Homem recebe bilhete anônimo com reclamação por dar as mãos ao namorado
Maquiador ressalta, no entanto, que não pretende registrar boletim de ocorrência. O caso foi divulgado no grupo do condomínio
atualizado
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O maquiador Felipe Alves, de 26 anos, foi alvo de homofobia dentro do seu condomínio. Ao se dirigir à porta do seu apartamento, na sexta-feira passada (11/9), encontrou um bilhete no chão e, ao abrir, teve uma surpresa: uma reclamação escrita à mão, por um vizinho que criticou o fato do rapaz andar de mãos dadas com o namorado nas áreas comuns do prédio onde mora em Joinville (SC). As informações são do G1.
O bilhete, que não teve o remetente identificado, dizia: “Olá vizinho. O Condomínio Piratuba é um local de família. Respeitamos todas as pessoas e não nos importamos com o que cada um faz dentro de sua casa. Mas essa semana eu tive que explicar pro meu filho pequeno o porquê de dois homens de mãos dadas andando pelo estacionamento. Respeito por favor”.
Felipe relata o momento em que leu a reclamação: “Fique sem reação, eu não esperava receber isso em 2020. Fiquei com muita raiva e amassei. Depois respirei, guardei e não contei para o meu namorado porque não queria ele ficasse triste com a situação”.
A vítima, que também é dono de barbearia voltada para o público LGBT e mulheres com cabelos curtos, afirmou que mora no residencial na zona leste da cidade há pouco mais de um mês e o namorado estava na casa dele. “É normal a gente andar de mãos dadas, algo natural”, disse.
Luta contra a homofobia
Após receber o bilhete, Felipe decidiu expor o caso, na segunda-feira (14/9), no grupo de um aplicativo de mensagens dos moradores do seu bloco. Depois, ele também postou em suas redes sociais. “Lutar contra homofobia é algo que faz parte da nossa vida, só que não esperava que acontecesse dentro de casa”, afirmou.
“Tentei ser o mais educado possível e até me prontifiquei, falei: ‘se você que não se identificou tiver dificuldades para educar seu filho, de explicar para ele que existe diversidade, que existem casais formados por pessoas do mesmo sexo, posso fazer uma cartilha para você ensinando de uma forma bem didática e ilustrada a educar seu filho, para que não seja preconceituoso que nem você'”, relembrou Felipe.
Apoio
Na segunda, dia em que ele divulgou a situação, houve apoio por parte de outros vizinhos. De acordo com Felipe, ele e outros moradores do bloco pediram que o condomínio se manifestasse sobre o caso. “Pedi que fizesse alguma manifestação pública para que os moradores soubessem que existe diversidade e que levasse ao conhecimento de todos os moradores o caso de homofobia que eu sofri”, disse.
Porém, só após muita insistência dele e de outros moradores, foi enviado um áudio na linha de transmissão do condomínio informando que no bloco F tinha ocorrido um caso de homofobia e que o o condomínio não compactuava com a situação. Ele diz não ter recebido mensagens privadas do síndico. Todas as manifestações foram no grupo do aplicativo e públicas.
Felipe relata ainda que ficou incomodado com considera descaso por parte da administração do condomínio em relação à situação de preconceito.
“Por mais que tenha achado extremamente ofensivo, não me senti ameaçado. Me senti desconfortável pelo fato de o condomínio não dar nenhum apoio além de um áudio após muita insistência. Não tem nada no mural falando sobre respeito, diversidade, não foi encaminhado e-mail. Estão agindo como se fosse um bilhetinho, um problema entre vizinhos, enquanto que na verdade foi um crime de homofobia”, reclamou Felipe.
O síndico
O síndico, Charles Scheel, lamentou o ocorrido e disse que se manifestou com os demais moradores tão logo soube do ocorrido. De acordo com ele, em 15 anos morando no local nunca soube de uma ocorrência como esta.
“Infelizmente não foi possível identificar o autor do bilhete. Em função disto, o condomínio emitiu uma circular informando o ocorrido aos demais moradores e informando que não compactua com este tipo de postura”, disse.
O sindico disse ainda que orientou que Felipe registrasse um boletim de ocorrência. “Para que, se no futuro for identificado o autor, este seja acionado judicialmente pelo crime de homofobia”, afirmou.
Boletim de ocorrência
Felipe não pretende registrar boletim de ocorrência. “Foi escrito a caneta, talvez consigam identificar, mas realmente não gostaria de saber qual vizinho é, prefiro pensar que foi um caso isolado, a pessoa teve um surto e enviou aquilo e não vai enviar novamente. Não gostaria de processar e que ela fosse expulsa porque ela iria aprender, mas não traria satisfação pessoal”, afirmou.
“Só gostaria que meus vizinhos entendessem que Joinville é uma cidade com bastante diversidade, onde nem todas as famílias são compostas por pais e mães cristãos, brancos, que existe diversidade seja de cor, de gênero, seja de sexualidade e que vão ter que nos respeitar, não é uma opção”, concluiu.