Goiás bate recorde de mortes por dengue e 2022 já lidera a estatística
Em oito meses, estado confirmou o maior número de mortes ocasionadas pela doença, desde 2010. Outros 131 óbitos, estão sob investigação
atualizado
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Goiânia – Os números da dengue em Goiás, de janeiro a agosto deste ano, atingiram patamares nunca antes registrados, mesmo quando comparados aos 12 meses de anos anteriores. Até o momento, 111 mortes ocasionadas pela doença já foram confirmadas no estado e outras 131 estão sob investigação em 2022.
Esse número é o maior já registrado na série histórica da estatística feita pela Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO), iniciada em 2010. No comparativo com os dados do ano passado, quando foram confirmadas 38 mortes, fica evidente o impacto do mosquito Aedes aegytpi, até então: um aumento de 192%.
A primeira morte confirmada no estado, em 2022, foi de uma mulher de 54 anos, moradora de Inhumas (GO), na região metropolitana de Goiânia. O óbito foi registrado em fevereiro, quando os dados já indicavam um cenário preocupante e do que estaria por vir nos meses seguintes.
A proliferação de casos da doença, no início deste ano, colocou Goiás, imediatamente, como o líder do ranking no país. Até então, 144.859 diagnósticos já foram confirmados, somente, em 2022 – um aumento de 269%, em relação ao mesmo período (janeiro a agosto) do ano passado.
Em Goiânia, a história não é diferente. A cidade chegou a ser apontada pelo Ministério da Saúde, em abril, como a capital com a maior quantidade de casos confirmados de dengue. Hoje, já são 27.895, enquanto no mesmo período, em 2021, foram registrados 5.390.
Mortes na capital
Das 111 mortes contabilizadas em Goiás, 30 são de moradores de Goiânia. Outras 36, ocorridas por suspeita de dengue, seguem em fase de investigação. No grupo das vítimas da capital, está, por exemplo, o padre João de Bona Filho, que morreu aos 70 anos, em abril.
O religioso era conhecido entre os católicos e fazia parte da Paróquia Nossa Senhora da Rosa Mística, uma das mais tradicionais da cidade. Ele ficou em estado grave na UTI, após ser picado pelo Aedes aegypti. Padre João teve as funções renais comprometidas, chegou a fazer hemodiálise, mas não resistiu.
Combate
Órgãos de saúde e limpeza estão empenhados no combate ao mosquito, mas ele resiste em se manter presente. O aumento acima da média em Goiás surpreendeu as autoridades públicas. O surgimento dos casos já era algo esperado, como sempre acontece no período chuvoso (final e início de cada ano), mas não em larga escala, como o registrado, até então.
Ao mesmo tempo que pode ser um sinal de descuido da população ou de relaxamento, após o período crítico da pandemia, é também reflexo da grande quantidade de imóveis desocupados ou abandonados nas cidades. Em Goiânia, por exemplo, é comum trabalhadores da vigilância adentrarem casas com focos da dengue, mas sem nenhum morador ou responsável presente.
Nessa quinta-feira (1º/9), equipes de limpeza da prefeitura de Goiânia começaram um trabalho concentrado em praças e espelhos d’água, visando o combate ao mosquito. Com produtos à base de cloro e sulfato de alumínio, o objetivo é higienizar 23 fontes, localizadas em 12 bairros da capital, até esta sexta-feira (2/9).
Mortes foram registradas em diferentes faixas etárias
A gravidade do cenário expressa-se, em muito, na maneira como a dengue é capaz de acometer todas as faixas etárias e públicos em diferentes condições. Entre as mortes registradas em Goiás, este ano, constam casos desde bebês com menos de 1 ano de idade até gestantes e idosos.
Em maio, uma criança com apenas 11 meses de vida morreu em Uruaçu (GO), por complicações de dengue hemorrágica. Heitor Francisco de Moura estava internado no Hospital Estadual Centro-Norte Goiano (HCN). Ele morava com a família em Niquelândia (GO), cidade próxima, e havia sido transferido para receber o tratamento.
O bebê chegou a ter alta, durante a internação, mas precisou voltar ao hospital, dois dias depois, após o agravamento do caso. Ele retornou à unidade de saúde com quadro de choque hipovolêmico e, em poucas horas, sofreu uma parada cardiorrespiratória.
Grávida de gêmeas entre as vítimas
Em maio, um outro caso comoveu os goianos. A advogada Nathany Sanches Batista, de 33 anos, estava grávida de gêmeas (Isabela e Gabriela). Ela morava com o marido em Silvânia (GO) e foi transferida às pressas para um hospital de Goiânia, com suspeita de dengue.
O quadro se agravou tanto que ela e as filhas não resistiram e morreram por complicações da doença. Nathany era presidente da Comissão da Mulher Advogada na subseção da Ordem dos Advogados do Brasil em Goiás (OAB-GO), em Silvânia.
O marido dela, Anderson Gonçalves Teixeira, chegou a publicar, nas redes sociais, uma mensagem expressando a dor pela perda da esposa e das filhas: “Ai, meu amor, como dói! Era tão bom ver o sorriso estampado no seu rosto quando os bebês começavam a mexer. Que saudade que estou sentindo de vocês, amores da minha vida”.