Grávida denuncia violência no parto em Goiás: “Maior trauma da vida”
Vítima contou que foi xingada de gorda no momento do nascimento do filho e pai da criança foi chamado de imprestável. Bebê morreu
atualizado
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Goiânia – A goiana Luane Teles, de 31 anos, denuncia que perdeu o primeiro filho Léo, no dia do parto, após sofrer violência obstétrica. O médico teria empurrado de volta os pés da criança que começavam a sair e xingado a mulher e o pai da criança. O caso aconteceu em Niquelândia, norte de Goiás, no último dia 12 de agosto.
“Sofri o maior trauma da minha vida com um homem que se diz médico. Eu fui vítima de violência obstétrica e negligência médica e perdi meu filho”, desabafou Luane nas redes sociais.
Luane estava perto de completar oito meses de gestação, quando passou mal em um acampamento da Festa de Nossa Senhora da Abadia, no povoado de Muquém, em Niquelândia. Ela sentia fortes dores no pé da barriga e procurou o hospital municipal da cidade, onde recebeu o primeiro atendimento.
Xingamentos
Em um primeiro momento, uma técnica de enfermagem avaliou a mulher em posição ginecológica e teria dito que os pés do bebê já estavam do lado de fora. Em seguida, o atendimento teria passado para o obstetra Américo Lúcio Neto, que seria o responsável pela violência. Os xingamentos, segundo a mulher, teriam começado enquanto ele colocava a luva.
“‘Eu não vou fazer o parto de uma obesa’; ‘Se essa remoção for para Goiânia, vai morrer você e a criança, porque eu não vou até lá’; ‘Eu só vou nessa remoção porque não tem jeito’; ‘Cadê o imprestável e inútil pai dessa criança ?’. Essas foram somente algumas das frases que ouvi por ele enquanto estava passando mal’”, relatou Luane.
De acordo com a denúncia, o médico chegou a verificar os batimentos da criança, que ainda estava viva. Nesse momento, segundo a vítima, o médico teria falado: “Essa criança já morreu, tem que deixar morrer mesmo”.
Dor e morte
De acordo com o boletim de ocorrência, o médico teria pegado os pés do bebê e enfiado fortemente para dentro da barriga da vítima. Segundo o documento, ela se recorda que repeliu a atitude do médico com um forte grito, pois sentiu muita dor nesse momento.
A mulher foi transferida de madrugada para o hospital de Uruaçu, onde foi feito o parto após cerca de 1h30, desde que deu entrada na unidade de saúde em Niquelândia. O bebê teria nascido sem batimentos e foi reanimado, mas acabou falecendo no final da tarde do dia 13 de agosto.
Luane denunciou a situação nas redes sociais e na Polícia Civil, mas preferiu não dar entrevista, pois disse estar muito abalada. O advogado da mulher informou que está reunindo documentação sobre o caso.
Defesa nega
O advogado Luiz Gustavo Barreira Muglia, que representa o médico Américo, defendeu ao Metrópoles que não houve omissão de socorro ou violência obstétrica no parto da paciente em Niquelândia.
“Ele está sendo acusado sem direito de resposta. Um simples boletim de ocorrência não prova nada. (…). Se ele tivesse mandado a paciente ir sozinha para o outro hospital, poderia até concordar que houve abandono de paciente, mas ele acompanhou, estava junto”, afirmou o advogado.
Segundo Luiz Gustavo, o obstetra Américo falou de obesidade da mulher grávida não no sentido de ofensa, mas de condição física, que tinha relação com o procedimento necessário em uma cesárea. Além disso, de acordo com o advogado, o hospital de Niquelândia estava sem equipe para realizar o procedimento.
Luiz Gustavo também afirmou que o procedimento de “devolver o pé” da criança faz parte da literatura médica e foi uma manobra, que acabou não dando certo, diante de uma posição errada que o bebê estava na barriga. Ele também teria indicado uma cesárea no hospital de Uruaçu, mas foi feito parto natural.
A assessoria da Secretaria Municipal de Saúde de Niquelândia adiantou que o médico Américo Lúcio Neto foi afastado enquanto o caso é apurado. A reportagem entrou em contato com a defesa dele e aguarda um retorno.