Homem-bomba: os protocolos de segurança no coração do poder falharam?
Especialista questiona protocolo de segurança usado diante de homem com bomba no STF. Deputados questionam demora para evacuar Câmara
atualizado
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O atentado de um “homem-bomba” na frente do Supremo Tribunal Federal (STF), na noite de quarta-feira (13/11), expôs falhas de segurança menos de dois anos depois do ato de 8 de janeiro de 2023, quando manifestantes antidemocráticos, insatisfeitos com o resultado da eleição presidencial de 2022, invadiram e destruíram as sedes dos Três Poderes.
Dois veículos com artefatos explosivos foram abandonados nos arredores da Esplanada dos Ministérios e o chaveiro Francisco Wanderley Luiz se explodiu diante da escultura da Justiça.
Vídeos mostram a movimentação de seguranças e pessoas diante do terrorista. Tiü França, como é conhecido, arremessou artefatos na direção da corte e por fim se matou com um explosivo na cabeça.
Para o consultor de segurança Franceildo dos Santos, existe uma falta de cultura de segurança no Brasil, diferente de outros países que estão mais preparados para ataques terroristas, como os Estados Unidos.
“Analisando o vídeo, é possível ver que o homem começou a jogar bombas e os seguranças ficaram inertes. Em situação dessa eles tinham que agir, tirar pessoas ao redor e fazer uma abordagem verbal a esse cidadão”, avalia o consultor.
Protocolos de segurança preventiva indicam que após uma abordagem verbal de alerta, se houvesse insistência na atitude, o agressor deveria ser mantido à distância, ser for o caso, com uso de meios não letais (como bomba de efeito moral ou balas de borracha).
O consultor de segurança defende ainda que é preciso criar uma política de prevenção ao terrorismo mais ampla e profissional, que cria listas de possíveis terroristas e monitora essas pessoas. No dia do atentado, por exemplo, França circulou livremente na Câmara dos Deputados. E ele já tinha ido ao local várias vezes.
Chama a atenção que Francisco usava as redes sociais para postar mensagens de ódio e ameaças ao poder constituído, em especial ao STF e aos seus ministros.
Ou seja, se existisse um monitoramento prévio a respeito desse tipo de conteúdo, o perfil do terrorista teria sido identificado.
Demora para evacuar
O Metrópoles conversou com deputados federais que apontaram que houve uma demora significativa no encerramento da sessão do plenário após as explosões registradas no STF e também na Câmara.
O deputado Sóstenes Cavalcante (PL), 2º vice-presidente, presidiu a sessão da Casa e demorou por volta de 40 minutos para suspendê-la. Ele tomou a decisão após conversar com o chefe de segurança da Câmara, mas havia sido informado sobre a gravidade da situação pelos deputados presentes.
Para Franceildo dos Santos, essa demora demonstra que os riscos são levados “na brincadeira” e que não está sendo executado um plano de contingência no momento de crise. “Por via das dúvidas, a evacuação tem que ser imediata. Fecha tudo”, explica.
“A suspensão da sessão para que informações cheguem e, se não tiver informações definitivas ou informações que levem à necessidade de encerramento, se encerrará a sessão. Agora, qual é o motivo de vossa excelência dar sustentação a qualquer custo a essa votação dessa PEC?”, questionou o deputado Glauber Braga (PSol-RJ).
Durante o episódio, o plenário da Câmara analisava uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que amplia a imunidade tributária de organizações religiosas. A manutenção da sessão, por outro lado, era defendida pelos deputados da oposição.
“Eu peço à vossa excelência para que prossiga na votação, se porventura quem de direito determinar que o senhor encerra a sessão. Por questões de segurança externas ou internas, o senhor assim o faça”, pediu o deputado Cabo Gilberto Silva (PL-PB).