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Grupo xamânico é acusado de usar veneno de sapo como alucinógeno sem aviso

O grupo xamânico foi denunciado por participantes, que relataram surtos psicóticos após o uso do psicodélico. Eles não teriam sido avisados

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ritual xamanico sapo
1 de 1 ritual xamanico sapo - Foto: Reprodução/Instagram

Goiânia – O grupo xamânico Sete Raios é acusado de usar substâncias alucinógenas durante rituais, sem o consentimento ou autorização dos participantes. O material usado seria o veneno do sapo Bufo alvarius, com o objetivo de aprofundar a jornada espiritual. No entanto, o uso do tal veneno é proibido no Brasil.

A advogada goiana Gabriela Augusta Silva é uma das participantes que denuncia a experiência. Ela saiu de Goiás e foi para São Paulo, onde participou do ritual, em que acabou submetida a uma sessão com o veneno. A mulher conta que inalou a substância e, desde então, nunca mais foi a mesma. O caso aconteceu em outubro de 2021.

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Captura de tela de foto postada no Instagram de Mauricio Ferre, integrante do Xamanismo Sete Raios, mostra Mauricio e Felipe em ritual com o suposto veneno do sapo. No dia 14/04, a foto ainda estava disponível no perfil.
Captura de tela de foto postada no Instagram de Mauricio Ferre, integrante do Xamanismo Sete Raios, mostra Mauricio e Felipe em ritual com o suposto veneno do sapo. No dia 14/04, a foto ainda estava disponível no perfil.
A substância psicoativa é retirada da pele e veneno do sapo Alvarius
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Material de divulgação do Xamanismo Sete Raios sobre o 'bufo' recebido por Gabriela

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Captura de tela de foto postada no Instagram de Mauricio Ferre, integrante do Xamanismo Sete Raios, mostra Mauricio e Felipe em ritual com o suposto veneno do sapo. No dia 14/04, a foto ainda estava disponível no perfil.

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Captura de tela de foto postada no Instagram de Mauricio Ferre, integrante do Xamanismo Sete Raios, mostra Mauricio e Felipe em ritual com o suposto veneno do sapo. No dia 14/04, a foto ainda estava disponível no perfil.

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A substância psicoativa é retirada da pele e veneno do sapo Alvarius

Reprodução/Instituto Butantan

Em entrevista ao portal G1, a jurista contou que, após fazer o uso do veneno, perdeu a consciência e acordou cerca de 30 minutos depois. Entre os problemas após o uso da psicodélico estão crises de pânico e de ansiedade, surtos psicóticos, problemas respiratórios e pensamentos suicidas.

Gabriela relatou que procurou o grupo, buscando uma maior conexão com Deus, após enfrentar problemas familiares, e foi incentivada por um dos xamânicos a experimentar o veneno. Depois disso, a mulher chegou a ser internada em um hospital neurológico, passou a frequentar o psiquiatra e tomar remédios controlados.

Pedido de desculpas

Gabriela Silva conta que pagou R$ 1.300 no ritual individual com o veneno e relatou seus problemas – entre eles, ataques de pânico e pensamentos suicidas – para o sócio fundador do instituto xamânico, Felipe Rocha.

Após contar os problemas decorrentes do psicodélico, Rocha encaminhou um áudio por meio de aplicativo de mensagem, no qual diz que Gabriela não pode perder a confiança. Sugere que ela acenda velas e tome um banho de ervas.

A mulher diz que apenas após descobrir a proibição da substância e expor o caso nas redes sociais – o que desencadeou uma série de respostas similares a experiência dela – é que recebeu um pedido de desculpas.

“O meu mais sincero pedido de desculpas. Infelizmente, eu não posso, eu não consigo nesse momento estar à frente de todos os processos do Xamanismo Sete Raios da maneira como eu gostaria”, disse Felipe Rocha no áudio enviado. “Eu gostaria de estar presente em todos os rituais, em todos os processos com o bufo”.

Em outro áudio enviado à Gabriela, Rocha afirma que a história dela provocou reflexões no grupo sobre o uso do veneno.

“Toda essa história fez com que a gente refletisse profundamente sobre o nosso processo de acompanhamento, principalmente da medicina do Bufo alvarius. Isso reverberou muito forte no nosso grupo, não só por conta do processo de vocês, mas por conta de vários outros processos que nós testemunhamos ao longo dos últimos tempos, principalmente nos últimos dois anos”, afirma ele.

“A gente vai adotar outros protocolos em relação às medicinas, principalmente em relação ao Bufo alvarius”, continua Rocha em outro trecho.

Veneno proibido

O veneno encontrado no sapo Bufo Alvarius é o psicodélico 5-MeO-DMT, que está na lista de substância proscritas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O animal não tem origem no Brasil e é encontrado no México e nos Estados Unidos.

A substância, conhecida popularmente como “bufo”, seca quando extraído e, depois, é fumado em rituais e cerimônias ditas religiosas e espirituais no exterior e no Brasil, liberando os alucinógenos.

Segundo a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos, do Ministério da Justiça, “o uso de substâncias alucinógenas como a 5-MeO-DMT, retirada do sapo Bufo alvarius, é crime, uma vez que tal prática é proibida no país”. A fiscalização é atribuição da polícia, afirma a Senad.

“As principais substâncias já identificadas que causam os efeitos psicodélicos são a bufotenina e a sua análoga 5-MeO-DMT, compostos da classe das triptaminas, que possuem estruturas semelhantes a neuromoduladores, como os hormônios melatonina e serotonina”, afirma o Butantan.

Instituto Sete Raios

O grupo Xamanismo Sete Raios é alvo de inquérito da Polícia Civil de São Paulo, que apura possível crimes de tráfico de drogas. Segundo a polícia, o Departamento de Investigações sobre Narcóticos segue realizando diligências para o esclarecimento dos fatos. Um segundo inquérito chegou a ser aberto para apurar a prática de curandeirismo, mas foi arquivado por falta de provas.

Gabriela entrou com uma ação de reparação de danos material e moral contra o instituto. De acordo o advogado dela, Auro Jayme, entre os crimes que podem ter sido cometidos estão charlatanismo, “pois eles anunciam cura por um meio secreto e infalível”, e curandeirismo, “pois eles prescrevem, ministram ou aplicam, habilmente a substância”.

Ainda de acordo com o advogado, é necessário apurar o “caminho da droga”, já que deve ser importada de outros países.

A defesa do instituto informou ao G1, que “jamais teve ou tem como objetivo incentivar ou promover o uso social ou terapêutico de substâncias ou, ainda, a substituição de práticas de saúde, tratando-se exclusividade de abordagem de caráter ritualística e religiosa, com finalidades espirituais”.

O instituto afirma ainda que, no final do ano de 2019, recebeu a visita de um suposto líder espiritual que trouxe do México o 5-MeO-DMT, extraído do sapo Bufo alvarius, e conduziu dois rituais com a substância na presença de integrantes do grupo Xamanismo Sete Raios.

“À época dos eventos, os representantes do Instituto não tinham conhecimento da discussão acerca da legalidade do Bufo alvarius no Brasil”, afirma a nota. O instituto nega que tenha tido qualquer associação a rituais como esses posteriormente.

A nota afirma que “alguns membros do Instituto, de forma independente, deram continuidade aos estudos e rituais individuais com o Bufo alvarius” e que “esses rituais não tinham vinculação com as atividades do Instituto Xamanismo Sete Raios, tampouco com suas práticas religiosas”.

Ainda em nota, o instituto diz que é vítima de perseguição religiosa. “A denunciante claramente está utilizando a estrutura judiciária e os veículos de mídia para empreender uma cruzada pessoal contra uma instituição religiosa, motivada por questões de ordem pessoal e por restrições de crença. No mais, toda e qualquer falsa acusação será tratada devidamente perante à Justiça.

Apreensão

No início do mês de abril, houve uma apreensão do alucinógeno em Pirenópolis, no Entorno do Distrito Federal, inédita. A substância foi encontrada na casa de um líder espiritual.

Segundo a Polícia Civil, a droga estava enterrada no quintal da residência. A substância foi apreendida durante o cumprimento de um mandado de busca e apreensão nos dias 18 e 28 desse mês de março. Foram encontradas cerca de 12 gramas de substância em Goiás e também no Rio de Janeiro.

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