“Grande conquista”, diz aluno cego que narrou jogo de futebol da Série B
Pedro Paulo Lemes, de 19 anos, narrou a partida entre Vila Nova e Ituano, pela Série B do Brasileirão, em Goiânia
atualizado
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Goiânia – “Uma grande conquista”. Foi assim que o estudante de jornalismo da Faculdade Informação e Comunicação (FIC), da Universidade Federal de Goiás (UFG), definiu a experiência de narrar um jogo de futebol da Série B, do Campeonato Brasileiro. Pedro Paulo Lemes, de 19 anos, tem glaucoma congênito e, atualmente, só vê luz, sombras e um pouco de cor, como ele mesmo diz.
O aluno, que está no 3º período do curso de jornalismo, fez a narração da partida entre Vila Nova e Ituano, que aconteceu no Estádio Onésio Brasileiro Alvarenga, em Goiânia, na noite da última quarta-feira (24/5). Veja o vídeo:
Apaixonado por esportes
Em conversa com o Metrópoles, Pedro Paulo contou que sempre foi apaixonado por esportes. Segundo ele, cursar jornalismo foi uma possibilidade de se aproximar do universo esportivo. “Jornalismo nem passava na minha cabeça, mas eu sempre quis algo relacionado ao esporte. Na pandemia, comecei a participar de alguns podcasts, tiver a oportunidade de trabalhar em um site de esporte, escrevendo sobre futebol americano e basquete. Isso que me despertou o interesse pelo curso, era uma forma de me aproximar, também de uma forma que me identificasse”, afirma ele.
“Estou no 3º período, faz um ano que estou na faculdade. Exatamente uma semana depois que entrei, comecei a fazer parte do laboratório Doutores da Bola, que é um programa da Rádio Universitária da UFG”, conta o estudante.
De acordo com Pedro Paulo, participar do programa universitário é viver com diversas possibilidades de experiência e também profissionais. “No ‘Doutores’, eu já participei de várias transmissões, em todas as funções. Comecei como comentarista, depois passei pela reportagem, que, inclusive, é a área que eu mais atuo e mais me identifico. Ficar ali na beira do campo é a parte que mais gosto”, disse o jovem, que trabalhou como setorista de futebol de uma dos times da capital goiana.
Narração
O episódio da narração foi uma surpresa para Pedro Paulo, que não deixou a oportunidade passar. “A oportunidade surgiu, abriu uma vaga na escala para fazer a locução do jogo e eu pensei: por que não? Aí eu tentei e foi uma experiência diferente, legal, foi algo novo, né? Uma grande conquista”, declarou.
Sobre as adaptações necessárias para a narração, Pedro Paulo afirmou que não houve dificuldades por parte dele ou da equipe que participou da transmissão. “Nós nos alinhamos na comunicação interna da equipe. Normalmente, as pessoas fazem muitos sinais durante a narração na cabine, então combinamos outros jeitos de fazer os comentários, até direto no microfone, mandávamos mensagens pelo telefone. Mas, na verdade, os maiores problemas foram técnicos, já que usamos a rede móvel e a internet falhou. Essa foi a única dor de cabeça”, comentou o estudante.
Apesar do entusiasmo com a experiência, Pedro Paulo afirma que ainda não vislumbra ser narrador no futuro. “Eu ainda prefiro seguir na parte de reportagem, tá mais perto da parte de apuração e entrevistas. A narração fica mais como um complemento profissional”, completou.
Laboratório orientado
O Doutores da Bola é um programa da Faculdade de Informação e Comunicação (FIC), da Universidade Federal de Goiás (UFG). O programa começou nos anos 2000 como um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da estudante Ana Lúcia Jardim e, atualmente, é mantido com estudantes interessados por coberturas esportivas.
A equipe, que tem cerca de 30 estudantes, acompanha esportes variados como automobilismo, vôlei, entre outros. Desde o início do programa, esta foi a primeira narração feita por um estudante com deficiência.
O professor que coordena o programa, Ricardo Pavan, contou ao Metrópoles, que o talento de Pedro Paulo foi notado desde a sua aparição na rádio. “O Pedro Paulo Lemes chegou ao curso com grande potencial para o jornalismo esportivo. A narração era questão de tempo diante da explícita rapidez mental que ele possui. Eu esperava com apreensão sua primeira narração. Em princípio ele achava que tinha que ser offtube, no estúdio da rádio, mas com o tempo se deu conta que poderia fazer no estádio mesmo”, afirma o professor.
Ainda de acordo com o professor, Pedro Paulo recebe o apoio dos colegas. “Os colegas dão o maior apoio para ele. É motivo de admiração e orgulho de seus companheiros de projeto”, finaliza.