Governadores enviarão carta a Bolsonaro pedindo diálogo pela democracia
Chefes dos poderes Legislativo e Judiciário também receberão pedido de governadores por uma “linha direta de diálogo”
atualizado
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O Fórum dos Governadores enviará cartas aos chefes dos Três Poderes, pedindo a criação de uma “linha direta de diálogo” pela defesa da democracia. O assunto foi definido na manhã desta segunda-feira (23/8), em reunião no Palácio do Buriti, em Brasília.
A agenda contou com participação presencial de Ibaneis Rocha, governador do Distrito Federal, e de Wellington Dias, governador do Piauí e presidente do Fórum. Outros 23 gestores participaram do encontro por videoconferência. Os estados do Amazonas e de Tocantins foram os únicos a não enviar representantes.
A reunião teve como objetivo discutir a crise entres os Três Poderes. Na última sexta-feira (20/8), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) enviou ao Senado Federal um pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
“Surgiu um consenso de que nós, governadores, até pela nossa disparidade de posições políticas e partidárias, temos condições de ajudar nas relações que existem principalmente entre Executivo e STF, e também com o Congresso Nacional. Foi definido o estabelecimento de uma linha direta de diálogo com o presidente da República, ou com quem o presidente designar, uma linha de entendimento com o Congresso, e também com o Supremo, através de seu presidente”, informou Ibaneis Rocha.
Segundo o gestor, a expectativa é que as atas sejam enviadas aos presidentes dos Poderes na próxima semana. Além das demandas pela defesa da democracia, os governadores tratarão de demandas específicas de cada estado nas cartas enviadas, como a Reforma Tributária, o preço dos combustíveis, entre outras matérias.
“A posição unânime dos governadores é da defesa da democracia, do respeito à Constituição. Estamos solicitando uma agenda com o presidente da República, na qual o objeto é demonstrar a importância de o Brasil ter um ambiente de paz e de serenidade. Um ambiente em que possamos garantir, dessa forma, a valorização da democracia, da Constituição, da lei, mas principalmente criar um ambiente de confiança, que permita novos investimentos, geração de renda. Essa é a essência”, afirmou Wellington Dias.
Divergências
Sobre a possibilidade de um encontro com o presidente Jair Bolsonaro, Ibaneis esclareceu que o objetivo é estabelecer um diálogo. “A falta de diálogo existe e está clara para a imprensa. Temos que estabelecer que o país tem eleitores do PT, do PSB, do MDB, mas todos nós trabalhamos por um único ideal: o bem-estar comum para a população, em especial a mais carente”, disse o governador do Distrito Federal.
De acordo com o gestor, mesmo que Bolsonaro não compareça ao encontro, o desejo dos governadores é que ao menos um representante do Planalto participe do diálogo.
“Queremos levar ao presidente que não tem ninguém contra ou a favor dele. Nós todos somos a favor de um país que merece, sim, um tratamento melhor para as instituições e que a gente entre em uma normalidade. É a intenção de todos os governadores. Todos querem governar em um país que esteja com uma condição boa”, assinalou.
Crise entre Poderes
Os conflitos entre os Três Poderes foram amplificados devido aos ataques recentes do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e à legitimidade das eleições.
Ao enviar o pedido de impeachment de Alexandre de Moraes ao Senado Federal, o mandatário disse que o magistrado “extrapola os limites da Constituição”.
A ação do titular do Executivo federal ocorreu um dia após o ministro Alexandre de Moraes determinar a prisão do ex-deputado e dirigente nacional do PTB, Roberto Jefferson, por suposta participação em uma organização criminosa digital montada para atacar a democracia.
Ao longo da semana, houve tentativas de baixar a temperatura da crise e o ministro Luís Fux, presidente do Supremo, recebeu o ministro da Casa Civil de Bolsonaro, Ciro Nogueira, para uma reunião. Nogueira teria dito estar tentando convencer o chefe a desistir dos pedidos de impeachment.
Em reação ao pedido do presidente, o STF se posicionou, afirmando que o Estado Democrático de Direito “não tolera que um magistrado seja acusado por suas decisões”.
A Suprema Corte também afirmou que manifesta “total confiança na independência e imparcialidade do ministro Alexandre”, e que aguardará “de forma republicana a deliberação do Senado Federal”.