Genro de ministro do TCU é conduzido para depor na Operação Vórtex
O empresário Rodrigo Leicht Carneiro Leão é casado com filha do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) José Múcio
atualizado
Compartilhar notícia
Deflagrada na manhã desta terça-feira (31/1) para investigar mais uma empresa que estaria envolvida na compra do avião que se acidentou com o então candidato a presidente Eduardo Campos (PSB, morto em 2014), a Operação Vórtex levou para depor de forma coercitiva o empresário Rodrigo Leicht Carneiro Leão, genro do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) José Múcio.
Desdobramento da Operação Turbulência, que revelou um esquema de lavagem de dinheiro que teria abastecido o caixa 2 das campanhas de Campos em 2010 e 2014, a Vórtex apura os crimes de corrupção, direcionamento de licitação e lavagem de dinheiro envolvendo uma nova empresa que teria movimentado dinheiro com as companhias utilizadas na compra da aeronave.
Rodrigo Carneiro é um dos sócios da empresa Lidermac Construções, que possui contratos com o governo de Pernambuco e com vários municípios no estado, e casado com a filha do ministro do TCU. Além dele, a operação teve outros três mandados de condução coercitiva para serem cumpridos nesta terça.A PF, contudo, ainda não divulgou o nome da empresa investigada. A investigação ocorre em primeira instância e não há nenhuma acusação contra José Múcio, que possui prerrogativa de foro e só pode ser investigado, eventualmente, por instâncias superiores.
Vórtex
A Operação Vórtex é um desdobramento das investigações que apuram o acidente que matou o ex-governador e candidato à Presidência da República Eduardo Campos, em 2014. Estão sendo cumpridos 10 mandados, sendo seis de busca e apreensão e quatro de condução coercitiva. Todos em Pernambuco.
O alvo é uma terceira empresa envolvida na compra do jatinho em que o socialista estava quando morreu. De acordo com informações da PF, a empresa teria contratos milionários com o governo de Pernambuco e teria feito várias doações ao PSB, partido de Campos.
“Ao investigar mais a fundo a empresa remetente dos recursos, verificou-se que ela possui contratos milionários com o governo do estado e que suas doações a campanhas políticas aumentaram de forma exponencial ao longo dos últimos anos, notadamente para o partido e candidatos apoiados pelo ex-governador do estado, Eduardo Campos”, diz nota divulgada pela PF.
A operação foi batizada de Vórtex, numa referência ao redemoinho que ocorre antes de turbulências.
Este mês, o empresário João Carlos Lyra Pessoa de Melo Filho, conhecido como João Lyra, assinou acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF). Além dele, também optaram pela delação Eduardo Freire Bezerra Leite e Apolo Santana Vieira. Os três empresários pernambucanos foram alvos da operação Turbulência, responsável por investigar o arrendamento da aeronave Cessna Citation PR-AFA, que caiu em Santos e matou Eduardo Campos.
João Lyra teria negociado com os investigadores o detalhamento de todas as transações financeiras realizadas por seu grupo cujos valores são oriundos de superfaturamento de obras públicas e de esquemas envolvendo empreiteiras e o governo de Pernambuco.
Embora a operação Turbulência tenha origem na queda do avião, a PF compartilhou informações com a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba (PR) e com o grupo de investigadores da Procuradoria-Geral da República.
Para chegar aos verdadeiros proprietários do jatinho, a PF mapeou uma teia de empresas de fachada supostamente utilizadas para lavar e escoar dinheiro oriundo de obras públicas para campanhas políticas. Foram investigados repasses da Camargo Corrêa e da OAS que teriam origem em desvios praticados em obras da Petrobras em Pernambuco e na transposição do Rio São Francisco.
Na denúncia oferecida pelo MPF contra 18 pessoas envolvidas no caso, o MPF apontou que os três empresários lideravam o grupo criminoso que lucrava com “a prática de agiotagem”, lavagem de dinheiro proveniente de superfaturamento de obras públicas e pagamento de propina para agentes públicos. Embora essa primeira denúncia tenha sido arquivada, a investigação prossegue em Pernambuco.
À época da deflagração da Turbulência, o Partido Socialista Brasileiro (PSB), do qual Eduardo Campos era presidente, reiterou a sua confiança na “conduta sempre íntegra do ex-governador” e o apoio incondicional ao trabalho de investigação da Polícia Federal e do Ministério Público, esperando que resulte no pleno esclarecimento dos fatos.”
A Camargo Corrêa afirmou que a empresa foi a primeira a colaborar e que segue à disposição da Justiça. A OAS não retornou os contatos da reportagem.