metropoles.com

Governo e UFRJ trocam acusações sobre descaso com o Museu Nacional

Enquanto o governo sustenta que não faltam recursos para a UFRJ, responsável pelo Museu Nacional, reitoria diz que orçamento caiu em 10 anos

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
THIAGO RIBEIRO/AGIF/ESTADAO CONTE⁄DO
Rescaldo do incÍndio que destruiu o acervo do Museu Nacional
1 de 1 Rescaldo do incÍndio que destruiu o acervo do Museu Nacional - Foto: THIAGO RIBEIRO/AGIF/ESTADAO CONTE⁄DO

A comoção com o incêndio e a perda de grande parte do acervo do Museu Nacional causou uma guerra de versões entre os responsáveis pela instituição. De um lado, o governo federal – os Ministérios da Educação, a Cultura e a Casa Civil – sustenta que não faltam recursos para a UFRJ, à qual o museu está vinculado. De outro, a reitoria da universidade e a direção do museu apontam falta de verbas para a manutenção adequada do prédio histórico, do século 19.

Nesta terça-feira (4/9), o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, afirmou que entre 2012 e 2017 a dotação orçamentária para a UFRJ subiu 48,9%, enquanto os repasses da UFRJ para o museu se reduziram em 43,1%. Em seguida, a UFRJ divulgou nota chamando de “falaciosa” e “extremamente absurda” a afirmação e contrapondo que seu orçamento caiu 10,6% entre 2014 e 2018 (de R$ 434 milhões em 2014 e passou para R$ 388 milhões este ano).

A discrepância se dá por um dado que o governo não explicita: no cálculo dos ministérios entra a folha de pagamento de servidores; já a informação da UFRJ inclui o montante do qual pode dispor para investimento, manutenção (contas de água, luz, vigilância) e compra de equipamentos, e exclui o que recebe especificamente para pagar servidores.

A folha era de R$ 1,8 bilhão em 2014 (83,8% do que recebeu do governo federal) e R$ 2,6 bilhões em 2017 (86%). O crescimento se deve a fatores variados, como o número de aposentados, reajustes dos servidores e a realização de concursos. Segundo dados do Museu Nacional, no período 2013-2017 os recursos destinados pela universidade caíram 35%, de R$ 531 mil para R$ 346 mil – o que contrasta com os 43,1% que o governo federal divulgou. De janeiro a abril deste ano, foram liberados apenas R$ 54 mil.

Na segunda-feira, em entrevista conjunta à porta da museu, os ministros da Educação, Rossieli Silva, e da Cultura, Sérgio Sá Leitão, atribuíram à UFRJ a decisão de destinar recursos insuficientes ao museu.

Por sua vez, o reitor, Roberto Leher, afirmou que “a UFRJ faz a distribuição de seus recursos de custeio da maneira mais cuidadosa, profissional, ética e qualificada possível”. Em nota nesta terça-feira, 4, a Reitoria foi ainda mais assertiva, citando os “visíveis cortes na ciência e na educação, denunciados pela comunidade científica” e manifestando “preocupação com a difusão de informações imprecisas e incorretas”.

De acordo com Sá Leitão, ele se reuniu com o reitor da UFRJ no ano passado. “Tratamos do Museu Nacional e de outras ações relacionadas à cultura no âmbito da UFRJ. Solicitei ao reitor que apresentasse projetos e UFRJ não apresentou nenhum”, disse. O governo federeal ambém defende a necessidade de “mudança de gestão” dos museus brasileiros para contornar os problemas atuais.

Em um contexto maior, a situação das federais também preocupa as organizações de ensino. “A UFRJ, como várias federais, tem orçamento insuficiente. Há momentos em que é preciso escolher se pagamos luz elétrica ou bolsa estudantil”, disse João Carlos Salles, vice-presidente da Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e reitor da Universidade Federal da Bahia.

Recursos futuros
Nesta terça, após uma reunião comandada pelo presidente Michel Temer, no Palácio do Planalto, o governo federal anunciou também a assinatura de uma Medida Provisória para criar a lei sobre os fundos patrimoniais, com recursos a serem usados já na recuperação do museu incendiado.

Haverá ainda o lançamento, até o fim deste mês, de um edital para apoiar projetos de segurança e prevenção a incêndios e a modernização das instalações das instituições que gerenciam o patrimônio histórico e cultural do País, com o valor de R$ 25 milhões.

Análise: Solange Ferraz de Lima*

Precisamos de políticas públicas
Fato é que precisamos de políticas públicas de preservação do patrimônio que sejam estruturantes. Perdemos não só uma edificação e seus acervos, mas possibilidades incontáveis de pesquisa, que serão agora abortadas. Os acervos, para instituições comprometidas com a pesquisa e a educação, como é o caso dos museus universitários públicos, são a matéria-prima para a produção de conhecimento científico e histórico. É preciso que a sociedade civil e as instâncias públicas compartilhem essa responsabilidade de zelar por esse patrimônio, por nossa memória, por nossos acervos e pelo enorme potencial de pesquisa e ensino que oferecem.

*Diretora do Museu Paulista da Universidade de São Paulo (museu do ipiranga), interditado há cinco anos.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?