Há 15 anos, influência de padre Robson é marcante na política de Goiás
Trajetória do pároco mostra relação próxima com políticos. Além de dar apoio, já aconselhou governador e definiu disputas locais em Trindade
atualizado
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Goiânia – A trajetória e as influências do padre Robson de Oliveira, figura central numa suspeita de desvio de dinheiro doado por fiéis para a construção de um novo Santuário do Divino Pai Eterno, em Trindade (GO), não teriam se restringido apenas à religião.
O prestígio dele e a grande quantidade de seguidores que sempre atraiu geraram interesse político automático. Não à toa, segundo pessoas do meio, o apoio dele foi decisivo nas eleições municipais da capital da fé, em Goiás, nos últimos 15 anos, pelo menos. E também fora dela, alcançando cidades vizinhas e até eleições estaduais.
As missas celebradas por ele durante o período eleitoral sempre foram incluídas nas agendas de candidatos à Assembleia Legislativa, à Câmara dos Deputados, ao Senado e ao governo do estado. Afinal, em uma romaria frequentada anualmente por milhões de fiéis, quem não queria aparecer na missa campal de encerramento da Festa do Divino Pai Eterno e posar de amigo do padre?
A projeção da missa de encerramento é tamanha que atraía, inclusive, religiosos de outras denominações religiosas além da católica. Tornou-se bastante comum a presença de políticos evangélicos ferrenhos na celebração, em busca de visibilidade diante dos romeiros do Divino Pai Eterno e de atenção do padre Robson. Naquela época, estar ou ser visto ao lado dele era motivo de satisfação pessoal e, quem sabe, votos.
Políticos locais amparados de alguma forma pelo padre, seja com uma breve citação ou um agradecimento durante as celebrações, por exemplo, acabavam vencendo a disputa. Até uma simples foto ao lado dele influenciava a decisão do eleitorado. Era assim que ele costumava sinalizar sua escolha pessoal.
Apoio
Em julho de 2014, mais de um ano depois da derrota daquele que virou seu desafeto, Ricardo Fortunato (MDB), na disputa pela prefeitura da cidade, padre Robson disse em entrevista ao jornal O Hoje, de Goiás, que uma foto dele ao lado do vencedor, Jânio Darrot (PSDB), teve “força muito grande” na decisão do eleitorado.
A eleição de 2012, vencida por Jânio, foi marcada por uma presença mais nítida da igreja. Fortunato tentava a reeleição, mas após desentendimentos com padres da cidade sofreu as consequências na corrida eleitoral. Padre Robson disse, na mesma entrevista, que fez questão de deixar claro que não aprovava a continuidade daquela gestão e que o uso da foto dele ao lado de Darrot foi autorizado pelos superiores da igreja.
A religião é decisiva não só para a economia e o turismo da capital da fé, em Goiás, mas devido à sua magnitude e com uma festa do Divino Pai Eterno que atraiu em média 3 milhões de fiéis de todas as partes do Brasil nas últimas edições, acabou se mostrando um inquestionável indicador dos rumos da política local.
Influência
Como mostrado no domingo (28/2) pelo Metrópoles, a influência do padre resiste, apesar do distanciamento dele da igreja neste momento em que aguarda decisões da Justiça, e as pessoas têm até medo de falar sobre ele.
Alguns dizem que essa influência sobre os cidadãos da cidade teria diminuído, depois dos escândalos que vieram à tona com a deflagração da Operação Vendilhões, em agosto do ano passado, e da investigação do Ministério Público de Goiás (MPGO), mas a parte financeira seguiria forte e influente.
Segundo fontes ouvidas pela reportagem e que pediram para não serem identificadas, o apoio de padre Robson ocorreria de maneira mais incisiva nos bastidores. Um político tradicional do município, quando perguntado sobre o quão decisivo seria esse apoio do pároco na disputa eleitoral, respondeu: “Decisivo, não. Endinheirado”.
Envolvimento
Padre Robson, que segue afastado das celebrações e proibido de se manifestar por decreto canônico renovado por tempo indeterminado em janeiro deste ano, falou algumas vezes, em entrevistas, sobre o assunto.
Ele já chegou a rechaçar o envolvimento com a política, dizendo que se trata de um mundo muito complicado e imoral, mas em outras oportunidades deu sinais mais detalhados de sua participação.
Três de seus ex-assessores diretos, por exemplo, acabaram se envolvendo com política. O primeiro deles, Tayrone Di Martino, ex-vereador de Goiânia, ex-candidato a vice-governador e ex-secretário de governo de Goiás, teve a trajetória marcada pelo apoio da igreja, especialmente de padre Robson.
Em 2016, quando Di Martino foi nomeado como secretário pelo então governador do estado, Marconi Perillo (PSDB), o padre disse em entrevista ao jornal O Popular, também de Goiás, que havia sido procurado por Marconi para dar sua opinião e aconselhá-lo sobre a nomeação do ex-assessor.
Segundo ele, na ocasião, disse a Marconi que Tayrone era pessoa competente e que, não por acaso, trabalhava com ele e tinha um futuro brilhante na política. Dois anos depois, no entanto, a coisa mudou.
Tayrone era cotado como deputado federal na eleição de 2018. Ele, que vivia uma fase de distanciamento do padre, desistiu da disputa em cima da hora e relatou ao Metrópoles o porquê: “Eu tinha uma expectativa, na época, de ter apoio de lideranças da igreja. Como eu vi que esse apoio ia ser complexo e eu não sou pessoa que tem dinheiro para colocar em campanha, vi que seria complicado naquela conjuntura”.
Outros assessores na política
O ex-vice-prefeito de Trindade Gleysson Cabriny foi outro assessor direto de padre Robson, considerado um braço direito dele, que se enveredou na política. Na disputa do ano passado, ele era um dos cotados para suceder o então prefeito, Jânio Darrot (PSDB).
Nos bastidores, a falta de apoio do padre teria sido decisiva para que a candidatura dele não ocorresse. A proximidade entre Cabriny e padre Robson deixou de existir, após desentendimentos e o princípio das investigações do MPGO.
O padre teria optado por avalizar a candidatura do então vereador Marden Júnior (Patriota), que acabou vencendo a disputa com 21.930 votos (37,72% dos votos válidos) e hoje é o prefeito da cidade.
Marden é companheiro de Rouane Carolina Azevedo Martins, outra ex-assessora do padre. O nome dela é citado na denúncia oferecida pelo MPGO à Justiça sobre o caso de extorsão sofrida pelo padre por um grupo liderado por um suposto hacker.
O grupo criminoso teria hackeado os dispositivos eletrônicos do padre e o chantageado, dizendo que teria informações obscuras sobre a vida financeira e pessoal do sacerdote.
Rouane aparece em vídeos coletados pela investigação fazendo alguns dos pagamentos feitos por Robson de Oliveira ao grupo criminoso, durante a extorsão que ele sofreu. Valor milionário chegou a ser pago, utilizando dinheiro da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe).
Desde agosto do ano passado, quando foi deflagrada a Operação Vendilhões, Rouane reduziu as aparições em Trindade, até mesmo nas postagens de rede social do companheiro. Só agora, segundo moradores da cidade, ela tem sido vista com mais frequência. Por não ser casado, a primeira-dama do município é a mãe de Marden, Dona Dorinha.
Opiniões
Padre Robson também nunca se furtou de expressar opiniões políticas em entrevistas, por mais que elas não correspondessem, totalmente, ao que ocorria na prática. Em janeiro de 2018, em entrevista ao portal goiano Mais Goiás, ele revelou já ter sido convidado para se candidatar, mas declinou do convite.
Para o padre, de acordo com o que ele disse nessa entrevista, a política envolve um jogo de interesses e de concessões muito pessoais, e isso, para ele, é vergonhoso e imoral. Quatro anos antes, na entrevista ao jornal O HOJE, em 2014, ele se manifestou contrário à reeleição e favorável à alternância de poder.
Nessa mesma ocasião, ao mesmo tempo em que ele falou abertamente sobre o apoio a Jânio Darrot nas eleições de 2012, em Trindade, quando foi perguntado se ele e a igreja orientavam os fiéis a votarem em determinando candidato, ele disse que já tinha sido mais específico no passado e que estava numa fase de mais cautela.
O Metrópoles tentou contato com Gleysson Cabriny e Marden Júnior, mas não obteve retorno. Da mesma forma, não obteve respostas da assessoria dos Redentoristas em Goiás, referentes às perguntas enviadas sobre as regras do decreto canônico, às quais padre Robson está submetido.