“Foi uma chuva de verão”, diz Bolsonaro sobre briga com Maia
O presidente da República e o vice-presidente, Hamilton Mourão, receberam das Forças Armadas a comenda Grã-Cruz
atualizado
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Em evento na manhã desta quinta-feira (28/3), o presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmou que o desentendimento com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), foi uma “chuva de verão”, mas agora “o céu está lindo”. Para ele, a crise entre os poderes Executivo e Legislativo é “página virada”.
“Tive um excelente diálogo com o Davi Alcolumbre (DEM-AP), agora, estou à disposição do Rodrigo Maia, como eu disse, o Brasil está acima de nós”, afirmou, antes de deixar o local. Bolsonaro confirmou, ainda, que não há mais qualquer problema e finalizou: “Vamos em frente”.
O presidente da República e o vice-presidente, Hamilton Mourão (PRTB), receberam das Forças Armadas, nesta quinta-feira (28), a medalha de maior reconhecimento ao mérito Judiciário Militar (OMJM), a comenda Grã-Cruz. Rodrigo Maia também seria homenageado no evento, mas não compareceu, o que deixou um espaço entre o presidente do Senado e Bolsonaro.
De acordo com a assessoria do Supremo Tribunal Militar, o presidente da Câmara foi convidado por três vezes consecutivas, mas não confirmou presença. Maia disse, ao justificar a ausência, que o cerimonial esqueceu de colocar o evento na agenda.
Segundo Bolsonaro, o ministro da Justiça, Sergio Moro, se encontrou com Maia para uma conversa “saudável e amigável” e ambos já resolveram as recentes discussões. “É assim a nossa vida, de vez em quando há alguns percalços, mas não podemos esquecer o que nós representamos”, completou.
Mais farpas
Essa quarta-feira (27) foi um dia em que mais combustível foi jogado na fogueira onde ardem as relações entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional. A tensão entre Legislativo e Executivo aumentou com as declarações de Maia e do presidente.
“Bolsonaro está brincando de presidir o país”, disse o parlamentar. “É muita irresponsabilidade”, reagiu o chefe do Executivo. Mais tarde, Maia ainda completou: “Faço um apelo ao presidente de que pare, chega”. Em jogo, nada mais nada menos do que a reforma da Previdência.
O governo acordou ainda atordoado com a rasteira que levou dos deputados na noite de terça (26): o plenário da Câmara aprovou a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) de 2015 que torna todo o Orçamento da União impositivo. Isso significa que a União teve a capacidade de gastos limitada pelos deputados federais e terá de executar obrigatoriamente as despesas aprovadas pelo Legislativo.
A medida aumenta a força do Congresso frente ao governo federal, foi aprovada em dois turnos na noite de terça, e diminui o poder de barganha do Planalto, que tradicionalmente utiliza as emendas como moeda de troca no toma lá dá cá político.
O dia seguinte ao by pass da Câmara até que começou calmo. Nove dos 22 ministros de Bolsonaro foram convidados pelo Parlamento a expor seus projetos e metas – e mesmo os problemas de cada pasta – a deputados e senadores nessa quarta. Esperava-se que uma demonstração de respeito mútuo entre ambas as Casas jogaria um pouco de água na fervura. Mas, com o passar das horas, a animosidade foi tomando corpo.
Ao Congresso, foram os ministros Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública); Onyx Lorenzoni (Casa Civil); Paulo Guedes (Economia); Ricardo Vélez Rodriguez (Educação); Luiz Henrique Mandetta (Saúde), Ricardo Salles (Meio Ambiente); Bento Albuquerque (Minas e Energia), Damares Alves (Mulher, da Família e dos Direitos Humanos); e Ernesto Araújo (Relações Exteriores).
No Senado, depois de se recusar a ir à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara na terça (26), por considerar que levaria “tiro nas costas” até do partido de Bolsonaro, o PSL, o ministro da Economia, Paulo Guedes, foi falar sobre a reforma da Previdência.
Em uma sinalização de que pode abandonar o governo, caso sua agenda de prioridades não seja aprovada pelo presidente e pelos parlamentares, Guedes afirmou que “não vai brigar para ficar no cargo”. E os ânimos se exaltaram de fato quando ele criticou a aposentadoria dos senadores e iniciou um bate-boca com a senadora Kátia Abreu (PDT-TO).
Veja vídeo da irritação de Guedes, como ele disse, na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado:
Espetáculo de horror
Na Câmara, o ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, participou de audiência pública onde respondeu a críticas sobre a administração, apresentou propostas para o setor e falou sobre as recentes demissões na pasta, como a do presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Marcus Vinicius Rodrigues. Segundo o ministro, a exoneração ocorreu por que Rodrigues lhe “puxou o tapete”.
Mas o ministro não convenceu os deputados com seus argumentos. Marcelo Calero (Cidadania-RJ) reclamou das sucessivas crises que a pasta tem enfrentado nos três meses de gestão.
“O que assistimos hoje foi a um espetáculo de horror na Comissão de Educação. Um ministro totalmente despreparado, que não sabia responder objetivamente a nenhuma das perguntas que lhe foram dirigidas, falando sobre conceitos vagos e que trouxe uma apresentação que mais parecia de um aluno primário”, disse Calero. O parlamentar fez um apelo direto a Bolsonaro: “Demita o ministro”.
Na noite desta quarta, a jornalista Eliane Cantanhêde, da GloboNews, afirmou que o presidente Bolsonaro já havia decidido demitir Vélez Rodriguez. No Twitter, Bolsonaro garantiu que se trata de mais uma fake news (veja abaixo).
Críticas e cobranças
Também no Senado, onde foi debater o pacote anticrime do governo federal, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, acabou sendo criticado e cobrado sobre a transferência de líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC), como Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, para a Penitenciária Federal de Brasília.
Moro ainda disse aos senadores que prefere desistir da tramitação do pacote anticrime, apresentado à Câmara no início de fevereiro, caso ocorra uma tentativa, por parte do Congresso, de retirar do projeto os pontos que tratam do combate à corrupção. Semana passada, ao cobrar celeridade na tramitação das medidas no Congresso, Moro acabou se desentendendo com Rodrigo Maia: piorando a crise institucional entre Planalto e Parlamento.
Desfecho com bate-boca
Mas nada melhor para medir a alta temperatura entre os dois poderes do que o desfecho do dia. Em declaração à TV Band, Bolsonaro disse que Rodrigo Maia estaria abalado por questões pessoais – uma referência à recente prisão do sogro do presidente da Câmara, o ex-ministro Moreira Franco, pela Lava Jato.
Maia reagiu de maneira contundente: “Bolsonaro está brincando de presidir o país. Está na hora de parar de brincadeira”. “Abalados estão os brasileiros que estão esperando desde 1º de janeiro que o governo comece a funcionar. São 12 milhões de desempregados, 15 milhões de brasileiros vivendo abaixo da linha da pobreza, e o presidente brincando de presidir o Brasil”, atacou.
O presidente da República contra-atacou: “Olha, se foi isso mesmo o que ele falou, eu lamento. Não é palavra de uma pessoa que conduz uma Casa. Muita irresponsabilidade. Brincar? Se alguém quiser que eu faça o que os presidentes anteriores fizeram, eu não vou fazer”.
O dia acabou (finalmente) com uma tréplica de Rodrigo Maia, que pediu ao presidente: “Pare, chega, peça ao entorno para parar de criticar. O Brasil perde. A bolsa está caindo, a expectativa dos investidores está ficando menor. Ninguém ganha com isso. Vamos governar”, declarou Maia.