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Fome: 1,5 mi de casas são chefiadas por pessoas sem ensino fundamental

Por outro lado, apenas 92.916 casas em situação de fome são chefiadas por pessoas com ensino superior completo, segundo a Pnad Contínua 2023

atualizado

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1 de 1 Imagem ilustrativa de geladeira vazia durante a pandemia de coronavírus no Brasil - Metrópoles - Foto: Felipe Nyland/picture alliance via Getty Images

Dos 3,2 milhões de domicílios em situação de insegurança alimentar grave no Brasil, quase metade (46% — que corresponde a 1,5 milhão) é chefiada por pessoas com ensino fundamental incompleto.

Esses dados constam na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua): Segurança Alimentar 2023, publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O estudo retrata a condição de segurança alimentar nos domicílios do país, usando a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia).

Em 1.473.840 de casas em situação de fome, o responsável pelo domicílio não conseguiu completar o ensino fundamental. Ainda nesse recorte por nível de escolaridade, 679.248 residências (21,2%) são chefiadas por pessoas formadas no ensino médio.

A parcela de domicílios com insegurança alimentar grave lideradas por pessoas sem instrução e com ensino fundamental incompleto ou completo é de 67,4% (2.159.496 casas).

Apenas 92.916 domicílios (2,9%) com insegurança alimentar grave têm responsáveis pela renda da família com ensino superior completo. Na sequência, há 67.284 residências (2,1%) chefiadas por pessoas com ensino superior incompleto.

Dos 3,2 milhões domicílios em situação de fome:

  • 403.704 domicílios (12,6%) são chefiados por pessoas sem instrução;
  • 1.473.840 domicílios (46%) são chefiados por pessoas com ensino fundamental incompleto ou equivalente;
  • 281.952 domicílios (8,8%) são chefiados por pessoas com ensino fundamental completo ou equivalente;
  • 205.056 domicílios (6,4%) são chefiados por pessoas com ensino médio incompleto ou equivalente;
  • 679.248 domicílios (21,2%) são chefiados por pessoas com ensino médio completo ou equivalente;
  • 67.284 domicílios (2,1%) são chefiados por pessoas com ensino superior incompleto ou equivalente; e
  • 92.916 domicílios (2,9%) são chefiados por pessoas com ensino superior completo.

Com isso, a Pnad Contínua mostra que domicílios com responsáveis com baixa escolaridade tendem a ter maior participação na insegurança alimentar. Mas por que isso acontece? O Metrópoles conversou com especialistas para entender os impactos.

Nathalie Beghin, do colegiado de gestão do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), afirma que a baixa escolaridade é “uma das múltiplas causas da fome, pois revela um amplo espectro de outras carências”. “A fome e a miséria são a expressão de falta de Estado, o que resulta na violação de direitos de parte da população, especialmente a empobrecida”, afirma.

“Sem emprego, sem renda ou com pouca renda, não conseguem se alimentar. Ou seja, o analfabetismo ou a baixa escolaridade estão acompanhados de outras carências, uma não vem sem a outra”, explica.

Ela destaca que a situação é “mais grave” entre os grupos populacionais considerados excluídos, como mulheres e pessoas negras. “A combinação do racismo e do patriarcado com a pobreza produz uma fome com cor e sexo.”

Políticas públicas

Para Beghin, a única forma de superar esse quadro no Brasil é com a aplicação de “políticas públicas de qualidade” nos setores de educação, saúde, assistência social, habitação social, saneamento básico, segurança alimentar e nutricional, entre outras.

Lorena Gonçalves Chaves Medeiros, professora do curso de nutrição do Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos (Uniceplac), diz que que o nível de escolaridade gera impactos no grau de segurança alimentar, devido à renda, à concorrência dentro do orçamento familiar com outras contas da casa e à falta de conhecimento sobre alimentação saudável.

Segundo a professora, o nível de instrução também é “crucial” para manter uma rotina de cuidado com a própria saúde: “Ter conhecimento sobre hábitos alimentares mais saudáveis proporciona maior autonomia para fazer escolhas alimentares conscientes”.

“Assim, um maior nível de educação não apenas está ligado à renda, mas também influencia diretamente a capacidade das pessoas de fazerem escolhas alimentares que promovam uma vida mais saudável”, afirma.

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