Em almoço, Galípolo e Haddad falam de tensão com Campos Neto no BC
Documento do Banco Central (BC) visava condicionar entrevistas à aprovação prévia do presidente, Campos Neto. BC nega cerceamento
atualizado
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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, recebeu nesta quarta-feira (19/7), na sede da pasta, o novo diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo. Os dois já haviam se encontrado na noite de terça (18/7), também na sede da pasta.
Oficialmente, o BC informou que as duas agendas se destinaram a “tratar de assuntos governamentais”. Segundo informações de bastidores, porém, o tema do almoço desta quarta foi a mais recente tensão dentro do órgão, depois da circulação interna de um documento que condicionava a concessão de entrevistas à aprovação prévia do presidente da instituição, Roberto Campos Neto. O BC é composto por oito diretores, mais o presidente.
Recém-nomeado na diretoria, Gabriel Galípolo ainda não concedeu entrevistas, ocasiões em que poderia expor as divergências que possui com Campos Neto.
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Em fala à imprensa horas após o compromisso, Haddad salientou que a presença de Galípolo no Banco Central vai gerar “uma interação maior” entre as equipes da Fazenda e do BC.
“O objetivo de o Galípolo estar no Banco Central é aproximar as equipes, a gente ter uma interação maior, trocar informações”, disse Haddad.
O titular da pasta disse ainda que “nem sempre as informações batem”. “A gente tem uma avaliação de que a desaceleração está forte demais e que isso inspira cautela. Então, trocar informações. O Galípolo vai ser uma ponte muito importante”, completou o ministro.
Também participaram da reunião-almoço o sucessor de Galípolo na Secretaria-Executiva, Dario Durigan, e o chefe de gabinete de Haddad, Laio Morais.
Limitação de entrevistas
O documento do BC sugeria que “assuntos afetos à comunicação com os órgãos de imprensa fiquem subordinados diretamente ao presidente do BC”.
A tentativa de limitar as manifestações dos demais dirigentes foi noticiada pela colunista Monica Bergamo, do jornal Folha de S.Paulo, e confirmada pelo Metrópoles.
Em nota emitida na noite desta quarta, o Banco Central diz que “não existe e jamais existirá censura ou cerceamento de qualquer espécie à livre manifestação dos dirigentes do BC”. “Pelo contrário, os dirigentes do BC têm sido incentivados a se manifestar mais em público, o que pode se notar pela maior frequência de entrevistas e de outras manifestações públicas, incluindo a recém-lançada live semanal do BC no YouTube.”
“Todo dirigente do BC tem pleno direito de expressar livremente suas opiniões nos canais que considerar adequados, sem necessidade de quaisquer autorização ou aprovação prévias”, prossegue o comunicado.
Na Fazenda, a alegação é de que os demais dirigentes não teriam a mesma liberdade de conceder entrevistas que Campos Neto. Há um entendimento de que a autonomia da autoridade monetária não pode se aplicar apenas ao presidente dela.
Indicado por Jair Bolsonaro (PL), Campos Neto tem mandato até dezembro de 2024. Após a aprovação da lei de autonomia do Banco Central, Campos Neto é o primeiro presidente da instituição não indicado pelo presidente da República de turno.
Ele tem sido alvo de críticas de Lula (PT) e de outras autoridades pela manutenção do elevado patamar dos juros, decisão que cabe ao órgão.
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Galípolo foi indicado à vaga no BC pelo presidente Lula e teve seu nome aprovado pelo Senado no início de julho.
Ele assumiu o posto com a tarefa de fortalecer a aproximação entre o governo e a autoridade monetária, em um momento em que o governo pressiona por um corte da taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 13,75% ao ano. Esse corte já é esperado pelo mercado na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em 1º e 2 de agosto.
Galípolo foi secretário-executivo de Haddad entre janeiro e junho de 2023. Ele já é cotado para suceder Campos Neto no comando do BC.
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