GO: acumuladores de lixo criam transtornos a parentes e vizinhos
Só na capital goiana são 108 endereços de acumuladores. Um dos casos é de mulher que vive com cachorros em ambiente tomado por lixo
atualizado
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Goiânia – Uma idosa debilitada de 84 anos vivia isolada dentro da própria casa, ilhada por uma montanha de lixo, construída pelo próprio filho, de 57. O caso teve repercussão essa semana, quando a prefeitura fez uma força-tarefa para limpar o local, depois de autorização judicial.
Até a publicação desta matéria foram 25 caminhões lotados de inúmeros materiais: restos de comida, panelas, fios, roupas velhas, garrafas de vidro, caixas de papelão, entre outros. A limpeza segue no segundo dia, caminhando para o terceiro. A rua chegou a ser bloqueada, para permitir a limpeza, feita com o auxílio de um trator.
Veja o vídeo:
Essa idosa é conhecida como Nair e o filho dela é o Ubaldo. Ambos possuem um quadro sugestivo para transtorno de acúmulo, explicou o coordenador de fiscalização da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia, Jadson Moreira.
“A gente percebe pela maneira de falar que eles têm um amor muito grande por aquele lixo”, explicou o gestor.
Passado de sofrimento
A ficha mais antiga da assistência social de Goiânia sobre Nair e Ubaldo é de 2008. Durante todos esses anos eles não teriam aceitado um acompanhamento especializado da prefeitura. Por outro lado, teria se iniciado uma iniciativa do Ministério Público para um pedido de internação compulsória, contra a vontade da dupla, que não se concretizou.
Na última terça-feira (14/6), Ubaldo resistiu ao trabalho da prefeitura que realizava a limpeza, mas após muito convencimento e com apoio de uma irmã, ele e a mãe foram levados para uma unidade de saúde, onde por coincidência foram diagnosticados com Covid-19 e agora estão internados.
Com a condição de anonimato, uma familiar muito próxima da família conversou com o Metrópoles na unidade de saúde. Ela contou que Nair vivia na zona rural de Marianópolis do Tocantins e depois se mudou com a família para a capital de Goiás. Ela teve seis filhos, sendo Ubaldo o mais velho, e desde mais jovem tinha o comportamento acumulador, que foi aumentando. O marido a abandonou quando os filhos eram todos crianças.
“É muito sofrido para a família, porque eles não aceitam ajuda. Eu não tive criação, eu não estudava, eu até passava fome. Todo mundo que morava com eles foi saindo da casa, porque não aguentava aquela sujeira. Eu preferi morar debaixo da lona, para sair de lá”, contou a parente de Nair.
Resistência
Uma das grandes dificuldades em casos como esse é que os acumuladores resistem em deixar os objetos que amontoam. Nair, por exemplo, já foi levada para a casa de uma filha por um tempo e ficou desesperada querendo retornar para sua residência cercada por uma montanha de lixo, segundo a familiar ouvida pela reportagem.
Veja o segundo dia de limpeza:
O caso de Nair e Ubaldo não é único. Em Goiânia são pelo menos 108 endereços de acumuladores que a prefeitura monitora.
“O perfil normalmente é de pessoas que perdem alguém que amam e passam a substituir por esses objetos. Temos situações semelhantes, inclusive até mais graves”, explicou Jadson, o coordenador de fiscalização da Saúde.
Cachorros e carniça
A reportagem esteve em um desses endereços que são monitorados pela prefeitura, no bairro Parque Amazônia. A situação precária do local é visível. A única moradora da residência possui mais de dez cachorros e, além de acumular objetos, também acumula ossadas de bovinos que ela dá de alimento para os animais, segundo os vizinhos.
Por causa disso, o cheiro de carniça no local é perceptível. O odor é ainda pior em dias quentes, segundo moradores, que já fizeram uma série de reclamações. Para completar, a mulher tem comportamento violento e xinga pessoas que passam pela rua.
“O nosso desespero chegou ao limite. Tem dia que a gente não consegue ficar no quintal, abrir janelas, por causa da carniça”, contou uma vizinha.
Nos dois endereços visitados pela reportagem havia muita reclamação de casos de dengue e outras doenças relacionadas ao mosquito aedes aegypti. No caso da acumuladora com cachorros, a prefeitura já conseguiu uma decisão judicial para a limpeza do local, mas realiza os procedimentos necessários para cumpri-la.
Já no caso de Nair, ainda havia muitos relatos de ratos e baratas, a casa dela está em uma rua comercial com muito movimento. O caso de Nair está sendo investigado pela Delegacia do Idoso.
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