Governo ignorou 10 e-mails da Pfizer sobre vacinas, diz jornal
Além disso, repetidas ligações foram feitas depois que o presidente mundial do laboratório mandou carta formal ao Brasil
atualizado
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Segundo documentos entregues pela Pfizer à CPI da Covid e obtidos pela Folha de S.Paulo, a farmacêutica mandou ao menos dez e-mails, durante um mês, para o Ministério da Saúde cobrando resposta formal do governo sobre a oferta de vacinas contra a Covid-19. Além disso, repetidas ligações foram feitas depois que o presidente mundial do laboratório mandou proposta ao Brasil.
De acordo com a publicação, após o envio do documento, em 14 de agosto, a Pfizer mandou e-mails por três dias cobrando resposta. Sem retorno, uma representante da farmacêutica chegou a ligar para uma técnica da Secretara de Ciência, Inovação e Insumos Estratégicos (Sctie) do Ministério da Saúde.
“Desculpe, a ligação caiu e não consegui mais contato. Espero que esteja tudo bem com vc! Só queria confirmar se vcs receberam ontem uma comunicação enviada em nome do presidente da Pfizer, Carlos Murillo, com a proposta atualizada de um possível fornecimento de vacinas de Covid-19. Vc me avisa? (sic)”, escreveu Cristiane Santos, da Pfizer.
“A validade das propostas continua sendo a mesma, até 29 de agosto de 2020, e gostaria de saber, com urgência, do interesse deste ministério em iniciar conversações sobre aspectos legais e jurídicos da presente proposta”, continuou.
Depois, em 26 de agosto, após novo contato telefônico, outro representante da Pfizer, Alejandro Lizarraga, enviou e-mail ao assessor especial para assuntos internacionais do Ministério da Saúde, Flávio Werneck.
Passada a data limite para assinatura do contrato, em 29 de agosto, houve nova tentativa de contato da Pfizer com técnicos do ministério. No dia 12 de setembro, segundo os documentos entregues à CPI, a carta do presidente mundial da Pfizer, Albert Bourla, foi encaminhada ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com cópia para outras autoridades.
“Apresentamos uma proposta ao Ministério da Saúde do Brasil para fornecer nossa potencial vacina que poderia proteger milhões de brasileiros, mas até o momento não recebemos uma resposta”, diz a carta. “Sabendo que o tempo é essencial, minha equipe está interessada em acelerar as discussões sobre uma possível aquisição e pronta para se reunir com Vossa Excelência ou representantes do Governo Brasileiro o mais rapidamente possível”, continua o documento.
Três dias depois, no dia 15 de setembro, outra representante da farmacêutica encaminhou o mesmo e-mail a secretarias e técnicos do Ministério da Saúde indicando não ter tido resposta.
Os contatos só voltaram a se intensificar no final de outubro, quando a Pfizer conseguiu uma reunião virtual com a Pasta.
A oferta previa início de imunização em dezembro de 2020, com 1,5 milhão de doses, e mais 3 milhões no primeiro trimestre deste ano. O Ministério da Saúde só firmou acordo com o laboratório em março deste ano, quando adquiriu 100 milhões de doses, entregues aos poucos.
Entenda a cronologia
31 de julho de 2020
Pfizer pede audiência urgente com a pasta.
4 de agosto de 2020
Ministério confirma reunião para dia 6 de agosto.
14 de agosto de 2020
Empresa envia a proposta formal para fornecimento de futura vacina.
17 de agosto
Pfizer envia um e-mail a técnicos da Saúde para acessar documentos com informações sobre a vacina e a proposta. Um segundo e-mail é enviado a técnicos da Economia informando sobre a proposta que havia sido feita.
18 de agosto de 2020
E-mail reforça que a validade da proposta era 29 de agosto e pede urgência para a resposta.
19, 21, 25 e 26 de agosto de 2020
Pfizer faz contato telefônico e eletrônico e pede uma posição do ministério.
29 de agosto de 2020
Data limite da primeira oferta.
2, 12 e 15 de setembro de 2020
Pfizer faz novo contato com ministério e se coloca à disposição para reunião sobre o andamento dos estudos da vacina. No período, presidente mundial da Pfizer encaminha mensagem a Bolsonaro e Pazuello. E-mail enviado ao presidente e ministros é encaminhado a técnicos do Ministério da Saúde.
27 de outubro de 2020
Reunião entre Pfizer e governo para retomar as negociações.