Há um ano, golpistas tentavam explodir bomba no Aeroporto de Brasília
A véspera de Natal em 2022 foi marcada pela tentativa de bolsonaristas de explodir um caminhão-tanque no Aeroporto Internacional de Brasília
atualizado
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Há um ano, a população de Brasília correu o risco, na véspera de Natal, de uma tentativa de atentado no Aeroporto Internacional de Brasília. Era manhã do dia 24 de dezembro quando a notícia de que uma bomba havia sido acoplada a um caminhão-tanque, abastecido com 60 mil litros de querosene de aviação, que ia entrar na área do terminal.
O veículo entraria no aeroporto da capital com o explosivo no mesmo momento em que centenas de famílias desembarcavam e embarcavam para encontrar seus parentes em outros estados ou países.
Seria uma tragédia se o detonador não tivesse falhado. A justificativa para tentar explodir um caminhão-tanque no aeroporto da capital do Brasil era política. Insatisfeitos com a eleição do petista Luiz Inácio Lula da Silva, bolsonaristas queriam mudar o resultado das eleições gerais de 2022 espalhando o caos no país.
Inconformados com a vitória de Lula sobre Jair Bolsonaro (PL), Wellington Macedo de Souza, George Washington de Oliveira Souza e Alan Diego dos Santos Rodrigues arquitetaram para provocar o que chamavam de “comoção social” capaz de desencadear a decretação de estado de sítio e intervenção militar, o que, na cabeça deles, tiraria Lula do poder.
A atenção do motorista do caminhão foi fundamental para descobrir a bomba antes que o veículo entrasse no terminal e foi necessária a mobilização de equipes da Polícia Militar do DF (PMDF) e do Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF), apoio da Polícia Federal (PF) e da Polícia Civil (PCDF).
O esquadrão antibomba da PMDF tinha sido acionado às 8h e conseguiu desativar a bomba por volta das 13h20 daquele 24 de dezembro de 2022.
“Armas para derrubar o comunismo”
O primeiro a ser preso pela tentativa de ataque foi o empresário bolsonarista George Washington de Oliveira Sousa, 54 anos. Ele disse, em depoimento à Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), que estava “preparado para matar ou para morrer”.
Ele foi preso ainda na noite da véspera de Natal, com com arsenal composto por armas e explosivos. À polícia, disse que que veio para a capital federal “preparado para guerra” e que aguardava uma “convocação do Exército”, pois seria um “defensor da liberdade”.
O criminoso, hoje condenado, disse que “pegou em armas para derrubar o comunismo”. Pontuou ainda que tinha intenção de distribuir armamentos para grupos acampados em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília, onde bolsonaristas ficaram acampados até 9 de janeiro de 2023, quando foram presos pelos atos golpistas de 8 de janeiro.
“A minha ida a Brasília tinha como propósito participar dos protestos que ocorriam em frente ao QG do Exército e aguardar o acionamento das Forças Armadas para pegar em armas e derrubar o comunismo. A minha ideia era repassar parte das minhas armas e munições a outros CACs [caçadores, atiradores e colecionadores] que estavam acampados no QG do Exército assim que fosse autorizado pelas Forças Armadas”, disse o primeiro preso, há um ano.
No dia 26 de dezembro, a PCDF já tinha o nome dos outros dois suspeitos de ajudaram George Whashington. Alan Diego dos Santos Rodrigues ficou foragido e se entregou no dia 17 de janeiro de 2023. O blogueiro bolsonarista Wellington Macedo de Souza foi o último a ser preso. Ele foi encontrado pela Polícia Federal, em conjunto com a polícia do Paraguai, em Ciudad del Este, no dia 14 de fevereiro de 2023.
Acusações
Os três suspeitos viraram réus na Justiça em 15 de janeiro. O juiz Osvaldo Tovani, da 8ª Vara Criminal de Brasília, aceitou denúncia contra George Washignton de Oliveira Sousa, 54 anos, e seus comparsas Alan Diego dos Santos Rodrigues, 32, e o blogueiro e jornalista Wellington Macedo de Souza.
Em seguida, o mesmo juiz condenou Alan a 5 anos e 4 meses, em regime inicial fechado. Já George foi condenado a 9 anos e 4 meses de reclusão, também em regime fechado.
Em setembro, a 3ª Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) manteve a condenação, mas fez alterações nas penas. Aumentou a condenação de George Wahshington para 9 anos e 8 meses e 7 dias e reduziu a de Alan para 5 anos.
No voto que prevaleceu durante o julgamento, o relator, desembargador Jansen Fialho de Almeida, considerou a motivação política para elevar a pena-base. “Houve tentativa de detonação, não concretizada por erro de montagem, o que demonstra que a motivação era, palavras do corréu, ‘dar início ao caos’”, afirmou, referindo-se a uma fala de George.
Segundo o desembargador, o plano da dupla era colocar uma bomba verdadeira no estacionamento do aeroporto e outros falsos explosivos na área de embarque. “Evidente que a colocação de bomba nas proximidades de aeroporto potencializa o perigo e justifica a elevação da pena-base”, enfatizou.
Já Macedo foi condenado a 6 anos de prisão. Eles estão presos no Complexo Penitenciário da Papuda. Todos foram convocados a depor na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos atos golpistas de 8 de janeiro.
R$ 15 milhões
Os três bolsonaristas presos e condenados pela tentativa de ataque a bomba no Aeroporto ainda podem ter que pagar uma indenização de R$ 15 milhões. A Advocacia-Geral da União (AGU) ingressou com uma ação civil pública na Justiça Federal do Distrito Federal contra o trio.
Segundo entendimento da AGU, além de colocar em risco a vida, a integridade física e o patrimônio de terceiros, os três bolsonaristas “agiram com o objetivo de causar tamanha comoção social que desencadeasse a decretação de estado de sítio e intervenção militar, de modo a impedir o então presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, de assumir o cargo”.
A AGU destaca que a atitude criminosa dos três afronta um valor fundamental da sociedade brasileira, que é a própria democracia. “A ação visa dar concretude a evidências reunidas no relatório da CPMI do 8 de janeiro e consolidar uma cultura institucional de democracia defensiva no Brasil”, assinala o procurador-geral da União, Marcelo Eugênio Feitosa Almeida.
Wellington Macedo, George Washington e Alan Diego também constam no relatório da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Congresso Nacional como indiciados, ou seja, os parlamentares também viram nos já condenados provas de crimes.