Haddad defende queixas de Lula e cita “interesses particulares” no BC
Sem citar nomes, Haddad criticou posturas de autoridades que “deixam em dúvida” a autonomia do Banco Central (BC)
atualizado
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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, defendeu nesta sexta-feira (12/7) as queixas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) direcionadas ao Banco Central (BC).
“O presidente Lula tem todo o direito de se queixar. Ele é o primeiro presidente que está tendo o desafio de lidar por dois anos com um presidente do Banco Central indicado pelo governo anterior. É um desafio”, avaliou Haddad em participação no 19º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, em São Paulo.
Em seguida, sem citar nomes, ele citou posturas dúbias de autoridades: “Há, muitas vezes, posturas de autoridades que deixam em dúvida a tal da autonomia do Banco Central, que significa muita coisa. Significa uma série de protocolos que você tem que cumprir para não deixar dúvidas de que você não está tendo uma atuação partidária e nem uma atuação interessada. Então, autonomia significa autonomia da política partidária e autonomia de interesses particulares.”
“A conduta dos diretores tem que ser muito fina, muito adequada. Na minha opinião, o presidente teve certa razão”, prosseguiu o ministro da Fazenda: “Ele [Lula] ficou um pouco indignado, mas eu penso que passou.”
O atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, foi indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e tem sido criticado por Lula desde 2023.
Em junho, Campos Neto aceitou receber uma medalha na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e, posteriormente, participou de um jantar oferecido pelo governador paulista, Tarcísio Freitas (Republicanos), que é herdeiro do bolsonarismo e potencial presidenciável em 2026.
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O ministro afirmou que as relações técnicas entre a Fazenda e o BC “ocorrem normalmente” e o governo tem confiança na diretoria do BC. “Entendemos que é corpo técnico muito qualificado. Queremos prestigiar, mas de forma diferente.”
Em seguida, em referência à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que amplia a autonomia da autoridade monetária, o ministro disse entender que o caminho não é transformá-la em empresa de direito privado. “Sou contra. Uma coisa é discutir autonomia financeira. Sou a favor, estou afim. Outra coisa é criar empresa com celetista estável e subordinar isso. Acho que não é o caminho.”
Ruídos com o mercado
Sobre as semanas de ruído com o mercado financeiro, que culminou em altas sucessivas do câmbio, Haddad afirmou que ele próprio ficou “muito incomodado”, porque, na visão dele, as reações não estavam tendo aderência aos dados de economia do governo.
Ele voltou a defender a melhora da comunicação e atitudes que “comprovem nossos compromissos históricos” com o equilíbrio fiscal.