Guaidó ganha apoio de países, mas ONU veta destituição de Maduro
Oposicionista afirmou que voltará a sua pátria, apesar das ameaças de que poderá ser preso assim que pôr os pés em solo venezuelano
atualizado
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A vinda do autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, ao Brasil, nessa quinta-feira (28/2), serviu para dar ainda mais evidência ao caos social que tomou conta daquele país. Mas resultou em pouca efetividade no desejo de várias nações, capitaneadas pelos EUA, de Donald Trump, de expulsar Nicolás Maduro da presidência venezuelana.
Isso porque no Conselho de Segurança das Nações Unidas, cujos 15 integrantes reuniram-se nessa quinta em Nova Iorque (EUA), duas ações que envolviam a Venezuela foram rejeitadas. A primeira foi proposta pelos EUA: a instauração de um processo político que levaria a eleições presidenciais – com Guaidó garantido como presidente interino. Rússia e China, que têm poder de veto no conselho, foram contra.
A segunda proposta foi da Rússia: simplesmente a não interferência externa nos assuntos da Venezuela. Porém, a sugestão foi rejeitada por sete dos membros do Conselho de Segurança.
Ou seja: Guaidó, embora tenha o apoio de 50 países, entre eles o Brasil, poderá continuar com seu périplo pela América Latina, mas Maduro continua à frente do governo venezuelano, chancelado pela maioria de suas Forças Armadas.
No Brasil, Guaidó afirmou que voltará ao seu país, apesar das ameaças de que poderá ser preso assim que pôr os pés em solo venezuelano. A volta deverá ocorrer no fim de semana ou na segunda-feira (4/3). Nesta sexta (1º), ele irá ao Paraguai e terá um encontro com o presidente Mario Abdo Benítez.
Recebendo ameças
Guaidó deixou a Venezuela pela fronteira com a Colômbia na última semana e ainda não se sabe como ele fará o retorno. Durante uma coletiva de imprensa, após ter se reunido com o presidente Jair Bolsonaro (PSL) no Palácio do Planalto, ele afirmou que continua recebendo ameaças.
Questionado se não tem medo de voltar ao seu país e ser preso ou, até mesmo, sequestrado, como já aconteceu com outros líderes de oposição, Guaidó negou. “Apesar dos presos políticos, das perseguições, fazemos uma resistência pacífica”, disse.
Embora não possa ser considerado de fato um chefe de Estado, Juan Guaidó foi tratado com honras pelas autoridades brasileiras, mesmo que Bolsonaro tenha dito que o receberia numa “visita pessoal”. Além de Bolsonaro, Guaidó se encontrou com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM AP), com diplomatas da União Europeia e almoçou com o embaixador do Canadá, Rick Sanove. Também teve reunião na embaixada dos Estados Unidos.
Apoio internacional
Ao visitar o Brasil, o opositor pretendeu demonstrar o apoio internacional ao seu pleito de ascender à presidência venezuelana e, ao mesmo tempo, fazer com que o governo brasileiro se engaje fortemente na pressão diplomática e econômica a Maduro.
Na primeira declaração em solo brasileiro, Guaidó agradeceu o apoio de Bolsonaro, que disse: “Deus é brasileiro e venezuelano”. “A relação entre Venezuela e Brasil é muito positiva, sobretudo para minimizar os conflitos. Esse é um momento importante para a Venezuela”, destacou o interino.
Guaidó lembrou da crise que vive seu país e apontou que 300 mil venezuelanos sofrem com risco de morte.
Não existe um dilema entre guerra e paz, e sim um dilema entre democracia e ditadura, entre miséria e prosperidade. Não existe paz quando matam indígenas na fronteira, quando se persegue presos políticos
Juan Guaidó
O líder oposicionista venezuelano criticou o cerceamento de direitos humanos e a estagnação da economia do país. “Seguiremos lutando pelo ingresso da ajuda humanitária. Nossa luta é constitucional para construir um governo de transição para uma eleição livre e democrática”, concluiu.
Nem tudo foram flores
Um grupo pequeno de manifestantes se reuniu em frente ao Palácio do Planalto no início da tarde desta quinta para protestar contra a presença no Brasil de Juan Guaidó. Por volta das 13h30, horário marcado para o início do protesto, a reportagem do Metrópoles contou 10 pessoas na Praça dos Três Poderes, em Brasília. No momento da chegada do presidente interino, pouco antes das 14h, cerca de 20 manifestantes gritavam “Fora, Guaidó”.
“A manifestação é em defesa da paz e contra a guerra”, explicou Pedro Batista, articulador do Comitê General Abreu e Lima, um dos organizadores do protesto. Ele acredita que o povo venezuelano está unido e organizado para atravessar essa crise.
Durante a visita ao Senado, Guaidó se deparou com manifestações de funcionários da Casa contra e a favor de sua ascensão na Venezuela. Um deles chegou a ser retirado pelos seguranças da Casa após chamar o opositor de Nicolás Maduro de “golpista”. (Com Agência Estado)
Assista aos vídeos dos protestos: