Funcionária de Itaipu demitida na ditadura é reintegrada após 46 anos
Sonia Lúcia Castanheira foi desligada da Itaipu em 1977 “sob suspeita de atividades subversivas” na empresa
atualizado
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A ex-funcionária da Itaipu Sonia Lúcia Castanheira, de 78 anos, foi reintegrada ao quadro de funcionários da usina hidrelétrica como secretária bilíngue e tradutora nesta segunda-feira (10/7) após 46 anos da sua demissão durante o período da ditadura militar. Sonia foi desligada em 1977 “sob suspeita de atividades subversivas”, por ordens do governo da época.
Além de sua reintegração, Sonia também receberá uma indenização de Itaipu e terá direito aos benefícios oferecidos pela empresa, como assistência médica e odontológica.
“Fui demitida sem saber se havia cometido algum erro, se era pelo meu desempenho. Somente em 2009, com a abertura dos arquivos da ditadura militar, descobri que a causa era política”, afirmou Sonia Castanheira.
Sonia teve acesso à causa de sua demissão após a abertura dos arquivos da ditadura militar pela Lei da Anistia, em 2009. Um comunicado datado de 20 de maio de 1977 endereçado ao general João Figueiredo, na época ministro-chefe do Serviço Nacional de Informação (SNI), informa sobre a demissão de Sonia Castanheira.
“Minha maior alegria é estar viva neste momento, em que a injustiça cometida contra mim e a minha família é reconhecida”, disse a funcionária da Itaipu. “Não guardo rancor da Itaipu, eu amava a empresa e não entendia se eu tinha falhado ou o que poderia ter feito de errado”, relatou.
O diretor-geral brasileiro da Itaipu, Enio Verri, entregou o crachá à funcionária reintegrada. “É um gesto de respeito à profissional, ao próprio Estado democrático de direito, à Constituição brasileira e àqueles que sempre lutaram por um país mais justo e igualitário”, destacou.
Perseguição política
Ao falar sobre a perseguição política durante a ditadura militar, Sonia afirma que era contra o regime, mas nunca participou de nenhuma manifestação ou atividade contrária ao governo da época.
“Fui em busca de uma explicação, e achei uma carta sobre meu desligamento. Meu marido trabalhava na Unicon [prestadora de serviços da Itaipu] e foi demitido antes de mim, em 1976”, relembra. “Uma mulher nos acusou de estarmos envolvidos em atividades contrárias à repressão. Nós nunca fizemos nada”, conta Sonia.
Para a funcionária de Itaipu, um dos motivos para a sua perseguição política tenha sido o fato dela ter morado em 1965 no Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo (USP), conhecido como Crusp. Na época, o movimento estudantil da unidade de ensino promoveu uma greve no alojamento.