GO: pastor acusado de abuso sexual teria praticado 1º crime há 20 anos
Pastor já foi denunciado por 9 mulheres; crimes podem ocorrer há anos: “esse fio é antigo e não sabemos quando para”, diz defensora pública
atualizado
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Goiânia – Acusado de crimes sexuais, o primeiro caso praticado pelo pastor Esney Martins da Costa teria ocorrido há mais de 20 anos. A informação da Defensoria Pública de Goiás (DPE-GO). Segundo a coordenadora do Núcleo Especializado de Defesa e Promoção dos Direitos da Mulher, Gabriela Hamdan, “esse fio é antigo e não sabemos quando ele para”.
As queixas foram registradas pela Defensoria Pública do Estado de Goiás (DPE-GO), após reportagem do Fantástico revelar outros três casos, entre eles, o de uma adolescente. O delegado Rilmo Braga informou que o religioso negou qualquer crime em depoimento.
“O que observamos de crimes sexuais por líderes religiosos é que eles têm certa sequência temporal, não são recentes, somente. [Neste caso] É uma sequência de mais de 20 anos, com mulheres diferentes em contextos de épocas diferentes”, disse ela durante coletiva de imprensa nesta quarta-feira (4/8).
Até o momento, o pastor já foi acusado por nove mulheres. No entanto, segundo a defensora pública, não é possível quantificar o número de possíveis vítimas. De acordo com Hamdan, elas têm vergonha, uma vez que os abusos começam sutis e, quando percebem, já estão com “dificuldade de sair”.
Esney comanda a igreja Renascendo para Cristo, no Setor Parque Amazônia, um bairro de classe média na capital. As denúncias vieram à tona depois de um ex-membro do templo tomar conhecimento dos abusos e de um núcleo de apoio às vítimas.
Perfil das vítimas
Segundo Gabriela Hamdan, as vítimas do pastor são mulheres que apresentam vulnerabilidade financeira ou social e que se sentiram acolhidas na congregação liderada por Esney. “Se sentiam muito bem acolhidas pelo pastor”, disse ela.
“No início, elas começaram a frequentar a igreja e se sentiram acolhidas. Esse líder religioso se aproximava delas como uma figura paterna e começava a ajudar financeiramente, levar para fazer retiro”, afirmou.
Após ganhar a confiança, de acordo com a Defensoria Pública, o líder religioso começava a praticar os abusos. “Começava-se com uma oração com imposição de mãos como se tivesse pegando no coração e, aí, descia a mão. Era algo sutil, e as vítimas começavam a duvidar se estavam ficando loucas por estarem acusando um homem de Deus”, contou Gabriela.
Investigação
Dois casos estão sendo investigados pela Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam). Já o da garota é apurado pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). O pastor prestou depoimento e disse que é inocente.
“A princípio, o suspeito nega todas as acusações e se coloca à disposição da polícia. O que percebemos é que as informações trazidas aos autos em nada colaboraram com as investigações”, disse o delegado Rilmo Braga, gerente de Planejamento Operacional da Polícia Civil.
O Metrópoles não localizou o contato da defesa do pastor. Em nota enviada ao Fantástico, a advogada Rosângela Magalhães disse que ele prestou todas as informações solicitadas e está colaborando com as investigações. Segundo ela, as queixas não tratam de fatos praticados com violência ou grave ameaça.
Se forem comprovadas as acusações, o pastor pode ser indiciado por crime de violação sexual mediante fraude e importunação sexual. Somadas, as penas podem ultrapassar dez anos de prisão.
“Intérprete de Deus”
O pastor se apresentava aos fiéis como um “intérprete da vontade de Deus”. Foi com esse discurso que ele conseguiu molestar uma das vítimas.
“Ele falava que era para o meu crescimento espiritual, que era para eu crescer na vida. Ele às vezes confunde até a mente da gente em acreditar que o que ele faz vem de Deus”, afirmou uma das vítimas.
Ela ainda disse que, ao contar ao pastor que tinha sido abusada sexualmente quando era criança, ele insistiu ainda mais: “Você vai ter que passar pela ferida para ser curada. E aí eu fiquei: ‘Meu Deus, eu vou ter que ser molestada de novo para ser curada de um trauma que eu fui na infância?’ Então isso não me deixava dormir”, relembrou.
A família da adolescente relata que descobriu os abusos após perceber a mudança de comportamento da menina. “Todas as vezes que ela ia, chegava em casa chorando e se mutilava – as pernas, as costas. Comecei a desconfiar. Foi um choque. Quando eu vi aquilo, o meu mundo desabou. Morri ali. Eu me sinto culpada de tudo, mas também fui vítima disso tudo. Ele me enganou”, lamentou a mãe dela.