GO: casamento coletivo LGBTQIA+ na sexta reúne mais de 60 casais
Iniciativa é do TJGO e tem como objetivo promover a igualdade, a diversidade e o respeito para todas as pessoas
atualizado
Compartilhar notícia
Goiânia – Depois de cinco anos juntos, o policial rodoviário federal (PRF) Fabrício Vieira Silva Rosa, de 44 anos, e o produtor cultural Bruno Borges Vieira do Couto, de 28, vão realizar o desejo de se casarem e, não será uma celebração tradicional, afinal, eles vão dividir esse momento com outros 68 casais.
“Além da felicidade pessoal, de estar me casando com a pessoa que admiro e amo, comungo de uma felicidade coletiva. Num mundo recheado de individualismo, fazer uma festa de muitas mãos, com muitas pessoas que comungam do mesmo desejo de amar, de estar juntos, de formar uma família, é revolucionário”, afirmou Fabrício, que também é vereador por Goiânia, pelo PT.
O PRF e seu futuro marido vão participar na próxima sexta-feira (28/6), data que marca Dia Mundial de Celebração do Orgulho LGBTQIAPN+, do casamento coletivo promovido pela presidência do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO) e a Corregedoria Geral da Justiça (CGJ), na capital goiana.
A cerimônia será realizada às 17h, no jardim do Fórum Cível, e reunirá os noivos e seus familiares.
O objetivo do casamento comunitário é oferecer, gratuitamente, o acesso ao registro de casamento civil para casais constituídos por pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e outras identidades em situação de vulnerabilidade social.
Preconceito sentido na pele
De acordo com Fabrício, ele e Bruno se conheceram em uma festa, em Goiânia. O policial aponta que tanto ele como seu par sentem homofobia e alguma hostilidade contra casais homoafetivos.
“Quanto à homofobia, a gente sente ela cotidianamente, nos olhares incomodados com nosso beijo ou abraço público, nas esquivas em estar perto, no tratamento diferenciado no comércio, por ser um casal gay”, disse ele, que não fará uma celebração após o casamento.
O policial revelou conhecer casos de preconceito contra casais homoafetivos que contratam serviços para festas.
“Acompanho vários casos de fotógrafos, espaços de festa, bufês não quererem fazer a festa de casamento de casais homoafetivos. Faço parte da Rede Nacional de Operadores de Segurança Pública LGBTQIA+ e recebo várias denúncias de casos assim, para, como policial, ajudar as pessoas a procurar a delegacia (muitos têm vergonha). Então, fico sabendo de muitos casos do tipo aqui em Goiás, um dos estados que carregam os maiores índices de LGBTfobia violenta do país”, alerta o policial.
No entanto, o amor resiste.
“Para nós, LGBTQIA+, que tivemos esse direito (do casamento) negado por tantos anos, é muito importante saber que nossos afetos também têm importância. Nossa troca de alianças, nosso beijo, nosso abraço, passam a ser respeitados e valorizados pública e coletivamente.”
Planos para o futuro
Fabrício e Bruno se casaram na semana passada em um cartório de Goiânia. Porém, segundo eles, como não haverá festa, a comemoração será no casamento coletivo. A iniciativa é a primeira do estado.
“Fico extremamente honrado e feliz por saber que meu amor, o mais nobre dos sentimentos, o melhor que podemos ser, está recebendo proteção jurídica do estado. Goiás é um lugar tão conservador, marcado pelo agro e pela bala, saber que temos juízes que partilham de nossos valores é reconfortante. Esperamos que venham muitos outros. Sabemos que eram 200 vagas, mas nem todos os casais conseguiram cumprir as burocracias”, afirmou.
Logo após a troca de alianças, o casal já vislumbra a lua de mel e os filhos. “Estávamos meio sem grana e não estávamos preparados para o casamento. Então, não haverá festa. Mas estamos juntando um dinheirinho e vamos passar a lua de mel, no final de julho, na praia.”
“Estamos exultantes. Estamos já pensando nos filhos. Vamos ingressar no processo de adoção de crianças logo depois do casamento. Queremos crianças de adoção tardia ou crianças atípicas”, completou o policial.
Oportunidade importante
Também noivos e com a troca de alianças confirmada para a próxima sexta, o casal formado pelo advogado Alex Firmino da Costa, de 35 anos, e pelo assistente financeiro Jonathan Matheus dos Santos, de 24, afirma que a oportunidade é uma grande conquista para a comunidade LGBTQIA+.
“Muitos casais homoafetivos deixam de formalizar essa união, essa sociedade conjugal, por falta de oportunidade e até por desconhecimento de que é um direito civil conquistado no Judiciário para a comunidade LGBTQIA+. Outra questão é a falta de recursos. São pessoas que podem estar em situação socioeconômica de hipossuficiência e não conseguem arcar com os emolumentos do cartório. Portanto, essa oportunidade traz realmente uma conquista para protegê-los. Muitas pessoas estão em relacionamentos há anos, em uma relação conjugal, e não têm essa proteção legal da instituição familiar, de seus bens, de tudo o que construíram durante o relacionamento, durante a convivência”, afirma Alex.
“Ter essa oportunidade assegura direitos civis, proporciona proteção legal e formaliza essa união. Acredito que também traz uma sensação de alegria para essas pessoas, de que são reconhecidas, têm visibilidade perante a lei, o judiciário as enxerga, as protege, e que esse direito também as alcança. É um sentimento gratificante, de existência. É um sentimento de que você existe, de que o Estado te vê, te reconhece, e que você também pode alcançar esse direito, independentemente de sua orientação sexual e identidade de gênero”, finalizou ele.
Casamentos entre pessoas do mesmo sexo
Os cartórios começaram a realizar casamentos entre pessoas do mesmo sexo em 2013, quando o Conselho Nacional de Justiça editou a Resolução 175/2013. A união homoafetiva no Brasil, no entanto, foi reconhecida em maio de 2011, quando, por unanimidade, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) equiparou as relações entre pessoas do mesmo sexo às uniões estáveis entre homens e mulheres.
Somente em Goiânia, nos últimos cinco anos, os cartórios celebraram a união de 802 pessoas do mesmo sexo.
“É um marco importantíssimo e, quando esse tipo de iniciativa parte do Poder Judiciário, mostramos que estamos prontos para garantir direitos e para lutar contra o preconceito”, afirmou a diretora do Foro da comarca de Goiânia, a juíza Patrícia Bretas.
A capital goiana somou a maioria das inscrições para a celebração no TJGO. Os outros casais vêm de Aparecida de Goiânia, Senador Canedo, Trindade, Nerópolis, Bela Vista de Goiás, Santo Antônio de Goiás, Goianápolis e Goianira.
“O evento celebrará o amor e a diversidade, contribuindo para a promoção dos direitos humanos e garantia dos direitos civis da população LGBTQIA+ no estado de Goiás”, complementou a juíza Patrícia Bretas.