Goiânia sedia evento de fisiculturismo 4 dias após morte de atleta
Empresa realizadora do evento tentou “esconder” o campeonato para evitar denúncias, no entanto, classificatório ocorreu normalmente
atualizado
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Goiânia – Mesmo diante da gravidade da pandemia de Covid-19, o campeonato Classic Contest, classificatório para torneios maiores de fisiculturismo como o Arnold Classic South America e MR. Olympia Brasil, ocorreu normalmente neste domingo (4/4), em Goiânia.
O evento foi realizado quatro dias depois da morte do atleta goiano, veterano na modalidade, Djalma Batista, na última quinta-feira (1°/4), vítima da doença. A Prefeitura de Goiânia informou que este tipo de evento está autorizado a acontecer conforme decretos do próprio município e do Governo de Goiás que permitem a realização de eventos esportivos sem público.
Apesar da falta de imagens e informações no perfil oficial do evento, atletas que participaram da competição postaram em seus perfis pessoais algumas fotografias do torneio, que ocorreu em um teatro da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUCGO) na capital goiana.
Segundo informações do UOL, organizadores do campeonato realizaram uma operação “abafa” para evitar críticas pela manutenção do evento, que reuniu cerca de 80 pessoas, entre atletas, técnicos e funcionários. Depois da informação de realização da seletiva ter circulado, os organizadores receberam muitas críticas nas redes sociais.
De acordo com o portal, uma das realizadoras da competição, a empresária Kenia de Sousa, afirmou que o evento “segue todos os protocolos de segurança” e que tem a autorização da prefeitura.
“Todos os atletas estão usando máscara N95 e tiveram que apresentar teste de covid. Sem o teste, eles não conseguem nem se inscrever”, disse ela.
Kenia Sousa declarou ainda que a morte de Djalma Batista, que consternou a classe esportiva, não seria justificativa para adiar o campeonato.
“Quando ele faleceu, a gente já tinha tudo agendado. É um pesar muito grande, mas como a gente faz? Para tudo? Vamos parar tudo? Como eu vou justificar para 70 pessoas que estão inscritas: ‘olha não vai acontecer porque o Djalma faleceu e vamos ter que adiar’?”, concluiu ela.
O site de notícias ainda teve acesso a prints de um grupo de Whatsapp com organizadores do evento. Na conversa, um dos atletas pede para que as pessoas evitem fotos para evitar denúncias ou tentativas de boicote do campeonato.
Até o fechamento desta reportagem, o Metrópoles não tinha conseguido retorno dos organizadores.
Decreto
Apesar da afirmação de Kenia Sousa de que o evento segue protocolos de segurança e foi autorizado pela prefeitura da capital goiana, o decreto publicado na última semana, que flexibilizou medidas restritivas no combate à pandemia de coronavírus no município, após quase 30 dias de lockdown, contradiz a fala da empresária.
Conforme decreto publicado no dia 27 de março, pelo prefeito de Goiânia, Rogério Cruz (Republicanos) o sétimo parágrafo do documento aponta que “estabelecimentos destinados à prática de esportes coletivos” devem ter “a participação de no máximo 4 (quatro) integrantes.”
Por outro lado, por meio de nota encaminhada ao Metrópoles, a Secretaria Municipal de Saúde esclareceu que: “A autorização foi concedida com base no decreto estadual que permite esportes profissionais e desde que não tenha público. O evento mencionado foi um campeonato de atletas profissionais, fechado ao público, com protocolo sanitário rígido, incluindo a testagem de todos os atletas antes do evento”.
Morte
O personal trainer e ex-campeão de fisiculturismo Djalma Batista, de 49 anos, morreu vítima da Covid-19, em Anápolis, a 55 km da capital. Após uma internação de sete dias, o ex-atleta não resistiu às complicações da doença, na quinta-feira (1º/4).
De acordo com a Federação Goiana de Musculação, Djalma era tetracampeão goiano estadual IFBB (sigla em inglês para Federação Internacional de Fisiculturismo), vice-campeão brasileiro IFBB e bicampeão da Copa Brasil Body Classic IFBB, todas na categoria Master.
Segundo familiares e amigos, o personal trainer levava uma vida saudável, não tinha comorbidades, mantinha uma alimentação balanceada e equilibrada, além de praticar esportes com frequência.
“Ele não era apenas um competidor, era um atleta, um atleta exemplar”, disse ao Uol Márcio Rezende, amigo e presidente da IFFB-GO (Federação Goiana de Musculação e Fisiculturismo). “Não estava lá pra brigar por medalha ou troféu, e sim pra participar. Tinha o verdadeiro espírito esportivo”, relembra o amigo do fisiculturista.
Números altos
De acordo com dados da Secretaria de Estado da Saúde, Goiás chegou neste domingo a 490.325 casos confirmados de infecção pelo novo coronavírus. Outros 414.400 são suspeitos. A doença já levou a morte de 11.836 pessoas no estado, sendo que 261 óbitos suspeitos ainda são investigadas. A taxa de letalidade é de 2,42%.