GO: “Está traumatizada”, diz mãe de jovem com “doença da urina preta”
Kelly Silva se contaminou após consumir comida japonesa em Goianésia; ela recebeu alta esta segunda em Goiânia, um mês após ser internada
atualizado
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Goiânia – Os dias na enfermaria provocaram choro e flashes de terror na jovem Kelly Silva, de 27 anos, que, nesta segunda-feira (26/7), recebeu alta ao completar um mês de internação em hospital da capital goiana por causa da Síndrome de Haff, conhecida como “doença da urina preta”. “Ela ainda está traumatizada”, contou a mãe, Maria da Conceição, de 47, em entrevista ao Metrópoles.
A jovem estava internada na enfermaria do Hospital Jardim América, na região sudoeste de Goiânia. Ela ficou 20 dias na unidade de terapia intensiva (UTI), para onde foi levada de Goianésia, onde mora com a família, a 175 quilômetros da capital. Kelly começou a se sentir mal no dia 24/6 após comer sashimis de tilápia e salmão na cidade natal.
“Por causa do trauma, minha filha está fazendo acompanhamento com psicólogo, psicoterapeuta. Ela vai precisar também de terapia depois que a gente voltar para nossa cidade, por causa do quadro que ela passou”, contou, ressaltando que a jovem ainda está abalada. “Mesmo na enfermaria, ela já disse que vai morrer e chegou a chorar, às vezes”.
A jovem chegou a ser intubada e a passar por sessões diárias de hemodiálise, já que seus rins não estavam respondendo. Entre os sintomas da síndrome, ela apresentou perda da força muscular, dor no corpo, cor azulada nas extremidades do corpo e urina com coloração escura. “Ela também está fazendo fisioterapia para voltar os movimentos”, contou a mãe.
Fé
A família transformou o desespero em motivo para fortalecer a fé pela cura da jovem. “Cada dia é um milagre. Somos católicos. Muitas pessoas estão em oração por ela e fortalecendo a gente também”, afirmou a mãe, que acompanha a filha diariamente no hospital.
“No início, a gente ficou sem chão, porque foi algo inesperado, e depois as notícias não eram boas. Cada dia tinha uma notícia que não era animadora. Com o tempo, depois que ela foi ‘desintubada’, começou a tratar a doença, a gente conseguiu se tranquilizar mais um pouco”, relatou.
Os sinais de melhora chegam com muita esperança para a jovem, que ainda tem sido poupada de fazer esforços para se recuperar logo. “A expectativa é de a gente voltar o mais rápido possível, com fé em Deus”, afirmou a mãe.
No último boletim médico, o hospital confirmou que a jovem continua internada na enfermaria e segue sem intercorrências nas últimas 24 horas. Segundo a unidade de saúde, uma equipe multidisciplinar está acompanhando a evolução da paciente, incluindo profissionais da clínica médica e nefrologia. Além disso, ela também está passando por sessões de fisioterapia para reabilitação motora.
Alerta
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goianésia, a hidratação é fundamental nas horas seguintes ao aparecimento dos sintomas. O titular da SMS, Rafael Cardoso, publicou vídeo orientando a população, no dia 13/7.
“Estamos avaliando pessoas que teve contato com ela. Nenhuma outra pessoa do município foi notificada pela doença. Caso apareça um segundo caso vamos fazer um comunicado oficial”, disse o secretário.
A síndrome é causada por uma toxina que pode ser encontrada em peixes cozidos ou crus. Entre os sintomas estão extrema rigidez muscular de forma repentina, dores no corpo, dificuldade de respirar, dormência e urina com cor de café.
Síndrome de Haff
A doença de Haff está associada à ingestão de crustáceos e pescados e o principal sintoma é o escurecimento da urina, que chega a ficar da cor de café. A síndrome pode evoluir rapidamente: os primeiros sintomas surgem entre 2 e 24 horas após o consumo de peixe, e causa, principalmente, a ruptura das células musculares.
Além da urina preta, entre os principais sinais da doença, estão a dor e rigidez muscular, dormência, perda de força e falta de ar.
A hipótese mais aceita é que a enfermidade seja causada por alguma toxina biológica termoestável (ou seja, que não é destruída pelo processo normal de cozedura) presente em peixes de água doce e crustáceos.
A substância não altera o sabor ou a cor do alimento, o que facilita a contaminação. Alguns frutos do mar que foram consumidos por pacientes diagnosticados com a síndrome incluem espécies como o tambaqui, pacu-manteiga, pirapitinga e lagostim.
É importante que a doença seja identificada e tratada rapidamente, pois pode trazer complicações graves para o paciente, como insuficiência renal, falência múltipla de órgãos e óbito.