PL propôs que hacker manipulasse urna em 7 de setembro
Mesmo com o STF garantindo a Delgatti o direito de não falar, o “hacker da Vaza Jato” responde às perguntas dos parlamentares
atualizado
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A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que apura os atos de 8 de janeiro ouve, nesta quinta-feira (17/8), o hacker Walter Delgatti Neto. A sessão começou às 9h35.
Durante a primeira etapa do depoimento, Delgatti mencionou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como mandante de uma série de atos antidemocráticos. Entre eles, a manipulação de uma urna eletrônica para simular falhas no sistema eleitoral. A ação seria orquestrada em 7 de setembro do ano passado.
Segundo Delgatti, a proposta teria sido feita por um marqueteiro do PL, em reunião no Palácio da Alvorada, no ano passado. De acordo com Delgatti, durante o encontro, o marqueteiro sugeriu que ele simulasse falhas em uma urna eletrônica para instigar a população a questionar a legitimidade do processo eleitoral. Bolsonaro teria concordado com a ação.
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De acordo o hacker, Bolsonaro disse que não entendia a parte técnica do funcionamento das urnas. Portanto, determinou que Delgatti fosse ao Ministério da Justiça, acompanhado do coronel Marcelo Câmara, para conversar com técnicos da pasta. O então presidente ainda assegurou que Delgatti receberia um indulto caso fosse incriminado.
“Ele me disse que eu estaria ajudando a salvar o Brasil”, disse. “A ideia era de que eu receberia um indulto do presidente. E ele havia concedido o indulto a um deputado federal, e como eu estava com cautelares que me proibiam de acessar a internet e trabalhar, eu visava esse indulto”, continuou.
Relação com Carla Zambelli
Mesmo com o Supremo Tribunal Federal (STF) garantindo a Delgatti o direito de não proferir sequer uma palavra, o “hacker da Vaza Jato” iniciou a CPMI resumindo parte da infância e juventude. “A minha intenção é contribuir com a sociedade e estou à disposição”, afirmou.
“Trabalho com TI, não terminei ainda a faculdade e precisava de internet para poder trabalhar. Nisso, apareceu uma oportunidade pela [deputada federal] Carla Zambelli de um encontro com o [ex-presidente Jair] Bolsonaro. Eu estava desamparado, sem emprego e ofereceram um emprego a mim”, afirmou.
Delgatti também revelou como conheceu Zambelli: “Eu estava na cidade de Ribeirão Preto (SP). Vi a deputada e pedi para tirar uma foto. Conversando com ela, ela passou o celular dela, anotou o meu, e ela me chamou no WhatsApp”.
“Posteriormente, ela disse que havia uma oportunidade de emprego pra mim. Estive em Brasília, falei com o presidente e, logo em seguida, fiquei em Brasília. Vim trabalhar na parte de redes sociais do gabinete dela, nas redes dela. Ela me enviou a senha do site, das redes sociais, mas, logo em seguida, uma decisão do Moraes limitou as redes sociais dela”, contou. Ele recebia cerca de R$ 3 mil para esse trabalho.
Depoimento à PF
A oitiva na CPMI ocorre um dia após o depoimento de Delgatti à Polícia Federal (PF), em Brasília. O hacker é investigado pela suposta inserção de dados falsos sobre o ministro Alexandre de Moraes, do STF, no Banco Nacional de Mandados de Prisões do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Investigações apontam que Delgatti teria sido contratado pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), ligada ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), para prestar os serviços, que teriam o objetivo de beneficiá-lo nas eleições de 2022.
A parlamentar também teria articulado um encontro entre o então presidente e o hacker em agosto do ano passado, ocasião em que Bolsonaro o teria questionado sobre a possibilidade de violar as urnas eletrônicas.
Além de confirmar essas versões, já apresentadas anteriormente, o hacker levou à PF cópia de uma conversa com assessores da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) que comprovam o pagamento em torno de R$ 40 mil a ele.