Governador do Acre sobre fronteiras internacionais: “Vou fechar tudo”
Com 95% das UTIs do estado lotadas, Gladson Cameli adiantou que terá que endurecer as medidas de contenção do vírus para preservar vidas
atualizado
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O governador do Acre, Gladson Cameli (PP), afirmou em entrevista ao Metrópoles que a situação no estado chegou “no limite” e vai acionar forças locais para fechar as fronteiras internacionais e divisas nacionais. O Acre faz fronteira com Peru e Bolívia e é vizinho do Amazonas e de Rondônia, estados que estão com a rede hospitalar colapsada em decorrência da Covid-19.
“Nós estamos no limite, e eu vou fechar tudo. Se o governo federal até agora não me deu uma resposta oficialmente, eu acionei as nossas forças para tomar providências, porque eu não vou colocar vidas em risco”, disse ele, citando o Grupo Especial de Fronteira (Gefron). O órgão foi criado no começo da gestão de Cameli e atua em conjunto com o Exército no combate de crimes de fronteira.
Na terça-feira (26/1), Cameli conversou com o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, para tratar do pedido de fechamento das fronteiras internacionais. Segundo ele, o chanceler ainda não deu um posicionamento à demanda, mas ele alega que vai iniciar as providências que lhe cabem.
“O que eu não quero é que depois aconteça o pior por causa de a gente não ter tomado providência. Eu estou me antecipando”, defendeu na noite de quarta-feira (27/1).
O governador admite que, sozinhos, estado e municípios não têm condições de atuar no controle das fronteiras e afirma que é necessária atuação das Forças Armadas e clama pelo envio de reforços.
“Eu cheguei no meu limite. Estou com 95% das UTIs lotadas. Sozinho o estado não tem condições”, disse ele.
O Acre possui mais de 2.000 km de fronteira com o Peru e mais de 600 km com a Bolívia. Em nível nacional, o estado faz divisa com Rondônia e Amazonas, que recentemente iniciaram transferências de pacientes para outras regiões do país.
O governo do Acre disponibilizou 10 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para receber pacientes do Amazonas, mas alega que agora não tem mais condições de auxiliar os vizinhos.
“Algumas aeronaves estão pousando no Acre sem citar que é transporte fora domicílio, e, quando chegam, estão solicitando que a Secretaria de Saúde mande pegar os pacientes. Quando vai ver, está com problema de Covid. É situação humanitária, precisa ajudar, só que eu cheguei no meu limite”, pontuou Cameli.
Até quarta-feira (27/1), o estado havia registrado 47,1 mil casos de Covid-19 e 858 óbitos pela doença. As informações são do Conselho Nacional de Secretaria de Saúde (Conass). A população do Acre é de pouco mais de 894 mil habitantes, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de agosto de 2020.
Fechamento do comércio
Sobre o fechamento do comércio, Cameli disse que irá endurecer as medidas, mas evitou falar em lockdown. “A real situação é que eu tenho que brecar, eu tenho que diminuir, eu não tenho como deixar as coisas como estão, porque não tem condições, está aumentando [a crise]”, afirmou.
“Eu não vou falar em lockdown, mas vou colocar restrições, porque eu realmente não tenho outro saída”, disse ele, afirmando que as decisões serão embasadas tecnicamente.
Na segunda-feira (25/1), Cameli publicou um decreto que determina toque de recolher em todo o estado, das 22h às 6h. A medida tem validade de um mês. A circulação de pessoas em espaços comerciais e eventos ficou proibida.
Para o governador Gladson Cameli, o Ministério da Saúde precisar definir data e hora para início da vacinação em massa para dar segurança à população do Acre. Até o momento, apenas 0,45% da população do estado foi vacinada, o que o coloca entre as unidades da Federação com menor percentual imunizado.
“Sem paixão e falando com a real situação, o ministério [da Saúde] tem nos atendido, só que vamos ser sinceros: está na hora de todos darem as mãos e entenderam a situação de cada um. Nós estamos cumprindo aqui com toda uma regra. Eu preciso de data e hora que nós vamos ter esse olhar de maior número de vacinas para precaver nossa população e dar uma segurança.”
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, está no Amazonas desde o último sábado.
A respeito da gestão do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), na pandemia, Cameli disse ter visão diferente, mas evitou fazer críticas explícitas a Bolsonaro, do qual é aliado político.
“Eu respeito a opinião dele, [mas] a minha, infelizmente, não é a mesma que a dele sobre esse fato. Agora, que eu preciso do apoio do governo federal e da presença, isso é indiscutível. Eu necessito. O Acre é um estado pequeno, que está no extremo norte do Brasil. A gente precisa, realmente, de uma presença”.
Em agenda em São Paulo nos últimos dois dias, Cameli pediu apoio técnico do Instituto Butantan para ajudar no combate ao coronavírus no Acre.
De acordo com Cameli, o Butantan não deu certeza sobre a preferência do Acre para vacinação, mas existe uma garantia por parte do governo federal. “Nós temos essa garantia do governo federal, que depois do Amazonas — que foi dada aquela preferência do aumento de doses — o Acre seria o seguinte. Então, naturalmente, o Acre é uma necessidade”, afirmou.
Vacinação na região
Gladson defendeu um pacto mundial para vacinação da população da região amazônica.
“Por que o mundo não tem esse olhar para nós? Nós estamos cumprindo com nosso papel também. Por que não vamos olhar para os mais de 30 milhões de amazônidas?”, pediu.
Segundo ele, a proposta ainda não foi levada às instâncias competentes, mas ele cobrou que países da Europa e a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) avaliem um plano nesse sentido.
“Cadê os países que só falam da Amazônia, que têm um amor danado [pela região]? Por que em uma hora dessas não têm uma sinalização?”, pontuou.