Goianas presas na Alemanha ficaram 5 horas algemadas pelas mãos e pés
Em entrevista, as brasileiras detalham os momentos que passaram presas injustamente na Alemanha. As duas estão com viagem marcada
atualizado
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As goianas Jeanne Paollini e Kátyna Baía, que ficaram presas injustamente por 38 dias na Alemanha, precisaram ficar cinco horas algemadas pelas mãos e pelos pés quando foram detidas no país europeu. Como ficou esclarecido após investigação da Polícia Federal, elas foram acusadas de tráfico internacional de drogas porque bandidos trocaram a etiqueta da mala que elas despacharam no Aeroporto de Guarulhos durante viagem internacional.
Em entrevista ao Fantástico, as duas detalharam como foi a experiência no sistema carcerário da Alemanha. Elas contam como entenderam que eram acusadas de transportar cocaína, como passavam os dias no presídio e como foram comunicadas que estavam livres. As mulheres chegaram ao Brasil na última sexta-feira (14/4).
Momento da prisão
Depois de ser detidas pelos seguranças do aeroporto, elas contam como foram tratadas.
“Eu ficava perguntando pra eles, em inglês: ‘Cadê minha esposa: Cadê minha esposa?’. Logo me algemaram, tudo aquilo acontecendo, foi aí que entendi a palavra ‘cocaína'”, lembra Kátyna.
“Só depois que chegou uma intérprete [que entendemos] e isso aconteceu muitas horas depois”, completa Jeanne. Kátyna ainda disse que os policiais a obrigaram a ficar sem casaco, num dia que a temperatura estava em cerca de 2ºC.
Foi nesse momento que as duas ficaram cinco horas algemadas pelas mãos e pelos pés.
“Fora isso, a gente teve que passar por uma humilhante revista íntima. Fomos transferidas para um prédio provisório onde nós passamos a noite. Um local muito frio, uma cela suja, ficamos sem comer. E nesse lugar tinham pessoas gritando, batendo na porta em vários idiomas. Desde aquele dia nós já não dormimos mais”, diz ainda Jeanne.
O presídio
No dia seguinte à prisão, as duas foram levadas a um presídio em Frankfurt. Segundo contam, ali elas passavam a maior parte do dia, cerca de 16 horas, em celas individuais muito pequenas, com cerca de 6m², elas apenas se viam nos momentos de convivência.
“Nós convivíamos ali com pessoas de crimes diferentes: assassinas, assassinas em série, incendiárias, todo tipo de pessoa. Era o tipo de ambiente insalubre de várias maneiras, mentalmente, fisicamente. Nós temíamos por nossa segurança, estávamos convivendo com pessoas perigosas”, conta Kátyna.
“Nós não tínhamos livros, não tínhamos televisão, uma hora pra gente ali dentro era um dia”, afirma Jeanne. Ela ainda conta que a fé a sustentou nos dias que ficou no presídio.
Goiana que ficou presa na Alemanha: “A polícia também liberta”; vídeo
“Eu rezava muito dentro do presídio, tinha esperança de que quando eu ia dormir aquilo ali talvez ia acabar. Amanhã vai ser um outro dia. Amanhã pode ser diferente. Quando eu abria o olho eu pensava ‘não acabou esse pesadelo, eu ainda tô nessa cela'”, lembra.
“A sensação de injustiça era muito grande. Ficar dentro de um presídio sabendo que você é inocente, isso dói demais. Isso dava um desespero todos os dias, por que que isso aconteceu com a gente?”, diz ainda Jeanne.
Kátyna rememora que ficou sem medicação durante o tempo que passou na prisão. A mulher passou por uma cirurgia de aneurisma cerebral e há anos usa medicamento contínuo. Num primeiro momento, o remédio foi negado, depois, ela conseguiu acesso, mas as doses não eram homogêneas.
A libertação
Kátyna lembra do momento em que os policiais a contam que ela está livre.
“Chega uma policial, falando em alemão, eu não compreendo e digo ‘Em inglês, por favor’, e ela ‘Você está livre, recolha suas coisas, por favor, recolha suas coisas que você está livre’. Naquele momento eu falei ‘Livre?’, já saí correndo pra cela da Jeanne e comecei a gritar”, narra.
Quando as duas saíram da prisão, foram recepcionadas por funcionários da Embaixada do Brasil na Alemanha. A família das duas também havia viajado ao país para recebê-las.
Depois da prisão
Jeanne afirma que ainda não se recuperou dos dias que passou detida na Alemanha.
“Meu coração ainda acelera quando eu escuto alguns barulhos. Eu lembro do barulho das chaves, do barulho dos cadeados, eu ainda não consegui dormir, acordei no horário que eles acordavam no presídio”, rememora.
A mulher espera que a história das duas sirva para melhorar os esquemas de segurança nos aeroportos.
“Qualquer pessoa que estivesse viajando poderia ter as etiquetas trocadas também. A gente espera que a partir daqui muita coisa mude, muita coisa melhore. Porque a gente paga e caro pra despachar uma mala. O mínimo que a gente tem que ter é segurança. Eu não desejo isso pra ninguém, não quero que ninguém na vida passe por isso que nós passamos”, afirma.
“Poderia ter acontecido com qualquer pessoa, e se fosse com uma senhora de 80 anos sendo presa num país ou um adolescente que viaja pra intercâmbio?”, questiona Kátyna.
Apesar do trauma, as duas estão com uma viagem marcada para o fim do ano, mas, dessa vez, irão levar apenas bagagem de mão.