Furtos de tubulação de gás preocupam moradores em prédios do Rio
Série de furtos de tubulação de gás causa vazamentos e preocupa moradores de prédios atingidos por invasões na cidade do Rio
atualizado
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Rio de Janeiro – Furtos de tubulação de gás se tornaram uma fonte de preocupação para moradores de bairros do Rio de Janeiro, onde este tipo de ocorrência tem se repetido com mais frequência.
Em São Cristóvão, na zona norte carioca, um mesmo prédio registrou dois episódios em menos de dez dias.
Moradora do edifício, a estudante Manuela Martins (na foto, em destaque), de 26 anos, menciona o temor compartilhado por seus vizinhos diante dos furtos que causaram vazamentos de gás.
“Começamos a ouvir várias pessoas reclamando e quando fomos ver, uma das tubulações estava quebrada e com um pedaço faltando. Dava para ver o gás vazando, era muito gás”, relata Manuela ao Metrópoles.
Ela diz que o prédio foi alvo de invasões por quatro vezes, sendo que em duas delas houve o furto de tubulação.
O primeiro ocorreu em 3 de março, quando moradores do condomínio sentiram um forte cheiro de gás logo pela manhã.
O segundo dano causado foi constatado no último dia 12. Neste caso, moradores presenciaram parte da ação dos criminosos. “Nesse dia, minha tia e minha prima viram o homem quebrando a tubulação. Ele tentou levar um tubo de 5 ou 6 metros, mas, como começaram a gritar, fugiu com menos de um metro”, diz Manuela.
Fernanda Moreira, prima de Manuela, fala sobre o temor associado a novos furtos: “Não consigo mais dormir, com medo deles voltarem a mexer na tubulação. Penso que pode explodir o prédio”, afirma.
Furto de tubulação
Para Gerardo Portela, especialista em Gestão de Riscos pela UFRJ, situações como essa não eram frequentes pelo medo que as pessoas tinham em lidar com o gás.
“Entendo que o momento que vivemos, com a inflação, levou as pessoas a se arriscarem mais. O cobre, que existe em grande quantidade a depender do tipo de tubulação utilizada, é muito visado. As pessoas vão em busca de metais para fazer dinheiro, seja em estátuas, cabos elétricos ou em tubulações”, explica Portela ao Metrópoles.
A Naturgy, empresa responsável pelo gás encanado no Rio, afirmou ao Metrópoles que roubos de tubulação eram raros e que casos recentes são classificados pela empresa como uma novidade. No entanto, até a publicação desta reportagem, a Naturgy não informou quantos furtos de tubulação foram registrados na cidade do Rio nos últimos meses.
Valor do cobre
Segundo o economista Marcelo Neri, temos uma estagnação econômica paralela a uma alta taxa de inflação no país, além de um alto número de desempregados, o que poderia explicar o aumento de furtos como estes.
Conforme é explicado pelo também economista André Bras, o valor do cobre subiu menos que a inflação nos últimos 12 meses – 6,08%. Apesar dessa ressalva, ele acrescenta que isso não desestimula o roubo do metal, um dos mais cobiçados neste tipo de crime.
Segundo o economista, o cobre vendido como sucata em ferro velho custa entre R$ 13 e R$ 20 reais por quilo.
“Vale lembrar que o roubo acaba encarecendo todos os tributos que a gente paga porque se há aumento de roubo de tubulação, aquela tarifa de gás que a gente paga aumenta também. Esse valor vem para o consumidor que paga pelo serviço”, pontua Bras.
De acordo com o Instituto de Segurança Pública (ISP), houve um aumento de 78,5% em casos de furtos na localidade que compreende bairros da zona norte e central, como: Catumbi, Cidade Nova, Estácio, Rio Comprido, Centro, Caju, Mangueira, São Cristóvão e Vasco da Gama. A comparação foi feita entre o mês de março para os anos de 2021 e 2022.
Riscos do vazamento
Gerardo Portela explica que existem locais que preocupam mais em situações de vazamento, como garagens ou locais fechados, e que inspiram maior cuidado.
“Nessas áreas fechadas, a onda de choque não tem para onde fugir. Então, ela pode provocar uma explosão e causar danos à estrutura do edifício”, alerta.
De acordo com o especialista, se houver suspeita de vazamento de gás, o morador deve chamar um profissional especializado para controlar a situação o quanto antes.
“Acho importante também que revejam a planta do prédio, os desenhos das tubulações e os acessos a esses locais. Muitas das vezes, em prédios antigos não se sabe ao certo onde passam esses tubos. É necessário que essa área seja protegida”, acrescenta Portela.