Homem transgênero dá à luz em São Paulo: “Momento mágico”
Lourenzo gestou o pequeno Apolo, nascido nesta quinta-feira (9/12). Mãe do bebê é uma mulher trans
atualizado
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Um homem transgênero deu à luz o filho fruto de uma relação com uma mulher também trans em São Paulo, nesta quinta-feira (9/12). Apolo nasceu de parto normal e foi gestado pelo músico Lourenzo Gabriel, conhecido pelo nome artístico Aqualien. O produtor vive com a cantora Isis Broken.
O rapaz compartilhou a foto do bebê no Instagram e explicou o significado do nome do pequeno: “Apolo significa espírito de calor, e não poderia ter outro nome ou significado que preenchesse tudo que senti nesse momento tão mágico e animalesco”.
Ele continuou: “Sabe aquela sensação de quando você é criança e não consegue explicar a emoção de uma primeira montanha-russa? É parecido, mas tem umas voltas loucas, mais curvas e mais voltas. O mais incrível é que ele reconhece minha voz, meu toque e meu cheiro, talvez até reconheça as batidas de amor do meu coração. Apolo, sua família transcentrada te ama muito! Papai fez muito esforço e colocou muito amor em sua saída, mamãe ficou horas em pé sem conseguir pregar o olho pra te ter por perto o máximo possível”.
Em entrevista à revista Crescer, Lourenzo contou que o casal se conheceu há dois anos. Ele é do Guarujá, no litoral de São Paulo, e ela, de Aracaju (SE).
A gravidez, segundo eles, não foi planejada. “Eu tomava hormônio há cerca de 4 anos e, por causa de falta de médicos especializados em sexualidade e gênero no Guarujá, parei de fazer a hormonização. Mas como eu tomei por tanto tempo, pensei que poderia ser estéril, já que a testosterona pode afetar o útero. Então, nem cogitei a possibilidade disso acontecer.”
“No começo, eu fiquei surpreso, não sabia como lidar porque estávamos no meio de uma pandemia, desempregados e somos artistas, uma situação que não estava muito favorável. Além de tudo, tinha as minhas disforias. As pessoas já me enxergavam como homem por conta dos hormônios: quase não tinha mais seios, eu estava bem com o meu corpo. Então, quando descobri a gestação, soube, de imediato, que não poderia mais tomar hormônios. Portanto, meu corpo voltaria ao que era antes”, explicou.
O casal detalha que sofreu preconceito durante a gestação, principalmente por ambos serem trans. “Até os sete meses, todos os lugares que fomos fazer o pré-natal, sofremos transfobia por parte dos funcionários — desde a recepção até enfermeiros e médicos. Ninguém estava preparado para lidar com um homem gestante, o que nem é muito diferente de uma mulher cisgênera, tirando pronomes e gênero. Sentimos uma falta de vontade e muito preconceito na área da saúde para lidar com corpos trans.”
“Sequer respeitaram meu nome social, que é lei, e meu gênero, que está retificado na carteira do SUS como ‘masculino’. Alegaram que como eu era um homem, eu não poderia ser atendido por um ginecologista e ter um atendimento de pré-natal. Chegaram até mudar meu gênero para ‘feminino’, e tive que usar meu ‘nome morto’, para que eu pudesse ser atendido”, disse Lourenzo à Crescer.