Guedes sobre Pinochet: “Ditadura por ditadura, eu não estava nem aí”
Ministro da Economia falou sobre o período em que deu aulas no Chile então sob sangrenta ditadura, e disse que não se informava
atualizado
Compartilhar notícia
O ministro Paulo Guedes, da Economia, usou sua fala em um evento na pasta nesta quinta-feira (18/11) para rebater críticas que recebe por ter concordado em dar aulas na Universidade do Chile nos anos 1980, quando a instituição – e o país andino – estavam sob intervenção de uma sangrenta ditadura militar liderada pelo general Augusto Pinochet.
Para Guedes, que havia se formado economista na Universidade de Chicago, nos Estados Unidos, e tentava popularizar o liberalismo econômico no Brasil, tratou-se de uma escolha puramente salarial. “[Na época], eu dava uma aulinha na GV [Fundação Getúlio Vargas], uma aulinha na PUC [Pontifícia Universidade Católica de São Paulo], uma aulinha não sei aonde… Correndo de um lado pro outro, recebia US$ 800 em cada lugar, então dava US$ 2.400 por mês. Aí, recebo uma proposta dos chilenos pra receber US$ 10 mil por mês pra ficar tempo integral numa faculdade no Chile. Eu falei: ‘Vou embora’. Fui embora do Brasil”, relatou o ministro, em evento em comemoração aos 29 anos da Secretaria de Política Econômica.
“Ditadura por ditadura, era Figueiredo [João Baptista Figueiredo, ditador no Brasil entre 1979 e 1985] contra Pinochet. Eu não estava nem aí. Hoje eles falam: ‘Ah, trabalhou para o Pinochet’. Eu nunca vi o Pinochet na vida, não sei nem o que ele fez ou o que ia fazer”, complementou Guedes, tentando reforçar que a questão política não lhe importava: “Eu era um animal, eu sou um animal de politização tardia, até hoje eu não sei, politicamente, onde é que eu tô. Eu gosto mesmo é de economia, sou apaixonado por economia”, discursou.
“Eu tava era dando aula de economia em tempo integral e fazendo meus papers [pesquisas acadêmicas] lá”, concluiu o ministro.
Veja a fala completa de Paulo Guedes:
Paulo Guedes diz que aceitou emprego no Chile na década de 80 pois deixaria de ganhar US$ 2.400 para receber US$ 10 mil mensais.
“Ditadura por ditadura. Era Figueiredo contra Pinochet, eu não estava nem aí.”
“Até hoje, politicamente, não sei onde eu tô”, completou o ministro. pic.twitter.com/juJwfTwmne
— Metrópoles (@Metropoles) November 18, 2021
O que fez Pinochet
Pinochet liderou com mão de ferro uma das ditaduras mais sangrentas da segunda metade do século passado. Ele liderou um golpe em 11 de setembro de 1973 que bombardeou o palácio presidencial e resultou na morte do presidente eleito, Salvador Allende.
Investigações indicam que seu regime matou ao menos 3 mil chilenos, incluindo um dos artistas mais famosos do país na época, o cantor Victor Jara. Outros 30 mil chilenos foram torturados ao longo do regime, que durou até 1990.
Entre os crimes e violações contra os direitos humanos cometidos pelo regime de Pinochet estão o uso de armas químicas contra opositores e atentados contra opositores políticos até em solo dos Estados Unidos, onde Orlando Letelier, ex-embaixador chileno nos Estados Unidos e ex-ministro de Allende, foi assassinado em Washington com uma bomba em seu carro em 1976.
Pinochet chegou a ser preso em 1999, durante uma viagem ao Reino Unido, por ordem de um juiz espanhol por violações contra os direitos humanos. Ele ficou um ano em prisão domiciliar, mas acabou libertado e morreu em dezembro de 2006 sem ser condenado por seus crimes.
O evento completo com a fala de Guedes nesta quinta pode ser visto no seguinte vídeo: