G20: na Presidência, Brasil quer agenda social em debates de finanças
G20 realiza as primeiras reuniões sob comando brasileiro esta semana no Palácio Itamaraty, em Brasília. Agenda verde também será pautada
atualizado
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O Grupo dos Vinte, ou G20, terá a agenda social intensificada durante a presidência temporária do Brasil, com duração até novembro de 2024. Além dos eixos de combate à fome e desigualdade, o governo brasileiro deseja incluir maior participação da sociedade civil nos debates financeiros e de outras áreas de atuação.
O embaixador Maurício Lyrio, secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty, apontou que as reuniões do primeiro dia tiveram bons resultados, especialmente para a instalação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, objeto de força-tarefa do Brasil na presidência do colegiado.
“Nesses temas, é difícil haver discordância”, apostou Lyrio, que assumiu também o posto de sherpa brasileiro, ou seja, é um emissário responsável por representar o país em reuniões e supervisionar negociações. “É consenso entre os países que o combate à fome, à pobreza e à desigualdade é uma questão urgente, que precisa de esforços globais”, enfatizou o diplomata.
Existem duas “trilhas” de reuniões do grupo, a dos sherpas e a de finanças. Lyrio reforçou a necessidade de articular os temas entre as duas.
Após mais uma rodada de trativas frustradas para fechar o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, o embaixador ressaltou a liderança do Brasil no G20 em busca de “ações com resultado concreto na vida das pessoas”.
Uma dessas medidas será engajar debates com a sociedade civil, com 11 grupos temáticos já criados para isso. “Pensando na cúpula de novembro [de 2024, quando se encerra a Presidência do Brasil], a previsão é do que chamamos de G20 Social, a reunião dos grupos de engajamento”.
Segundo o embaixador, esse tema “também foi muito bem aceito, teve apoio substantivo às propostas apresentadas” nas reuniões inicias no Palácio do Itamaraty, em Brasília.
Agenda verde e desenvolvimento
Segundo o embaixador brasileiro, houve entendimento do aspecto financeiro dentro da questão climática. “Não é uma discussão trivial, como vimos na COP [Conferência das Nações Unidas para Mudança do Clima]. Mas estamos de acordo que é um tema a ser enfrentado”, falou Lyrio.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já reforçou a pauta ambiental como relevante ao trabalho brasileiro no G20. “O Brasil sediará, em 2025, a COP 30, a primeira na Amazônia. E queremos trabalhar no G20 para chegar lá com uma agenda climática ambiciosa, que assegure a sustentabilidade do planeta e a dignidade das pessoas, no nosso país e no mundo”, falou o petista em novembro, uma semana antes de assumir a liderança do G20, no encontro virtual do grupo.
Além da Aliança contra a Fome, o Brasil deseja implementar a Mobilização Global contra a Mudança do Clima, outra força-tarefa no G20.
Lyrio ainda disse que os representantes das demais nações “concordam que é urgente tratar da reforma da governança global, das instituições mundiais”, outro assunto já pautado por Lula. A reforma seria para trazer maior igualdade entre nações de países ricos e pobres.
Repensar a governança envolveria reformas em organismos multilaterais, como a Organização das Nações Unidas (ONU). O ministro Fernando Haddad, da Fazenda, propôs, na reunião virtual do G20, uma “reglobalização sustentável do ponto de vista social e do ponto de vista ambiental”, com foco em igualdade e sustentabilidade.
No entanto, o embaixador brasileiro apontou obstáculos em ambos os tópicos. “Na questão da mobilização contra a mudança do clima, há uma discussão difícil entre países que já foram pesadamente emissores e agora são países desenvolvidos, na questão de recursos”, afirmou. “A reforma da governança global também é outro tema que envolve interesses e poderes, então também é uma questão delicada”, completou.
Reunião com Lula e autoridades
Na segunda e terça-feira (12/12), ocorrem no Itamaraty as reuniões dos sherpas. Na quarta-feira (13/12), o Palácio receberá o presidente Lula e autoridades ligadas à economia, como os representantes do Ministério da Fazenda, para falar com os sherpas. Quinta-feira (14/12) e sexta-feira (15/12) serão dias dedicados exclusivamente às finanças.
Em encontros com ênfase na economia, os debates serão em torno de financiamento sustentável, economia global, investimentos em infraestrutura, reforma da governança e tributação internacional.
G20
O G20 é um dos principais grupos de cooperação econômica internacional, formado pela União Europeia e outras 19 nações, tidas como desenvolvidas e do novo Sul Global, antigamente chamado de países em desenvolvimento.
São membros: África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia.
Os países do G20 geram quase 80% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial e 70% da população global, concentrando cerca de 75% do comércio internacional.