Fraude em cartão de vacina: Cremego diz que condutas médicas tramitam em sigilo
Em nota, órgão informou que ainda não foi notificado sobre qualquer ação da PF envolvendo o médico que teria fraudado cartão de vacina
atualizado
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Goiânia – O Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego) informou que, até o momento, não foi notificado sobre qualquer ação da Polícia Federal envolvendo investigações contra o médico Farley Vinícius Alcântara. O oftalmologista é apontado como responsável por fornecer um documento assinado e carimbado por ele atestando que a mulher do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro Mauro Cid, Gabriela Santiago Ribeiro Cid, se imunizou contra a Covid-19 no município.
Nesta quarta-feira (3/5), a PF deflagrou a Operação Venire. Segundo a corporação, foram falsificados dados de vacina contra a Covid do ex-presidente Jair Bolsonaro; de sua filha mais nova, Laura Bolsonaro; de Mauro Cid, um dos auxiliares de Bolsonaro presos; da esposa de Cid; e da filha de Cid. No total, seis pessoas foram presas e outros 16 mandados foram cumpridos.
Ao Metrópoles a entidade de classe informou que “todas as denúncias relacionadas à conduta ética de médicos recebidas pelo Cremego ou das quais tomamos conhecimento são apuradas e tramitam em total sigilo, conforme determina o Código de Processo Ético-Profissional Médico”.
Atendimento em Goiás
O médico Farley Vinícius Alencar de Alcântara, alvo da mesma operação da Polícia Federal que Jair Bolsonaro, copiou os dados de vacinação de uma enfermeira não identificada de Cabeceiras, interior de Goiás, para falsificar um cartão de imunização para a esposa de Mauro Cid, Gabriela Santiago Cid.
No entanto, os dados não foram aceitos no sistema de saúde do Rio de Janeiro, onde a mulher teoricamente haveria tomado a vacina. Assim, Luis Marcos dos Reis, então um dos integrantes da Ajudância de Ordens da Presidência da República, pediu ao sobrinho, o médico Farley, que enviasse um cartão em branco para que fosse preenchido com dados do estado.
“Amanhã vejo se desenrolo isso. Cartão em branco, né, que ele quer?”, disse Farley em mensagem ao seu tio. “Sim, aí a gente coloca o lote do Rio!”, respondeu Luis Marcos.
De acordo com as mensagens identificadas, o crime não se consumou, pois os lotes das vacinas contra Covid-19, utilizados para inserir no sistema do Ministério da Saúde, não foram distribuídos para o Rio de Janeiro. O crime identificado foi o de peculato eletrônico.
Farley, que chegou a trabalhar em Cabeceiras, é servidor da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. Como mostra o portal da transparência do governo, o médico alvo da PF está “desligado” de suas funções, mas consta como servidor em “situação ativa”. Alcântara, contudo, trabalha no Rio de Janeiro como médico em uma clínica particular de olhos, em São Gonçalo, cidade na região metropolitana do estado.
Sem vacina
Em entrevista ao jornal O Globo, o prefeito de Cabeceiras, Everton Francisco de Matos (PDT), conhecido como Tuta, afirmou que nenhum membro da família de Bolsonaro ou qualquer assessor se vacinou no município. Apoiador do ex-presidente, ele lamentou a situação.
“Não tem registro nenhum aqui. Já consultamos nossos relatórios. O município está isento disso, agora vamos apurar a responsabilidade do médico. Vamos abrir um processo administrativo. Nossa equipe jurídica já está cuidando disso, pois a atitude desse profissional acaba prejudicando todos da área da saúde”, disse o prefeito ao jornal.
O sargento Luiz Marcos dos Reis, que era subordinado ao tenente-coronel Mauro Cid no Palácio do Planalto, teria acionado Farley, que é sobrinho dele e fazia atendimentos em Cabeceiras, cidade com menos de 8 mil habitantes no interior de Goiás, para realizar a fraude.