Grupo do Facebook contra Bolsonaro chega a 2,5 mi de participantes
Ao longo do fim de semana, quando a página ficou fora do ar em diferentes ocasiões, a hashtag #EleNão foi utilizada 193,4 mil vezes
atualizado
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O movimento de mulheres contra a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência da República cresceu significativamente depois de várias tentativas de derrubar o grupo criado no Facebook, que já conta com 2,5 milhões de integrantes. Ao longo do fim de semana, quando a página ficou fora do ar em diferentes ocasiões, a hashtag #EleNão foi utilizada 193,4 mil vezes e a #EleNunca outras 152 mil vezes em todo o país.
Levantamento realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) na segunda-feira (18/9) mostra que as hashtags contrárias a Bolsonaro foram usadas de forma recorrente em postagens sobre o ataque à página Mulheres Unidas Contra Bolsonaro e também nas denúncias de ameaças feitas às administradoras do grupo e participantes. As hashtags apareceram ainda em postagens críticas que acusam o candidato de machismo, misoginia e homofobia.
“Duzentas mil menções em 48 horas, num fim de semana, é um número muito considerável em se tratando de internet no Brasil, sobretudo porque não houve um evento externo, como um debate por exemplo, para mobilizar a discussão”, explica o pesquisador Lucas Calil, da FGV. “E um grupo reunindo 2,5 milhões de mulheres também é muito significativo, sobretudo por mostrarem uma unidade, manifestada pelo uso das hashtags.”
De acordo com a FGV, os partidários de Bolsonaro lançaram uma resposta na forma da hashtag #EleSim, que teve 85 mil referências no mesmo período de tempo. Em geral, a hashtag surgiu em postagens que acusam o movimento das mulheres de ser uma farsa da esquerda. O próprio Eduardo Bolsonaro, filho do presidenciável, fez um post tentando desacreditar o grupo. Em meio à polêmica, o Facebook se pronunciou, garantindo a autenticidade da página.
Bolsonaro luta contra um porcentual de rejeição muito alto (de 43% segundo o Datafolha); que é ainda mais elevado entre as mulheres (chegando a 49%). A mobilização delas se materializou por meio do grupo, criado há duas semanas, e se tornou ainda mais forte depois que a página foi hackeada. Manifestações marcadas para as próximas semanas prometem levar o movimento virtual para as ruas.
O grupo da FGV constatou ainda que as manifestações via rede foram bem distribuídas nas principais capitais brasileiras. Rio de Janeiro e São Paulo registraram o maior movimento, com 13% e 12% das citações respectivamente; mas as demais capitais registraram entre 3% e 5% das menções, o que, segundo os especialistas é um padrão normal.
Não apenas o grupo da FGV acompanhou o embate do fim de semana. O Laboratório de Estudos sobre Imagens e Cibercultura, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) também esteve atento à movimentação das redes. “Acho que só as redes podem derrotar Bolsonaro”, afirmou o pesquisador Fábio Gouveia, da UFES. “O candidato mostrou que domina os mecanismos clássicos da comunicação, em debates e entrevistas. Mas, nas redes, ele passa a ser alvo da estrutura que sempre usou para alavancar sua campanha.”
Na análise de Fábio, os números são muito expressivos. E o fato de o movimento ter sido orgânico e ter sido atacado é ainda mais importante. “Bolsonaro já havia conseguido escapar ileso de todas as tentativas de abordar essa questão (das mulheres) nas mídias tradicionais, tanto em entrevistas quanto em debates, tinha conseguido se livrar das armadilhas”, diz. “Mas o movimento é forte e pode ter um impacto real na eleição sobretudo ao influenciar pessoas que ainda estão indecisas.”