Gilberto Gil: “Bolsonaro me inspira a oração”
Sobre Lula, compositor diz que ex-presidente inspira compaixão: “É uma pedra bruta, não lapidável”
atualizado
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“Já antes da sua eleição a presidente, eu rezava todo dia para que ele se fizesse suficientemente compreensível para mim e para que eu pudesse também me tornar suficientemente compreensível para ele. Para que nós nos compatibilizássemos em nossas diferenças” (‘Amai o próximo como a ti mesmo’).”
“Estamos com medo do futuro. Isso é inédito.”
“O Lula me inspira compaixão. É uma pedra bruta, não lapidável.”
“Figuras humanas a admirar, a reverenciar e a tomar como exemplo. Um general como Rondon, um cientista como Einstein, um jogador como Garrincha, um músico como João Gilberto, uma escritora como Simone de Beauvoir, uma cantora como Beyoncé, um político como Barack Obama, uma atriz como Fernanda Torres, uma jornalista como Renata Lo Prete, um santo como Yogananda. Quem mais? Valha-me Deus!”
“A gente sabe que qualquer coisa que venha deste governo pode ter um viés de retaliação, um viés de vingança, um viés de perseguição. No Ministério da Educação, por exemplo, você tem atitudes nitidamente enviesadas. Mas, no caso da Lei Rouanet, não há evidências disso. Abriram-se exceções razoáveis, como para museus, por exemplo.”
“Informação e desinformação chegaram juntas à Internet, lucidez e estupidez também. O Tao dá o Um. O Um dá o Dois, que dá o Três, que dá Tudo. A velha sabedoria chinesa!”
Pois então, como o autor de A Paz, de Andar com Fé, de Tempo Rei, de Filhos de Gandhi, de Oriente, de Super Homem, de Realce, de Luar, de Vamos Fugir – e de tantas outras canções clássicas que praticamente formaram gerações e gerações de brasileiros – tem vivido estes dias de apreensão e de intolerância?
É com enorme satisfação que o blog Inconsciente Coletivo estende o tapete persa para que Gilberto Gil, aos 76 anos, artista, aprendiz e mestre das filosofias, ex-ministro, pudesse compartilhar seus insights e pensamentos.
Por uma contingência das agendas, a entrevista acabou sendo feita por escrito, o que resultou em mais qualidade, pois assim Gil teve tempo para formular melhor as respostas. Quem ganha é o leitor, que certamente acabará por se familiarizar com seu modo de articular as ideias.
Gil passou por um período de repetidas internações hospitalares, com problemas renais e cardíacos. Sai desse ciclo com a saúde em conformidade com a idade, como relata aqui.
E com uma agenda lotada de shows de seu último trabalho, o ótimo Ok Ok Ok, pelo Brasil afora e pelo verão europeu.
Dividimos a entrevista em quatro partes: Brasil, cultura, internet e filosofias.
BRASIL
1 – Em Ok Ok Ok, os versos dizem “Já sei que querem a minha opinião, como interpreto a tal, a vil situação”. Qual seria esta vil situação?
Parece consensual a percepção de que o “espírito do tempo” se manifesta, cada vez mais, como um “espírito de porco” (tomando emprestada uma expressão popular pejorativa). As coisas vão de mal a pior, a descrença e o desânimo se abatem sobre a multidão, as soluções se transformam em novos problemas mais complexos, a tentação regressiva ganha cada vez mais espaço, e a queixa reverbera altissonante.
A tarefa historicamente atribuída aos formadores de opinião (intelectuais, comunicadores, artistas e tais), de produzirem uma crítica consistente da situação, fica ampliada exponencialmente. Somam-se a esses setores os milhões de anônimos, num jogo alucinante de opiniões e contraopiniões nas redes sociais, como se houvéssemos chegado, afinal, à “Grande Babel”.
É disso que trata, num tom pessoalmente defensivo, a letra de Ok Ok Ok: as minhas opiniões (como as de todo mundo) seriam cada vez mais tragadas pelo buraco negro do ruído contemporâneo, daí se tornarem desprovidas de peso e contundência, quase irrelevantes.
Por aí falta trabalho, renda, poder aquisitivo, tudo. Opinião é o que não falta!
2 – Que diagnóstico você faz do Brasil?
Numa civilização ainda não inteiramente voltada para as promessas do futuro, parcialmente entregue ao anacronismo sócio-político-econômico do passado colonial e neocolonial, tentada a embarcar num arcaico populismo sedutor sob as bênçãos de uma democracia vacilante, o Brasil teima em contrariar nossas expectativas de um novo salto civilizacional. (Recomendo a audição da canção “Outros viram”, de minha autoria com Jorge Mautner).
Esboça-se, pela primeira vez em nossa história, o temor de que a redenção brasileira esteja lidando não apenas com mais um adiamento, mas com o fantasma de uma terrível impossibilidade. Estamos com medo do futuro. Isso é inédito.
3 – Qual sua visão histórica a respeito de nossa trajetória? Houve ditadura? Há chance de haver ditadura?
Desde acontecimentos como a Empresa Brasil, resultante das articulações das Companhia das Índias Ocidentais/Orientais/Holandesas com as elites europeias no século XVI, inaugurando, aqui, com a indústria da cana-de-açúcar, o que se pode considerar como o primeiro grande momento da globalização industrial (via escravidão), como acentua Luiz Gonzaga de Souza Lima em seu livro “A Refundação do Brasil”; passando por vários ciclos posteriores de tentativas de inserção do país nas modernidades várias propostas por Europa e depois EE.UU – incluídos, aí, para além das novas configurações da economia nos trópicos, os arranjos institucionais de governos do Brasil, no Império, na Velha República, no Estado Novo, na República Constitucionalista pós-II Guerra Mundial.
Chegamos à Ditadura de 1964, um arranjo institucional ensejado pela Guerra Fria, EE.UU/URSS, como tentativa, segundo os relatos históricos mais corriqueiros, de impedir, aqui, a implantação de uma República Sindicalista de feição soviética.
A Constituição de 1988 inaugura um novo ciclo republicano, num arranjo institucional que se denominou de Nova República. É o que temos agora, veremos até quando.
As chances de voltarmos a ter uma ditadura parecem estar sujeitas, a meu ver, mais a uma mudança de tendência internacional que propriamente ao surgimento de um novo surto do fenômeno no Brasil. Se as investidas autoritárias, impulsionadas pelo ativismo conspiratório de novos grupos de ultradireita (ou de velha esquerda) na Europa e algures, apoiados por partidos neoconservadores, governantes populistas e ideólogos passadistas, aqui e ali, como Steve Bannon e Olavo de Carvalho; se essas investidas se consolidam como uma tendência irreversível no mundo, aí sim, as chances de uma nova ditadura, por aqui, podem crescer perigosamente. Até então, a propensão libertária da maioria do povo, as miragens futuristas dos negócios e dos costumes, o aprendizado histórico das Forças Armadas, o imperativo tecnológico desbravador, o imperativo ambiental mitigador, conspiram a favor de mais e melhor democracia, assim esperamos.
4 – O que é ser negro no Brasil?
O padrão civilizatório dominante tem sido o padrão eurocêntrico: o homem branco da Antiga Grécia, da Roma Imperial, das várias Europas, medievais, renascentistas e modernas se impondo ao mundo colonizado, submetendo os povos originários de todo o planeta ao seu modelo técnico, político, cultural e religioso. À exceção da China, da Índia e do Oriente Médio, que garantiram, em tempos passados, um certo protagonismo civilizatório aos seus povos, com reflexos no mundo, quem ditou as regras do desenvolvimento do planeta foram os brancos da Europa.
Com a emergência das Américas e da ainda hoje subestimada África, o panorama tende a mudar. Os povos originários e os negros afro-americanos do Norte, do Centro e do Sul do Hemisfério Oeste do planeta passaram a ter um papel relevante na formação das novas civilizações. Malgrado o quase extermínio indígena e a escravidão negra, o cenário vai mudando para os povos novos (na expressão de Darcy Ribeiro). Essa gente vai empurrando o mundo para uma evolução social. É isso que acho que é ser negro no Brasil. Como prega Jorge Mautner: “Jesus de Nazaré e os Tambores do Candomblé”.
E vai se forjando um homem “geneticamente modificado”. Novas sementes transgênicas para lavouras humanas futuras.
É isso que é ser negro no Brasil: fazer parte desse experimento de humanidade nova, uma vez exorcizados, em definitivo, o flagelo, o martírio e a desumanização a que ainda é submetido.
5 – O que é ser evangélico no Brasil?
A Reforma, o ramo do cristianismo surgido do cisma luterano, tem nos EE.UU a sua expressão mais viva: o pragmatismo existencial, o valor econômico da vida produtiva como bem maior, a formação de comunidades colaborativas e solidárias em torno do amor a Cristo, um senso mais abertamente prático do aqui agora. Elementos que ajudaram a forjar uma nação de espírito racionalista, uma nação de envergadura técnica, atlética e artística de alto valor.
O protestantismo chega ao Brasil com esse mesmo ideário, em especial hoje em dia, em suas novas versões pentecostais. Mas com um problema novo, que não enfrentou nos EE.UU.
Aqui, diferentemente dos EE.UU, o protestantismo se encontra num cenário de renhida competição com o cristianismo católico, que chegou primeiro e de longa data associado ao poder econômico e político, detentor de uma relação privilegiada com as vertentes religiosas do animismo afro-ameríndio e do kardecismo.
As lideranças evangélicas brasileiras se veem tentadas a concentrar energias na luta por espaços na política e na economia. Estabelecem estratégias cada vez mais voltadas para a conquista de amplos segmentos populares para a sustentação de uma ambição hegemônica.
O potencial de conflito com as demais confissões religiosas abraçadas por vastos setores da população ganha, assim, proporções significativas. Opta-se por um proselitismo belicoso que ameaça a convivência civilizada entre as várias confissões.
Esse é um aspecto, talvez o mais relevante, da situação atual dos evangélicos no Brasil.
6 – O que é ser artista no Brasil?
É como ser artista em qualquer lugar: optar por uma leitura transversal de todas as realidades ao redor. A arte é o deslocamento permanente do concreto para o abstrato e ao revés. Fusões, transfusões, confusões em precipitações permanentes de gestos, palavras, cores, sons e tudo mais que faça compreender a forma. Performar.
Aqui, no Brasil, as artes se beneficiam da amplidão do país. Vários povos, vários climas, vários modos de expressar beleza, crueza, dureza, vida, morte, o transgredir e o transcender. Aqui, ser artista é projetar o que queremos ser.
7 – O que Bolsonaro te inspira?
Tudo que me coloca diante da incompreensão me inspira a oração. Quando eu não sei o que as coisas são, eu oro, medito, peço para que elas se revelem com clareza e adequação.
Já antes da sua eleição a presidente, eu rezava todo dia para que ele se fizesse suficientemente compreensível para mim e para que eu pudesse também me tornar suficientemente compreensível para ele. Para que nós nos compatibilizássemos em nossas diferenças ( “Amai o próximo como a ti mesmo”).
Hoje, ele continua inspirando minhas orações no mesmo sentido.
8 – O que Sergio Moro te inspira?
O Moro, desde sempre, me inspirou a contemplação do mistério. Mais do que alguém diferente de mim, ele me inspirava como alguém que é portador do enigma. Um certo ar permanente de interrogação, um não deixar bem claro aonde quer chegar, o que quer dizer, o que quer provar.
No Moro, mora um mistério!
9 – O que Lula te inspira?
O Lula me inspira compaixão. Sempre foi assim, desde que se tornou porta-voz do homem comum, em busca de uma solidariedade irrecusável, de uma irremediável comunhão com a trágica condição humana, de um entregar-se ao ímpeto de soldado destemido na luta pela quimera da emancipação.
Lula é uma pedra bruta, não lapidável.
10 – Meu pai tem brincado, dizendo que “Deus não é mais brasileiro”…
Acho que Deus continua a ser brasileiro. O que o seu pai talvez tenha esquecido é que o Diabo também é!
CULTURA
11 – Que achou da extinção do Ministério da Cultura?
Como eu já havia me manifestado, não penso que seja fundamental a existência de um Minc. É uma tradição de muitos países da Europa e que, aqui, já se adotara. A Itália e a Inglaterra, por exemplo, têm mais de um: um para cada setor relevante da vida cultural – Patrimônio, Indústrias Criativas, Artes e outros. Já os EE.UU nunca tiveram um Minc.
O essencial são as políticas públicas para o setor, sua adequação, abrangência, eficácia e a correta localização na máquina estatal. Se não estiverem num Minc, essas políticas devem estar em algum lugar do governo à altura da sua importância.
12 – Sobre a reformulação da Lei Rouanet, gostaria que comentasse a respeito. Por estes dias saiu um artigo na Folha dizendo que os projetos culturais devem encarecer e diminuir com esta nova diretriz.
Desde as gestões do Minc no governo Lula, ajustes na Lei de Incentivo à Cultura são propostos. Ajustes necessários para que a lei vá se tornando mais funcional e mais aderente ao seu propósito original, de estimular o crescimento do investimento privado em cultura. A gestão atual resolveu fazer adequações na lei. Os setores culturais vêm se mobilizando para discutir a nova Lei de Incentivo com o governo e as melhores maneiras de implementá-la. O aperfeiçoamento do aperfeiçoamento. Esperamos que o ministro encarregado promova a continuação do debate com os setores implicados.
13 – A classe artística parece assustada com essas mexidas, fala-se de uma suposta perseguição.
Por que se colocar as coisas nesses termos? Não há evidências factuais disso.
A gente sabe que qualquer coisa que venha deste governo pode ter um viés de retaliação, um viés de vingança, um viés de perseguição. No Ministério da Educação, por exemplo, você tem atitudes nitidamente enviesadas.
Mas, no caso da Lei Rouanet, não há evidências disso. Abriram-se exceções razoáveis, como para museus, por exemplo.
Há dois ou três dias, li nota do ministro dizendo em resumo que não ia receber os setores da cultura para discutir a proposta de reforma. Acho que é fundamental, necessário, que o ministro esteja decidido a manter o diálogo com a classe artística, no sentido de aperfeiçoamento da lei.
14 – Gostaria de propor uma reflexão sobre o termo “guerras culturais” e toda uma disputa ideológica em torno da sexualidade.
As guerras culturais se dão natural e permanentemente no seio da sociedade. Setores que querem isso e setores que querem aquilo. Os deslocamentos vão se dando conforme o isso ou o aquilo adquiram hegemonias parciais suficientes para impor um padrão.
Hoje, no Brasil, os setores conservadores, especialmente agora que passam a contar, em muitos casos, com a força política dos evangélicos, adquirem um poder considerável para propor uma agenda que seja abraçada pelo Estado, via Executivo e Legislativo. No caso das questões de gênero, essa disposição torna-se clara.
Entretanto, os setores progressistas encontram um certo contraponto no Judiciário, que frequentemente tem se manifestado solidário com as demandas da franja moderna da sociedade.
15 – O que é ser progressista hoje?
É o que sempre foi ser progressista: um aliado aos que buscam mais justiça social, mais igualdade de participação na distribuição da renda obtida com a produção cada vez mais limpa da riqueza cada vez mais baseada nos parâmetros da melhor ciência e no usufruto do melhor conhecimento tradicional. O progressista é um aliado dos que propugnam e trabalham pela convergência cada vez mais harmoniosa entre as mais diversas visões de mundo.
16 – Como você se define ideologicamente?
Num pequeno fragmento de letra e música em um dos meus velhos discos, minhas filhas Nara, Preta Maria e Maria cantam: “minha ideologia é o nascer de cada dia e minha religião é a luz na escuridão”. Hoje, já mais velho e mais afeito aos embates sangrentos em que se engalfinham as mais variadas facções políticas e religiosas mundo afora, sinto-me cada vez mais afiliado a esse sentimento.
Como ensinava Carvaka, mestre da antiga escola materialista da filosofia indiana, tudo parece condensar-se na dimensão palpável da matéria, e nada deveria ir além do objetivo hedonista: “boa digestão e nenhuma consciência”.
INTERNET
17 – Em sua gestão como ministro, falava-se bastante sobre liberdade digital. Mas outro dia li um tweet do Marcelo Rubens Paiva que achei bastante significativo. Dizia ele, “A internet foi festejada quando fundada como o definitivo acesso e democratização da informação. O que ninguém contava é que haveria também uma democratização da desinformação e da estupidez”. Poderia comentar a respeito?
Pois é. Uma vez mais, a nossa ilusão de que uma coisa é só uma coisa nos confunde. Não. Uma coisa é várias, no mínimo duas.
Informação e desinformação chegaram juntas à Internet, lucidez e estupidez, também. O Tao dá o Um. O Um dá o Dois, que dá o Três, que dá Tudo. A velha sabedoria chinesa!
18 – E aproveitando, fale um pouco sobre a “maldição do Zuckerberg” e sobre fake news.
O Zuckerberg, menino inteligente, formado nas escolas do Ciberespaço Ascensional, fez tudo que foi preparado para fazer: um novo e imenso aparato tecnológico a serviço, ao mesmo tempo, da cibernética regeneradora e do negócio enriquecedor. Ficou com os problemas de ambos; impasses que só podem ser gradativamente superados pelo empirismo essencial que rege todo o mundo do empreender. Tentativa e erro, como em todo experimento novo. Aperfeiçoamento tecnológico permanente e ajuste sociológico constante. O jovem Zuck vem buscando respostas, junto com os governos, a comunidade dos usuários e o setor tecnológico, para ajustar ao melhor padrão a equação liberdade/regulação. Vamos ver no que dá.
Fake News? Atire a primeira pedra aquele que…
FILOSOFIAS
19 – Você passou por uma série de internações. Como está sua saúde hoje em dia?
Submetido a exames, procedimentos cirúrgicos, remédios, orações e rituais propiciatórios, paciência de paciente, resistência e resignação de espírito cordato, chego aos dias de hoje com a saúde em conformidade com a idade.
20 – O que aprendeu com o tempo? Com a velhice?
Quanto mais aprendo, menos sei. Tenho que me comprazer com a alternância natural entre o conforto do silêncio e do sono e o cansaço da vigília e da espera.
A cada dia, uma agonia. A cada noite, um sonho.
21 – O que te dá alegria, hoje em dia?
Tocar violão e não ter alergia.
22 – Quais seus medos?
Me dá medo tudo que, ainda por vir, possa vir a me assustar.
23 – Como tem se cuidado? Como é sua rotina? Medita?
Para o corpo, tudo que é preciso: médico, dentista, oculista, motorista; atenção com escadas, banheiros, calçadas; frutas, carnes, legumes.
Para o espírito, livros, música, cinema, futebol, filhos, netos, amigos.
Para a meditação, a enxurrada da existência em seu fluir, ora manso, ora não tanto.
24 – Ainda usa maconha? Se pudesse falar sobre sua relação com a cannabis, sobre uso recreativo e uso medicinal e se acha que deveria ser legalizada.
Não uso mais. Enquanto usei, foi um grande aliado, especialmente para a exploração dos meandros mais etéreos da música. Bela ferramenta de introspecção. A leve taquicardia que causava tornou-a proibitiva para o meu coração já mais cansado (assim como o vinho para o meu fígado mais usado).
O uso medicinal da maconha está em franco desenvolvimento. Acho que logo será legalizada.
25 – O que tem passado pela sua cabeça?
Passa uma hora que chora, passa um dia de alegria; passa um fragmento imenso de um momento congelado que não passa de um fiapo de tempo preso ao passado, que não passa de um fio de cabelo embaraçado no agora, já enrolado no logo mais sem cabeça.
26 – Quem são seus heróis?
Herói é coisa de conto de fada. Mesmo que para um homem velho as fantasias de infância continuem, numa certa medida, ocupando espaços na alma, a fantasia do herói já não cabe no mundo estrito da realidade. Figuras humanas a admirar, reverenciar e a tomar como exemplo, sim; devem povoar nosso imaginário e estimular nossa busca do bom, do belo e do justo. Heróis, propriamente, não.
27 – Poderia nomear algumas destas figuras humanas?
Um general como Rondon, um cientista como Einstein, um jogador como Garrincha, um músico como João Gilberto, uma escritora como Simone de Beauvoir, uma cantora como Beyoncé, um político como Barack Obama, uma atriz como Fernanda Torres, uma jornalista como Renata Lo Prete, um santo como Yogananda. Quem mais? Valha-me Deus!
28 – Existiria alguma música ou poesia que traduzisse seu estado de espírito atual?
A Gal cantando Caymmi na abertura da novela “Porto dos Milagres”, que eu tenho visto todos esses últimos dias.
Agenda de shows Ok Ok Ok
Maio:
18 – Brumadinho / MG
Festival Meca Inhotim
Junho:
06 – Joao Pessoa / PB
Teatro Pedra do Reino
08 – Recife / PE
Teatro Guararapes
15 – Rio de Janeiro/ RJ
Vivo Rio
22 – São Paulo / SP
Tom Brasil
Julho:
05 – Viena / Austria
Viena State Opera
07 – Londres / UK
Sherpherds Bush
08 – Barcelona / Espanha
Festival Pedralbes
10 – Copenhagen / Dinamarca
DR Koncerthuset – Copenhagen Jazz Festival
12 – Rotterdam / Holanda
North Sea Jazz Festival
14 – Berlin / Alemanha
Haus der Kulturen der Welt
19 – Lisboa / Portugal
Centro Cultural de Belem
22 – Munique / Alemanha
Bayerischer Hof
24 – Antuerpia / Belgica
Openluchttheater
26 – Barcelonnette / França
Festival Les Enfants du Jazz
27 – Vence / França
Festival Les Nuits du Sua
30 – Saint Moritz / Suica
festival de Jazz de Saint Moritz
Agosto:
01 – Verbier / Suiça
Salle dês Combins – Festival de Verbier
03 – Paimpol / França
Festival du chant de marin de Paimpol
05 – Marciac / França
Festival Jazz in Marciac
07 – Karlsruhe / Alemanha
Zeltfestival
11 – Hamburg / Alemanha
Elbphilharmonie
13 – Oslo / Noruega
Concert House – Oslo Jazz Festival