, de 45 anos, a religião foi muito acolhedora para ela. Contudo, os preconceitos por parte da sociedade machucam e ferem. “Fui retirada de um banheiro feminino porque a mulher falou que aquilo não era banheiro para pessoas iguais a mim. A mulher falou que não gostava de gente igual a mim, isso era coisa do mundo, uma questão religiosa.”
Dia do orgulho LGBTQIA+
O Dia do Orgulho LGBTQIA+ foi criado em 1969. O ano marcou a revolta da comunidade contra uma série de invasões da polícia de Nova York aos bares frequentados por homossexuais, que eram presos e sofriam represálias por parte das autoridades.
“Creio que é um dia político para dizer que existimos e resistimos”, avalia o Chlisman Toniazzo.
Para Monna Janaina, “é o momento que a gente de alguma forma mostra para a sociedade que existimos. É um dia de resistência”.
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