Gasolina usada por deputados na pandemia daria para cruzar o Brasil 1.793 vezes
Os parlamentares gastaram mais de R$ 2,8 milhões com o combustível desde março, quando começou o isolamento social
atualizado
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Apesar de as medidas de isolamento terem sido adotadas desde a segunda quinzena de março em todo o Brasil, inclusive na Câmara dos Deputados, parlamentares da Casa desembolsaram pelo menos R$ 2,8 milhões da verba indenizatória para despesas com combustíveis e lubrificantes.
Levantamento feito pelo (M)Dados, núcleo de jornalismo de dados do Metrópoles, mostra que 476 dos 513 deputados apresentaram notas fiscais emitidas em postos nos últimos 5 meses. Os valores variam de R$ 6 mil a R$ 10 por documento.
Em março, ainda no início da pandemia, o montante referente aos pagamentos ultrapassou R$ 1 milhão. Nos dois meses seguintes, a média foi de R$ 486 mil a cada 30 dias. Em junho, o valor saltou para R$ 531 mil. Julho contabilizou uma queda, somando R$ 306 mil. No entanto, os números devem aumentar, visto que os parlamentares têm até 90 dias para pedir o reembolso, conforme prevê o Regimento Interno da Câmara dos Deputados.
O deputado Nereu Crispim (PSL-RS) foi quem mais gastou. Desde março, ele comprou R$ 27,4 mil em combustível. Para fechar o pódio, Roman (Patriota-PR) e Claudio Cajado (PP-BA), que desembolsaram R$ 25,5 mil e R$ 24,1 mil, respectivamente.
Veja gráfico:
Até a publicação desta matéria, a reportagem não conseguiu contato com os parlamentares. O espaço segue aberto.
Voltas pelo Brasil
As despesas, apesar de bem menores em comparação com o mesmo período de 2019 — que chegou a mais de R$ 7 milhões –, equivalem a atravessar o Brasil 1.793 vezes, de um extremo ao outro (4.394 km).
Para a analogia, o Metrópoles se baseou no consumo de 11 km/l de combustível de um Gol 1.6 manual, um dos carros mais populares do Brasil, e o preço médio da gasolina dos últimos 3 meses, que chegou a R$ 3,98.
Verba indenizatória
A Câmara dos Deputados destina para cada integrante do Parlamento quase R$ 31 mil mensais, que podem ser usados em despesas com passagens aéreas, telefonia, manutenção de escritórios parlamentares, alimentação, hospedagem, locação de veículos, combustíveis, segurança, trabalhos de consultorias e ainda divulgação da atividade parlamentar.
A verba também é cumulativa. Isso, na prática, permite que valores não usados na totalidade em algum período possam ser reaproveitados em meses seguintes.
Até agora, os 513 deputados federais em exercício do mandato gastaram R$ 70.433.249,87 com a verba indenizatória. Segundo o site do Poder Legislativo, a maior parte desse montante foi destinado a custear a publicidade dos mandatos parlamentares, com mais de 32,8% do total.