Gripe: caminhoneiros e militares estão entre grupos menos vacinados
Por outro lado, puérperas e indígenas têm os melhores índices. Cobertura vacinal, desigual, varia de 2,5% a 80% dos grupos prioritários
atualizado
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Mesmo sendo gratuita, eficaz e amplamente divulgada, a imunização contra a gripe não atingiu os resultados previstos na campanha nacional, e a discrepância da cobertura vacinal varia de 2,5% a 80% no público-alvo.
Populações mais vulneráveis à enfermidade deixaram de procurar os pontos de saúde e chegam em 2022 sem estarem protegidas.
Grupos como pessoas com deficiência permanente, caminhoneiros, trabalhadores de transporte e portuários apresentam os mais baixos índices de vacinação, não alcançando sequer 20% de cobertura vacinal (veja ranking completo abaixo).
De 7,5 milhões de pessoas com alguma deficiência permanente, somente 186.487 receberam a proteção. No caso dos caminhoneiros, que somam 1,2 milhão de profissionais, somente 147.498 foram vacinados.
O panorama nacional também é ruim. A situação de cobertura vacinal completa é de 58,4%. Ao todo, o público-alvo reúne 79,7 milhões de pessoas.
Os dados foram analisados pelo Metrópoles, com base em estatísticas publicadas pelo LocalizaSUS, plataforma de prestação de contas do Ministério da Saúde.
O surto de gripe desencadeado pela circulação do vírus H3N2 chama a atenção para esse comportamento da população em relação à vacinação. Mesmo o imunizante atual não contendo a cepa, a proteção ajuda a diminuir adoecimentos — ainda mais essencial durante a pandemia de Covid-19, doença causada pelo coronavírus.
Para o leitor ter dimensão de como a campanha está heterogênea, os mais altos índices de adesão à vacina são de puérperas (mulheres que deram a luz recentemente), indígenas, gestantes, crianças e idosos.
Veja o percentual da vacinação completa contra a gripe:
- Pessoas com deficiência permanente – 2,5%
- Caminhoneiros – 11,9%
- Trabalhadores de transporte – 14,6%
- Portuários – 16,2%
- Forças Armadas – 20,4%
- Forças de Segurança e Salvamento – 29,1%
- Pessoas com comorbidades – 50,9%
- População privada de liberdade – 51,5%
- Funcionários do sistema prisional – 59,6%
- Professores – 63,2%
- Trabalhadores da saúde – 66,7%
- Idosos – 69,3%
- Crianças – 69,4%
- Gestantes – 75,5%
- Indígenas – 76,5%
- Puérperas – 80,4%
A preocupação da comunidade médico-científica é que os “bolsões” de não vacinados comprometam a eficácia da campanha.
Hoje, não é preciso ter intervalo entre a aplicação das vacinas contra a Covid-19 e a da gripe.
Desde o início da campanha, em abril, o temor das autoridades sanitárias era de que a empreitada não alcançasse o público-alvo por causa da imunização contra a Covid-19.
Na tentativa de ampliar a cobertura, o Ministério da Saúde liberou, em julho, as doses para todas as faixas etárias.
Os médicos entendem que a população está menos protegida nos últimos dois anos devido a uma baixa ocorrência de gripe. O relaxamento recente das medidas de isolamento social deixou a população mais vulnerável aos novos vírus.
Importância da vacina
O infectologista Dalcy Albuquerque, da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), defende a imunização, mesmo a fórmula não contendo a cepa que circula atualmente.
“A vacina que temos hoje até protege, mas não é a proteção máxima que podemos conseguir. A vacina melhora muito a possibilidade de não ter um quadro grave”, frisa.
O especialista critica a resistência do público prioritário. “É muito importante que esses grupos estejam vacinados. Eles transitam pela sociedade. Caminhoneiros, por exemplo, podem ir espalhando a gripe pelo país inteiro”, explica.
“É fundamental que tenhamos uma cobertura vacinal grande”, conclui.
Na mesma tendência, a infectologista Ana Helena Germoglio defende a vacinação. “Qualquer imunidade é melhor do que nenhuma imunidade”, vaticina.
Ela faz um alerta para a campanha deste ano. “Qualquer vacina é sempre bem-vinda. Como estamos tendo surto dessa cepa, podemos ter de outras. Geralmente, a vacina da gripe é desenhada para conferir a imunidade de seis meses, para época de maior frio”, pondera.
Versão oficial
O Metrópoles questionou o Ministério da Saúde sobre o percentual de público-alvo vacinado contra a gripe e os riscos da recusa da imunização.
Até a mais recente atualização desta reportagem, a pasta não havia se manifestado. O espaço continua aberto a esclarecimentos.