Golpe da vaga de medicina: preso tem passagem até por sequestro
Polícia levantou a ficha do homem tido como o responsável pela venda de falsas vagas de medicina. “É um ficha extensa”, diz delegado
atualizado
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Goiânia – O homem que teria aplicado uma série de golpes vendendo falsas vagas de medicina no Brasil, no valor de até R$ 150 mil, e que levava uma vida de luxo com o dinheiro arrecadado, tem extensa ficha policial. A informação é do delegado William Bretz, do 8º Distrito Policial de Goiânia. Com o homem e sua mulher, presos esta semana, foram apreendidos e/ou bloqueados bens avaliados em cerca de R$ 2 milhões.
Alaor da Cunha Filho tem passagens por receptação, adulteração, lesão corporal, injúria e até sequestro. Ele e a esposa, Mayara Soares Pimassoni, foram presos nessa segunda-feira (26/7) em Campos dos Goyatacazes (RJ) por suspeita da prática de estelionato.
O casal é tido como o responsável por golpes que seriam praticados desde 2016 e que fizeram vítimas em pelo menos cinco estados (Goiás, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Maranhão e Mato Grosso).
O golpe consistia na oferta de facilidades na transferência de matrículas para instituições de ensino no brasil (públicas ou privadas) de quem iniciou o curso de medicina no exterior. Cada vaga era vendida por um valor que oscilava entre R$ 30 mil e R$ 150 mil, variando de acordo com o poder aquisitivo da vítima.
Vida de luxo
Alaor e Mayara levavam vida de luxo, custeada pelo dinheiro arrecadado com a prática criminosa, de acordo com o delegado. Eles foram presos em casa, uma mansão em um condomínio fechado avaliada em mais de R$ 1 milhão.
No local, a polícia apreendeu, ainda, dinheiro em espécie – em torno de R$ 5 mil – relógios importados, joias e roupas. Quatro veículos de alto padrão, avaliados em R$ 1,1 milhão, foram sequestrados judicialmente e deverão ser vendidos para ressarcir as vítimas da dupla.
O caso veio à tona após denúncia feita por uma vítima ao 8º Distrito Policial de Goiânia, no último dia 13/7. O delegado responsável, William Bretz, iniciou a investigação, fez contato com as polícias civis dos demais estados e deflagrou na segunda-feira (26/7) a Operação Dodge, em parceria com a polícia carioca.
Esposa estuda medicina
A investigação apurou que Mayara é estudante de medicina numa faculdade particular. Ela confirmou a informação durante o interrogatório. Alaor ficou em silêncio, segundo o delegado.
A princípio, o que a investigação descobriu é que ele seria o responsável pela negociação e a abordagem das pessoas. Ele é quem seria o responsável por aplicar os golpes, embora a esposa tivesse conhecimento do que acontecia.
Mayara é réu primária, mas é citada em procedimentos policiais. A apuração segue no sentido de delimitar a participação dela no esquema de golpes e descobrir novas vítimas no Brasil.
William Bretz acredita que mais pessoas foram alvos da ação da dupla, devido ao tempo de ação (cinco anos) e também à maneira como eles agiam.
“Quando as vítimas diziam que iriam procurar a polícia, eles ameaçavam e falavam que tinham amigos nas polícias do Brasil inteiro e que iria ficar ruim para elas”, conta o delegado Bretz.
Estratégia da dupla
A investigação descobriu que o casal tentava reforçar aspectos de licitude, durante a negociação das vagas. Os suspeitos informavam às vítimas que se tratavam de vagas remanescentes nas universidades e exibiam contratos falsos de prestação de serviços educacionais de graduação em medicina.
Os contratos eram fabricados para dar um ar de veracidade e traziam informações de instituições federais de ensino e, também, de estudantes. Fechada a negociação e com pagamento já feito, os criminosos cancelavam os contratos ou não cumpriam com o acordo e ameaçavam as vítimas, caso houvesse denúncias à polícia.
Segundo o delegado, as abordagens às vítimas eram feitas em grupos de rede social, principalmente no Facebook, onde se encontram pessoas que cursam medicina fora do país e almejam a transferência para alguma faculdade do Brasil.
“São grupos de interesse comum em transferências de vaga, grupos de informações, autoajuda… Eles identificavam ali as pessoas que poderiam ser vítimas e as procuravam depois em particular, enviavam mensagens, entravam em contato e ofereciam o serviço falso”, descreve William.