Governo Lula entra na mira da CPI do 8/1 com depoimento de ex-diretor da Abin
A CPI que apura os atos golpistas ouviu Saulo Moura da Cunha, ex-diretor da Abin, nesta terça-feira (1°/8)
atualizado
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A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos antidemocráticos de 8 de janeiro voltou aos trabalhos nesta terça-feira (1°/8) com o depoimento do ex-diretor adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Saulo Moura da Cunha. A oitiva teve início às 9h e terminou por volta das 18h30.
Saulo Moura da Cunha entrou no radar da oposição à gestão Lula após revelações de que a agência teria alertado o novo governo sobre a possibilidade de invasão às sedes dos Três Poderes, em Brasília.
O órgão cuida dos serviços de inteligência e foi responsável por avisar as autoridades de segurança do governo Lula e do Distrito Federal sobre os atos de 8 de janeiro.
Veja:
Em fala inicial, o depoente afirmou que iria esclarecer as versões “dúbias” sobre os alertas emitidos pela Abin ao governo federal.
“Eu estou aqui para esclarecer [os fatos]. Nós temos versões dúbias sobre alguns alertas que Abin fez [sobre as invasões], sobre alguns documentos encaminhados e eles serão esclarecidos na medida do possível sem que, obviamente, os nossos métodos, as nossas ferramentas, as nossas fontes sejam expostas. Mas eu estou aqui à disposição são da CPI e bastante até aliviado porque é um momento em que a Agência Brasileira de Inteligência pode vir a público ou pelo menos perante essa comissão deixar claro que cumpriu o seu deveres funcionais e a sua missão institucional”, disse.
Na mira da oposição
O ex-diretor foi questionado sobre como a Abin monitorou e alertou o governo Lula e a gestão Ibaneis Rocha (DF) do risco dos ataques, que provocaram prejuízos milionários aos cofres públicos. Na ocasião, ele afirmou que o general da reserva Marco Edson Gonçalves Dias, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), foi alertado no WhatsApp sobre os possíveis ataques antidemocráticos em Brasília.
Segundo o ex-diretor, que estava à frente da pasta quando os atos ocorreram, o general recebeu os alertas por meio de uma planilha.
“[Eu] Fiz os dois relatórios. O primeiro numa planilha que continha os alertas encaminhados pela Abin a grupos e continha também os alertas encaminhados por mim pessoalmente, do meu telefone, ao ministro-chefe do GSI [GDias]. Entreguei essa planilha ao ministro, e ele determinou que fosse retirado o nome dele dali, porque não era o destinatário oficial daquelas mensagens. Que ali fosse mantido apenas as mensagens encaminhadas para os grupos de WhatsApp. Ele determinou que fosse feito, eu obedeci a ordem”, disse Saulo a deputados e senadores.
Cunha foi exonerado do cargo da diretoria da Abin em março e, em abril, escolhido pelo presidente Lula para chefiar a assessoria especial de Planejamento e Assuntos Estratégicos do GSI. Ele assumiu as funções no GSI em 13 de abril. No dia 19, uma semana depois, foram divulgadas imagens do então ministro-chefe do GSI, Gonçalves Dias, dentro do Palácio do Planalto durante a invasão de 8/1.
A convocação à CPI foi pedida por quatro parlamentares da oposição: senador Magno Malta (PL-ES), deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), deputado Marco Feliciano (PL-RJ) e deputado Delegado Ramagem (PL-RJ), sob a justificativa de que ele era diretor adjunto da Abin no dia das invasões.
Na segunda-feira (31/7), a Advocacia-Geral da União pediu que o depoimento do ex-diretor fosse restrito a parlamentares e assessores. O governo federal argumenta que Cunha integrava um órgão de inteligência, que cuida de informações sensíveis. A comissão, no entanto, não acatou o pedido.
CPI retoma trabalhos
Durante o primeiro semestre, a comissão ouviu seis depoentes. Relembre:
20/06 – Parlamentares ouvem o ex-diretor geral da Polícia Rodoviária Federal, Silvinei Vasques, investigado pelo Ministério Público Federal devido a uma operação da PRF realizada nas estradas durante o domingo das eleições presidenciais, já no segundo turno, disputado entre Lula e Bolsonaro.
22/06 – Renato Carrijo, perito da Polícia Civil do Distrito Federal e Leonardo de Castro, delegado da PCDF, prestam esclarecimentos sobre bomba plantada em um caminhão próximo ao Aeroporto de Brasília.
22/06 – George Washington de Oliveira Sousa, um dos envolvidos na tentativa de explosão de uma bomba no Aeroporto de Brasília, em dezembro do ano passado, presta depoimento. Ele foi condenado a 9 anos e 4 meses de prisão. Na CPI ficou em silêncio durante toda oitiva.
26/06 – Jorge Eduardo Naime, ex-chefe do Departamento Operacional da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), foi ouvido sobre o 12 de janeiro, quando manifestantes depredaram diversos ônibus na capital e tentaram invadir o edifício sede da Polícia Federal.
27/06 – CPI colhe depoimento do coronel do Exército Jean Lawand Júnior. O militar trocou mensagens com Mauro Cid, ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, sobre um possível golpe de estado contra o resultado das eleições de 2022.
11/07 – Tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro depõe à CPI. Ele foi preso no dia 3 de maio na Operação Venire, que apura suposto esquema de fraudes nos cartões de vacinação. Cid é considerado uma das peças-chaves para as investigações sobre os ataques do 8 de Janeiro, mas ficou em silêncio durante toda oitiva.